fornecido pelo Escritório. Todas as noites, trancava o computador num
cofre de chão, escondido sob o sofá da sala de estar. Não tinha qualquer
experiência de escrita, por isso, por instinto, fez a aproximação ao projecto
como se de uma pintura se tratasse. Começou com um esboço de base,
amplo e amorfo e então, lentamente, foi adicionando camadas de tinta.
Usou uma paleta simples e a sua técnica de traço foi cuidada. com o passar
dos dias, a cara de Radek voltou-lhe à memória com a clareza com que
havia sido pintada pela mão da sua mãe.
Usualmente, trabalhava até o princípio da tarde. Depois fazia uma
pausa e dava um passeio até o Hospital da Universidade de Hadassah, onde,
após um mês de coma, Eli Lavon estava a mostrar sinais de querer
regressar à consciência. Gabriel sentava-se junto de Lavon cerca de uma
hora e falava-lhe do caso. Depois voltava ao apartamento e trabalhava até a
noite.
No dia em que terminou o relatório, deixou-se ficar no Hospital até
o princípio da noite e, por acaso, estava lá quando os olhos de Lavon se
abriram. Lavon ficou a fixar o vazio por uns instantes; então a velha
expressão inquisidora voltou-lhe ao olhar e divagou pelo ambiente
desconhecido da sala do hospital até se fixar no rosto de Gabriel.
— Onde estamos? Viena?
— Jerusalém.
— O que é que estás aqui a fazer?
— Estou a trabalhar num relatório para o Escritório.
— Sobre o quê?
— Sobre a captura de um criminoso de guerra nazista chamado
Erich Radek.
— Radek?
— Ele estava a viver em Viena sob o nome de Ludwig Vogel. Lavon
sorriu.
— Conta-me tudo — murmurou, mas antes que Gabriel pudesse
dizer uma palavra, ele já tinha adormecido outra vez.
Nessa noite, quando Gabriel voltou ao apartamento, a luz do
atendedor de chamadas estava a piscar. Carregou no PLAY e a ouviu a voz
de Moshe Rivlin.
— O prisioneiro de Abu Kabir quer falar com você. Eu mandava-o
para o Inferno. Você é que sabe.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1