Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

caminho, a água escondia-se por trás da densa floresta. Então Gabriel fazia
uma curva ou o arvoredo adelgaçava subitamente e o lago aparecia por
momentos diante deles, num súbito brilho azul, apenas para desaparecer
novamente por trás de um muro de troncos.
Gabriel contornou a zona mais a sul do lago e abrandou por
instantes para observar um grupo de condores gigantes circundando o pico
indefinido do Cerro López. Seguiu um trilho de uma só faixa através de um
planalto exposto, coberto por pequenos espinheiros verde-cinza e
conjuntos de árvores Arrayan. Nos prados altos, rebanhos de robustas
ovelhas patagônias pastavam nas relvas de Verão. À distância, na direção
da fronteira chilena, relâmpagos tremeluziam por cima dos picos dos
Andes.
Quando chegaram a Puerto Blest, o sol já se tinha posto e a vila
estava escura e sossegada. Gabriel entrou num café para perguntar
direções. O bartender, um homem baixo de rosto corado, saiu para a rua e
com uma série de gestos apontou-lhe o caminho.


NESSE MESMO CAFÉ, numa mesa perto da porta, o Relojoeiro bebia
uma cerveja pela garrafa e observava a conversa que ocorria na rua.
Reconheceu o homem magro de cabelo preto curto e patilhas acinzadas.
Sentado no lugar do morto do Toyota todo-o-terreno estava uma mulher de
longo cabelo escuro. Teria sido ela quem lhe pusera uma bala no ombro em
Roma? Não tinha grande importância. Mesmo que não fosse, em breve
estaria morta.
O israelense subiu para o volante do Toyota e afastou-se. O
bartender voltou para dentro.
O Relojoeiro perguntou em alemão:
— Para onde vão aqueles dois?
O bartender respondeu-lhe na mesma língua.
O Relojoeiro terminou a cerveja e deixou dinheiro na mesa. Mesmo
o menor movimento, como tirar notas do bolso do casaco, fazia o seu
ombro pulsar e arder. Saiu para a rua e deixou-se estar por um momento a
apanhar o ar fresco do fim de tarde, então virou-se e caminhou lentamente
em direção à igreja.


A IGREJA DE Nossa Senhora da Montanha ficava na zona ocidental
da vila, uma pequena igreja colonial caiada com um sino na torre do lado
esquerdo do pórtico. Em frente da igreja existia um pátio de pedra,
ensombrado por duas árvores altas e cercado por uma vedação em ferro.

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