Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

— É muito modesto. — Girou a bebida. — Você fez um trabalho
para um amigo meu há alguns anos, um cavalheiro chamado Helmut
Schneider.
E tu estás a tentar armadilhar-me, pensou Navot. Ele tinha-se
preparado para um estratagema destes. O verdadeiro Oskar Lange tinha-
lhe fornecido uma lista de clientes dos últimos dez anos para Navot
memorizar. O nome Helmut Schneider não estava nela.
— Lidei com um bom número de clientes durante os últimos anos,
mas temo que o nome Schneider não esteja entre eles. Talvez o seu amigo
me tenha confundido com outra pessoa.
Navot olhou para baixo, abriu os trincos da sua pasta e levantou a
tampa. Quando voltou a levantar o olhar, os olhos azuis de Radek estavam
perfurantes nos seus e a sua bebida rodava no braço da cadeira. Havia uma
tranquilidade assustadora nos seus olhos. Era como estar a ser estudado
por um retrato.
— Talvez tenha razão. — O tom conciliatório de Radek não condizia
com a sua expressão. — Konrad disse que precisava da minha assinatura
nalguns documentos relacionados com a liquidação dos bens da conta.
— Sim, está correto.
Navot retirou um dossier da pasta e colocou a pasta no chão aos
seus pés. Radek acompanhou a viagem da pasta para baixo e devolveu o
seu olhar ao rosto de Navot. Navot levantou a capa do dossier e elevou o
olhar. Abriu a boca para falar, mas foi interrompido pelo tocar do telefone.
Agudo e eletrônico, soou aos ouvidos sensíveis de Navot como um grito
num cemitério. Navot olhou para a mesa estilo Biedermeier, e o telefone
tocou uma segunda vez. Começou a tocar uma terceira vez, mas ficou
subitamente em silêncio, como se tivesse sido amordaçado a meio do grito.
Navot conseguia ouvir Halder, o guarda-costas, falando numa extensão do
corredor.
— Boa tarde. .. Não, peço desculpa, mas Herr Vogel está neste
momento em reunião. Navot retirou o primeiro documento do dossier.
Radek estava agora visivelmente distraído, o seu olhar distante. Estava a
ouvir o som da voz do seu guarda-costas. Navot chegou-se à frente na
cadeira e segurou o papel num ângulo que permitisse a Radek ver.
— Este é o primeiro documento que necessita...
Radek levantou a mão exigindo silêncio. Navot ouviu passadas no
corredor, seguido do som de portas a abrir. O guarda-costas entrou na sala
e dirigiu-se à beira de Radek.
— É Manfred Kruz — disse ele num sussurro capelista. — Ele quer-

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