— O Hotel dos Imigrantes, primeira parada para os milhões de
imigrantes que vieram para a Argentina nos séculos XIX e XX. O governo
alojava-os aqui até conseguirem encontrar trabalho e um sitio para viver.
Agora, os Serviços de Imigração usam o edifício como armazém.
— Para quê?
Ramirez abriu o porta-luvas e retirou luvas de látex e máscaras
assépticas.
— Não é o local mais limpo do mundo. Espero que não tenha medo
de ratos.
Gabriel levantou o trinco e atirou o ombro contra a porta. Ao fundo
da rua, Chiara desligou o motor da motocicleta e sentou-se à espera.
UM POLICIAL ABORRECIDO vigiava a entrada. Uma moça de
uniforme estava sentada em frente a um ventilador na mesa do arquivista,
lendo uma revista de moda. Empurrou o livro de registro pela mesa
empoeirada. Ramirez assinou e acrescentou a hora. Foram-lhes dados dois
cartões plastificados com molas. Gabriel era o nº 165. Depois de prendê-lo
no topo do bolso da camisa, seguiu Ramirez em direção ao elevador.
— Duas horas até fechar — gritou a moça; em seguida virou outra
página da sua revista.
Entraram num monta-cargas. Ramirez fechou a porta de grades e
carregou no botão para o último andar. O elevador subiu lentamente. Um
momento mais tarde, quando estremeceu para parar, o ar estava tão
quente e carregado de pó que era difícil respirar. Ramirez colocou as luvas
e a máscara. Gabriel fez o mesmo.
O espaço onde entraram tinha o comprimento de aproximadamente
dois quarteirões e estava preenchido com intermináveis fileiras de estantes
de metal entortadas sob do peso de caixas de madeira. Das janelas partidas
vinham muitas vezes gaivotas. Gabriel conseguiu ouvir o arranhar de
pequeninos pés com garras e o miar de uma luta de gatos. O cheiro a pó e a
papel apodrecido atravessavam a máscara de proteção. O arquivo
subterrâneo da Anima parecia um paraíso comparado com este local
imundo.
— O que é isto?
— As coisas que Perón e os seus sucessores de governo se
esqueceram de destruir. Esta sala contém os cartões de imigração de cada
passageiro que desembarcou no porto de Buenos Aires entre os anos vinte
e os anos setenta. No andar debaixo estão os manifestos dos passageiros de