Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

Aparentemente ninguém o seguia, embora ele soubesse por experiência
que espiões habilidosos eram quase impossíveis de detectar. Entrou num
pequeno hotel. O recepcionista, quando viu o seu passaporte israelense,
adoptou uma postura séria e murmurou umas palavras de simpatia sobre o
terrível bombardeamento no bairro judaico. Gabriel, no papel de Gideon
Argov, dispensou alguns minutos a conversar com o recepcionista em
alemão antes de subir as escadas até o seu quarto no segundo andar. Este
tinha o chão de madeira cor de mel e portas francesas com vista para um
escuro pátio interior. Gabriel afastou as cortinas e deixou o saco na cama,
bem à vista. Antes de sair, colocou um sinal na ombreira da porta que o
avisaria se alguém tivesse entrado no quarto durante a sua ausência.
Regressou à entrada do hotel. O recepcionista sorriu-lhe como se não o
visse há cinco anos, em vez de há cinco minutos. Lá fora tinha começado a
nevar. Caminhou pelas ruas escuras do centro da cidade, verificando, nas
suas costas, se era seguido. Parou em frente a montras de lojas para
espreitar por cima do ombro, escondeu-se numa cabine telefônica fingindo
fazer uma chamada enquanto vasculhava em seu redor. Numa banca de
revistas comprou um exemplar do Die Presse, em seguida, umas centenas
de metros adiante, deitou-o num caixote do lixo. Finalmente, convencido de
que não estava a ser seguido, entrou na estação de U-Bahn de
Stephansplatz.
Não tinha necessidade de consultar os mapas iluminados do
sistema de transportes de Viena, pois sabia-os de cor. Comprou um bilhete
na máquina automática, em seguida passou pelo torniquete e desceu à
plataforma. Embarcou numa carruagem e memorizou os rostos à sua volta.
Cinco paragens mais tarde, na Westbahnhof, transferiu-se para um trem da
zona norte na linha U6. O Hospital Geral de Viena tinha a sua própria
estação. Uma escada rolante elevou-o lentamente até um pátio coberto de
neve, a alguns passos da entrada principal, em Wàhringer Gurtel 18-20.
Um hospital ocupava esta pequena porção de terreno em Viena
ocidental há mais de trezentos anos. Em 1693, o Imperador Leopoldo I,
preocupado com o estado lamentável dos pobres da cidade, ordenara a
construção da Casa para os Pobres e Inválidos. Um século mais tarde, o
Imperador José II rebatizou as instalações de Hospital Geral para os
Doentes. O antigo edifício ficou, algumas ruas acima na Alserstrasse, mas à
sua volta nasceu um moderno complexo universitário hospitalar espalhado
por vários quarteirões da cidade. Gabriel conhecia-o bem.
Um homem da embaixada estava abrigado no pórtico, por baixo de
uma inscrição onde se lia:

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