Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

um ar burlesco ao caso. O sereno olhar de Carter pousou brevemente em
Chiara, como se ela fosse um penetra para quem tivesse de ser arranjado
um local extra. Não fez nenhuma tentativa de suprimir o sobrolho.
— Estava com esperança de manter isto a um nível muito sênior
disse Carter. A sua voz era fraca; para o ouvir era preciso estar em silêncio
e escutar com atenção. — Estava também com esperança de conter a
distribuição do material que estou prestes a partilhar convosco.
— Ela é a minha parceira — disse Gabriel. — Ela sabe de tudo e não
vai deixar a sala.
Os olhos de Carter moveram-se lentamente de Chiara para Gabriel.
— Temo-lo sob observação já há algum tempo; desde a sua chegada
a Viena, para ser mais preciso. Apreciamos especialmente a sua visita ao
Café Central, confrontando Vogel cara-a-cara como se fosse uma requintada
peça de teatro.
— Na verdade, foi Vogel que me confrontou a mim,
— Esse é o estilo de Vogel.
— Quem é ele?
— Você é que tem andado à pesca. Porque não me diz você?
— Eu acredito que ele seja um assassino das SS chamado Erich
Radek e, por alguma razão, vocês estão a protegê-lo. Se tivesse de adivinhar
porquê, diria que é um dos seus agentes.
Carter colocou uma mão no ombro de Gabriel.
— Venha — disse. — Obviamente que está na hora de termos uma
conversa.


A SALA DE ESTAR era iluminada por uma lâmpada e cheia de
sombras. Uma ampla fogueira ardia na lareira, um termo de café assentava
no aparador. Carter serviu-se de um pouco antes de se sentar numa
poltrona com indiferença pretensiosa. Gabriel e Chiara partilharam o sofá
enquanto Shamron andava de um lado para o outro, uma sentinela com
uma longa noite pela frente.
— Quero lhe contar uma história, Gabriel — começou Carter. — É a
história de um país que foi arrastado para uma guerra na qual não queria
participar, um país que derrotou o maior exército que o mundo alguma vez
tinha visto, apenas para se encontrar, em poucos meses, num impasse
armado com o seu antigo aliado, a União Soviética. Com toda a honestidade,
estávamos borrados de medo. Sabe, antes da guerra, não tínhamos serviços
secretos, pelo menos nenhum a sério. Diabo, os seus serviços são tão

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