Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

aviso de dez minutos. Gabriel tinha apenas procurado até 1972. Não queria
voltar amanhã. Acelerou o ritmo.
A tempestade parou tão subitamente como começou. O ar estava
mais fresco e limpo. Estava tudo calmo, exceto pelo som da água a escorrer
pelas goteiras. Gabriel continuou a procurar: 1973... 1974... 1975... 1976...
Não havia mais passageiros chamados Krebs. Nada.
A moça voltou, desta vez para os pôr na rua. Gabriel carregou a
última caixa de volta para a prateleira, quando viu Ramirez e a moça a
conversar em espanhol.
— Alguma coisa? — perguntou Gabriel.
Ramirez abanou a cabeça.
— Até onde foi?
— Até o fim. Você? Gabriel disse-lhe:
— Acha que vale a pena voltar amanhã?
— Provavelmente não. — Colocou a mão no ombro de Gabriel.
— Venha daí, eu pago uma cerveja.
A moça recebeu os crachás plastificados e acompanhou-os pelo
monta-cargas abaixo. A janela do Sirocco tinha ficado aberta. Gabriel,
abatido pelo fracasso, sentou-se no banco ensopado do carro. O fragor
ruidoso do carro abalou o silêncio da rua. Chiara seguiu-os. Sua roupa
estava encharcada pela chuva.
A dois quarteirões dos arquivos, Ramirez alcançou o bolso da
camisa e exibiu um cartão de imigração.
— Anime-se, Monsieur Duran — disse ele, entregando o cartão a
Gabriel. — Por vezes, na Argentina, compensa usar as mesmas táticas
dissimuladas dos homens do poder. Só há uma fotocopiadora naquele
edifício e é a moça que a controla. Ela teria feito uma cópia para mim e
outra para o seu superior.
— E se Otto Krebs ainda está vivo e na Argentina, teria muito
provavelmente sido avisado que andamos a sua procura.
— Exatamente.
Gabriel ergueu o cartão.
— Onde estava?
— Mil, novecentos e quarenta e um. Parece que Cheia enfiou-o na
caixa errada.
Gabriel olhou para o cartão e começou a ler. Otto Krebs chegou a
Buenos Aires em dezembro de 1963 num barco oriundo de Atenas.
Ramirez apontou para um número escrito à mão na base do cartão:
245276/62.

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