Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

O AUDI SEDÃ PRETO com uma antena alta montada na bagageira
estava estacionado a algumas ruas de distância. Zalman estacionou atrás,
saiu e caminhou até a porta do passageiro. Oded estava sentado ao volante,
um homem compacto com olhos castanhos claros e um nariz achatado de
pugilista. Zalman, enquanto se instalava ao seu lado, conseguia cheirar
tensão na sua respiração. Zalman tinha a vantagem de ter estado em
atividade toda a tarde; Oded tinha estado preso no apartamento seguro de
Viena sem nada para fazer exceto imaginar as consequências de um
fracasso. Um celular estava no assento, a ligação com Munique já estava
estabelecida. Zalman conseguia ouvir a respiração uniforme de Shamron.
Uma imagem formou-se na sua mente: uma versão mais jovem de Shamron
marchando na sua direção sob uma chuva torrencial na Argentina,
Eichmann descendo de um ônibus e caminhando para ele vindo da direção
oposta. Oded ligou o carro. Zalman foi arrastado de volta ao presente.
Olhou para o relógio no painel de instrumentos: 17:03...


A E461, MAIS conhecida pelos austríacos como a Brünnerstrasse, é
uma estrada de duas faixas que vem do Norte de Viena e atravessa as
onduladas colinas do Weinviertel, a região de vinhos austríaca. São oitenta
quilômetros até a fronteira checa. Há uma passagem-de-nível, abrigada por
um dossel em abóbada, chefiada por dois relutantes guardas em abandonar
o conforto do seu abrigo de alumínio e vidro para levar a cabo qualquer
inspeção dos veículos que passam. Do lado checo da passagem-de-nível, a
inspeção de documentos de viagem leva normalmente um pouco mais de
tempo, embora o tráfego vindo da Áustria seja normalmente recebido de
braços abertos. A um quilômetro e meio para lá da fronteira, ancorada nas
colinas da Morávia do Sul, fica a antiga cidade de Mikulov. É uma cidade
fronteiriça, com as caraterísticas de cerco de uma cidade fronteiriça. E
ajustava-se perfeitamente ao estado de espírito de Gabriel. Ele estava por
trás de um parapeito de tijolo de um castelo medieval, bem por cima dos
telhados de telha vermelha da velha cidade, por baixo de um par de
pinheiros dobrados pelo vento. A chuva fria caía como lágrimas na
superfície da sua gabardina de oleado. O seu olhar estendia-se colina
abaixo, em direção à fronteira. Na escuridão, apenas as luzes do tráfego na
autoestrada eram visíveis, luzes brancas surgindo na sua direção, luzes
vermelhas afastando-se na direção da fronteira austríaca.
Olhou para o relógio. Eles estariam dentro da casa de Radek neste
instante. Gabriel conseguia imaginar pastas abrindo-se, café e bebidas

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