sendo servidas. E então outra imagem apareceu, uma fila de mulheres
vestidas de cinza, caminhando ao longo de uma estrada com neve e
ensopada de sangue. A sua mãe, vertendo lágrimas de gelo.
— O que vai dizer a seu filho sobre a guerra, judia?
— A verdade, Herr Sturmbannführer. Direi ao meu filho a verdade.
— Ninguém vai acreditar em você.
Ela não lhe disse a verdade, claro. Em vez disso tinha confiado a
verdade ao papel e trancado nos arquivos de Yad Vashem. Talvez Yad
Vasehm fosse o local ideal para ela. Talvez existam verdades que, de tão
aterradoras, fiquem melhor se confinadas num arquivo de horrores, em
quarentena, separadas das não infectadas. Ela não pôde contar que fora
vítima de Radek, como Gabriel não podia dizer que era o carrasco de
Shamron. Ela sempre soube, no entanto.
Ela conhecia o rosto da morte, e ela tinha visto a morte nos olhos de
Gabriel. O telefone no bolso de seu casaco vibrou silenciosamente contra a
anca. Ele levou-o lentamente à orelha e ouviu a voz de Shamron. Guardou o
telefone no bolso e deixou-se estar por um momento, observando os faróis
flutuando na sua direção através da negra planície austríaca.
— O que vai dizer quando estiver com ele? — perguntara Chiara.
A verdade, Gabriel pensava agora. Eu direi a verdade.
Começou a caminhada, descendo as estreitas ruas de pedra de uma
cidade antiga, em direção ao escuro.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1