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JAFFA, ISRAEL
O CENTRO DE DETENÇÕES era cercado por um alto muro cor de
areia, com rolos de arame farpado no topo. Gabriel apresentou-se na
entrada exterior no inicio da manhã seguinte e foi admitido sem demora.
Para chegar ao interior, tinha de atravessar uma passagem vedada estreita,
que lhe lembrava demasiado a Estrada para o Paraiso em Treblinka. Um
guarda esperava-o na outra ponta. Silenciosamente, conduziu Gabriel pela
porta de segurança e depois para uma sala de interrogatórios sem janelas,
com paredes em blocos de betume. Radek estava sentado à mesa, imóvel,
vestido com um terno escuro e gravata, para prestar depoimento. Estava
algemado com os dedos cruzados sobre a mesa. Saudou Gabriel com um
aceno de cabeça quase imperceptível, mas permaneceu sentado.
— Tire-lhe as algemas — disse Gabriel ao guarda.
— É contra as regras.
Gabriel olhou para o guarda e, pouco depois, as algemas tinham
sido tiradas.
— Faz isso muito bem — disse Radek. — Isso foi mais uma
artimanha psicológica sua? Está tentando demonstrar seu domínio sobre
mim?
Gabriel puxou a cadeira de ferro e sentou-se.
— Não me parece que dadas as circunstâncias seja necessária uma
demonstração dessas.
— Suponho que esteja certo — disse Radek. — Mesmo assim,
admiro a forma como lidou com todo o caso. Eu gostaria de acreditar que
teria feito as coisas assim tão bem.
— Para quem? — perguntou Gabriel. — Para os americanos, ou
para os russos?
— Está se referindo às alegações feitas em Paris por aquele idiota
do Belov?
— São verdadeiras?
Radek fitou Gabriel em silêncio e por breves segundos parte do
velho olhar de aço regressou-lhe aos olhos azuis.