Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

pés e alisou o cabelo sobre a zona careca. Já tinha visto muitas belas
mulheres pairando pela famosa entrada do Dolder Grand, mesmo assim,
poucas a tinham passado com mais graça e estilo que a encantadora Elena
da Heller Enterprises. Ela tinha o cabelo acastanhado, preso por um gancho
na nuca, e pele da cor do mel. Os seus olhos castanhos salpicados de
dourado pareciam ter ganho ainda mais brilho quando lhe apertou a mão. A
sua voz, tão alta e exigente pelo telefone, era agora suave e arrebatadora,
assim como o seu sotaque italiano. Ela largou-lhe a mão e voltou-se para o
acompanhante pouco sorridente.
— Herr Zigerli, este é o Oskar. O Oskar é segurança.
Aparentemente, o Oskar não tinha apelido. Nem precisava, pensou
Zigerli. Ele tinha a constituição de um lutador de wrestling, com cabelo
ruivo claro e sardas vagas espalhadas pelas largas bochechas. Herr Zigerli,
um observador treinado da condição humana, viu qualquer coisa de
familiar em Oskar. Um colega de tribo, por assim dizer. Ele conseguia
imaginá-lo há dois séculos atrás, nas roupas de um lenhador, caminhando
pesadamente por um trilho pela Floresta Negra. Como todos os bons
seguranças, Oskar deixou os olhos falarem por si, e os seus olhos disseram
a Herr Zigerli que ele estava ansioso por começar o trabalho.
— Eu levo-os aos seus quartos — disse o hoteleiro. — Por favor
sigam-me. Herr Zigerli decidiu levá-los pela escada em vez do elevador. Era
um dos mais finos atributos do Dolder, e Oskar, o lenhador, não parecia ser
do tipo que prefere esperar pelos elevadores quando há um lanço de
escadas para subir. Os quartos eram no quarto piso. No patamar, Oskar
estendeu a mão para receber os cartões eletrônicos.
— A partir daqui é conosco se não se importa. Não é necessário
mostrar-nos o interior dos quartos. Já todos estivemos em hotéis antes.
Uma piscadela cúmplice, uma palmadinha no ombro.
— Indique-nos apenas para onde é. Ficamos bem.
De fato, ficarão, pensou Zigerli. Oskar era um homem que inspirava
confiança a outros homens. Mulheres também, Zigerli suspeitou. Ponderou
se a deliciosa Elena — ele já começava a pensar nela como a sua Elena —
seria uma das conquistas de Oskar. Colocou os cartões eletrônicos na palma
da mão de Oskar e indicou-lhes o caminho.
Herr Zigerli era um homem de muitas máximas : "Um cliente
sossegado é um cliente satisfeito" estava entre as suas preferidas. E a partir
daí interpretou o subsequente silêncio no quarto piso como prova que
Elena e o seu amigo Oskar estavam satisfeitos com as acomodações. Isto,
por sua vez, satisfazia Herr Zigerli. Ele agora gostava de fazer Elena feliz.

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