competia a nós dar-lhes outra oportunidade de justificarem o massacre de
inocentes.
Baixou a mão e inclinou-se sobre a mesa. Foi nessa altura que
contou a Gabriel os desejos do primeiro-ministro. Enquanto conversava, a
sua respiração gelava perante ele.
— Eu não quero matar um velho — disse Gabriel.
— Ele não é um velho. Ele usa as roupas de um velho e esconde-se
por trás do rosto de um velho, mas ele ainda é Erich Radek, o monstro que
matou uma dúzia de homens em Auschwitz porque não conseguiram
identificar uma peça de Brahms. O monstro que matou duas moças à beira
de uma estrada polonesa porque não quiseram negar as atrocidades de
Birkenau. O monstro que abriu as campas de milhões e sujeitou os seus
cadáveres a uma humilhação final. A velhice não perdoa tais pecados.
Gabriel levantou os olhos e fitou o olhar insistente de Shamron.
— Eu sei que ele é um monstro. Eu só não quero matá-lo. Eu quero
que o mundo saiba o que este homem fez.
— Então é melhor preparares-te para a batalha com ele. —
Shamron olhou para o seu relógio de pulso. — Mandei vir uma pessoa para
te ajudar. De fato, deve estar mesmo a chegar.
— Porque só agora estou a saber disso? Pensava que era eu que
tomava todas as decisões operacionais.
— E és — disse Shamron. — Mas por vezes eu tenho de mostrar o
caminho. É para isso que servem os velhos.
NEM GABRIEL NEM Shamron acreditavam em prenúncios ou
presságios. Se acreditassem, a operação que trouxe Moshe Rivlin de Yad
Vashem até a casa segura em Munique teria lançado dúvidas sobre a
capacidade da equipe para levar a cabo a tarefa que tinham pela frente.
Shamron queria que Rivlin fosse contatado discretamente.
Infelizmente, King Saul Boulevard confiou o trabalho a um par de
aprendizes acabados de sair da academia, ambos nitidamente de aparência
sefardita. Decidiram contatar Rivlin enquanto este caminhava de Yad
Vashem para o seu apartamento perto do mercado Yehuda. Rivlin, que
tinha sido criado na zona de Bensonhurts no Brooklyn e ainda era vigilante
quando caminhava pela rua, rapidamente notou que estava a ser seguido
por dois homens de carro. Presumiu que fossem homens-bomba do Hamas
ou um par de criminosos de rua. Quando o carro parou ao lado dele e os
seus ocupantes pediram para falar, Rivlin desatou a correr como um louco.