Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

Conforme foi continuando pelo resto da manhã, ela estava-lhe na cabeça,
como o traço de essência que se lhe tinha colado à mão.
Ele encontrou-se ansioso por algum problema, alguma queixa
disparatada que requeresse contato com ela. Mas não houve nada, apenas o
silêncio da perfeição. Ela tinha o Oskar agora. Ela não tinha necessidade do
coordenador de eventos especiais do melhor hotel da Europa. Herr Zigerli,
uma vez mais, tinha feito o seu trabalho bem demais.
Não ouviu nada deles, nem os viu, até as duas da tarde quando se
reuniram na recepção e formaram uma improvável comissão de boas-
vindas para as delegações que chegavam. Havia agora neve a cair no pátio
frontal. Zigerli acreditava que o mau tempo apenas realçava o encanto do
hotel: um abrigo da tempestade, como a própria Suíça.
A primeira limusina parou na entrada e largou dois passageiros.
Um era o próprio Herr Rudolf Heller, um homem baixo e velho, vestindo
um dispendioso terno preto e gravata prateada. Os seus óculos
ligeiramente fumados sugeriam um problema na visão; o seu passo rápido
e impaciente deixava a impressão de que, apesar da idade avançada, ele era
um homem capaz de cuidar de si próprio. Herr Zigerli deu-lhe as boas-
vindas ao Dolder e apertou-lhe a mão. Parecia feita de pedra. Estava
acompanhado pelo carrancudo Herr Keppelmann. Vinte e cinco anos mais
novo que Heller, cabelo curto, grisalho nas têmporas, olhos muito verdes.
Herr Zigerli já tinha visto uma boa quantidade de guarda-costas no Dolder,
e Herr Keppelmann parecia encaixar no perfil. Calmo, mas vigilante,
silencioso como um rato de sacristia, seguro no passo e forte. Os olhos cor
de esmeralda eram serenos, mas em constante movimento. Herr Zigerli
olhou para Elena e reparou que o seu olhar estava fixado em Herr
Keppelmann. Talvez ele se tivesse enganado sobre Oskar. Talvez o
taciturno Keppelmann fosse o homem mais sortudo do mundo.
Os americanos chegaram a seguir: Brad Cantwell e Shelby
Somerset, o CEO e COO da System Communications, Inc., de Reston,
Virgínia. Notava-se sofisticação que Zigerli não costumava ver em
americanos. Não eram exageradamente amigáveis, nem estavam a bramir
para os celulares quando entraram na recepção.
Cantwell falou alemão assim como Herr Zigerli e evitou cruzar o
olhar. Somerset era o mais afável dos dois. O seu tom aristocrático, o blazer
azul bastante viajado e a gravata às riscas ligeiramente amarrotada
identificavam-no como um yuppie Oriental.
Herr Zigerli fez alguns comentários de boas-vindas, e depois recuou
calmamente para segundo plano. Era algo que ele fazia excepcionalmente

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