Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

vienense chegam-lhe aos ouvidos. Ao contrário de muitos dos seus
compatriotas, o simples som do alemão falado não o deixava nervoso. O
alemão era a sua primeira língua e continuava a ser a língua dos seus
sonhos. Falava-o perfeitamente, com o sotaque berlinense da sua mãe.
Chegou ao inicio da fila. Um Mercedes branco aproximou-se para o
recolher. Gabriel decorou a matricula antes de entrar para o banco de trás.
Colocou o saco no assento e deu ao motorista uma morada a algumas ruas
de distância do hotel onde tinha reserva.
O táxi precipitou-se pela via rápida, através de uma feia zona
industrial de fábricas, centrais elétricas e gasodutos. Pouco depois, Gabriel
avistou o topo iluminado da catedral de Santo Estêvão, como uma miragem
sobre o centro da cidade. Ao contrário da maioria das cidades europeias,
Viena tinha-se mantido intata e livre da influência urbana nociva. De fato,
muito pouco da sua aparência e estilo de vida tinham mudado desde há um
século, quando fora o centro administrativo de um império que se estendia
da Europa Central aos Balcãs. Ainda era possível comer um bolo com creme
no Demel da parte da tarde ou tomar um café demorado e ler um jornal no
Landtmann ou no Central. No centro da cidade era melhor abandonar o
carro e apanhar o elétrico ou andar a pé pelas reluzentes avenidas
pedestres alinhadas de arquitetura barroca e gótica e lojas exclusivas. Os
homens ainda usavam ternos verde-escuro e chapéu tirolês com uma pena
na aba; as mulheres ainda consideravam moda andar vestidas à
camponesa. Brahms disse que escolhera Viena porque preferia trabalhar
numa aldeia. Ainda era uma aldeia, pensou Gabriel, com o desprezo aldeão
à mudança e o despeito aldeão a estranhos. Para Gabriel, Viena seria
sempre uma cidade de fantasmas.
Foram dar à Ringstrasse, a avenida larga que circula o centro da
cidade. O belo rosto de Peter Metzler, o candidato a presidente do conselho
de ministros do Partido Nacional Austríaco da extrema-direita, sorriu a
Gabriel por entre os postes de luz que passavam. Era época de eleições e a
avenida estava pejada de cartazes de campanha. A campanha bem
financiada de Metzler claramente não tinha olhado a despesas. A sua cara
estava por toda a parte, o seu olhar era inevitável. Bem como o seu slogan
de campanha:
EINE NEUE ORDNUNG FÜR EINNEUES ÖSTERREICH! UMA NOVA
ORDEM PARA UMA NOVA ÁUSTRIA!
Os austríacos, pensou Gabriel, são sabem ser sutis.
Gabriel abandonou o táxi perto da casa da ópera estatal e caminhou
uma curta distância até uma rua estreita chamada Weihburggasse.

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