Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

outro hoteleiro que fosse bom faria o mesmo. Não gostava de italianos de
uma maneira geral, e a agressiva e exigente Elena rapidamente ganhou um
lugar de destaque na sua lista de clientes pouco considerados. Ela falava
alto ao telefone, um crime capital segundo ele, e parecia acreditar que só
por gastar grandes quantidades de dinheiro do seu patrão tinha direito a
privilégios especiais. Ela parecia conhecer bem o hotel. Fato estranho, já
que Herr Zigerli tinha memória de elefante e não se lembrava dela como
hóspede no Dolder. As suas exigências eram minunciosamente especificas.
Queria quatro suítes contiguas perto do terraço com vista para o campo de
golfe e para o lago. Quando Zigerli a informou que não seria possível —
duas mais duas, ou três mais uma, mas não quatro seguidas — perguntou
se os hóspedes podiam ser recolocados para a acomodar. Lamento, disse o
hoteleiro, mas o Dolder Grand não tem o hábito de transformar hóspedes
em refugiados. Ela decidiu optar por três suítes contiguas a uma quarta
mais ao fundo do corredor.
— As delegações vão chegar às duas da tarde de amanhã — disse
ela. — E gostariam de um almoço de trabalho leve.
Seguiram-se mais dez minutos de discussão sobre o que constituía
um "almoço de trabalho leve".
Quando o menu ficou completo, Elena atirou mais uma exigência.
Ela chegaria quatro horas antes das delegações, acompanhada pelo chefe
de segurança da Heller, para inspecionar os quartos. Assim que as
inspeções estivessem terminadas, não seria permitida a entrada de pessoal
do hotel, exceto se acompanhados pela segurança da Heller. Herr Zigerli
suspirou profundamente e concordou, em seguida desligou o telefone e,
com a porta do seu gabinete fechada e trancada, fez uma série de exercícios
de respiração para acalmar os nervos.
A manhã das negociações amanheceu cinza e fria. Os torreões
majestosos do Dolder furavam o cobertor de nevoeiro gelado, e o asfalto
perfeito da entrada brilhava como granito preto polido. Herr Zigerli estava
de guarda no lobby, mesmo por trás das reluzentes portas de vidro, pés à
largura dos ombros, mãos de lado, preparado para a batalha. Ela vai
atrasar-se, pensou. Atrasam-se sempre. Ela vai precisar de mais suites. Ela
vai querer mudar o menu. Ela vai ser perfeitamente horrível.
Um Mercedes sedã preto deslizou até a entrada e parou à porta.
Herr Zigerli olhou discretamente para o relógio de pulso. Precisamente dez
horas. Impressionante. O paquete abriu a porta traseira e uma lustrosa
bota preta emergiu — Bruno Magli, reparou Zigerli — seguido por um
torneado joelho e coxa. Herr Zigerli balançou para a frente nas pontas dos

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