Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

SALUTI ET SOLATIO AEGRORUM: CURAR E CONSOLAR OS


DOENTES.


Era um diplomata baixo, com ar nervoso, chamado Zvi. Apertou a
mão de Gabriel e, após um breve exame de seu passaporte e cartão de
visita, lamentou a morte das duas colegas.
Entraram no hall principal. Estava deserto, com exceção de um
velho de barba branca rala sentado na ponta de um sofá, com os pés juntos
e as mãos sobre os joelhos, como um viajante que espera um trem atrasado.
Resmungava para dentro. À passagem de Gabriel, o velho olhou para cima e
os seus olhares cruzaram-se brevemente. Gabriel entrou, em seguida, num
elevador e o velho desapareceu atrás das portas deslizantes.
Quando as portas do elevador voltaram a abrir-se no oitavo andar,
Gabriel foi saudado pela visão agradável de uma israelense alta e loura de
tailleur e receptor na orelha. À entrada da unidade de cuidados intensivos
estava outro segurança. Um terceiro, pequeno, escuro e vestindo terno
amarrotado, estava à porta do quarto de Eli. Desviou-se para que Gabriel e
o diplomata pudessem entrar. Gabriel parou e perguntou por que não
estava a ser revistado.
— Está com Zvi. Não preciso de o revistar. Gabriel levantou os
braços.
— Reviste-me.
O segurança inclinou a cabeça e consentiu. Gabriel reconheceu o
padrão de revista. Era segundo as regras. A revista nos fundilhos foi mais
intrusiva do que necessário, mas Gabriel estava a pedi-las.
Quando terminou disse:
— Reviste toda a gente que entrar neste quarto.
Zvi, o homem da embaixada, assistiu à cena. Obviamente já não
acreditava que o homem de Jerusalém fosse Gideon Argov, do Escritório de
Investigação e Reclamações do Tempo da Guerra. Gabriel pouco se
importava. O seu amigo estava deitado indefeso do outro lado da porta. Era
preferível fazer umas ondas a deixá-lo morrer por negligência.
Seguiu Zvi até dentro do quarto. A cama estava detrás de um
biombo de vidro. O paciente não se parecia muito com Eli, mas Gabriel não
ficou surpreendido. Como a maioria dos israelenses, ele já testemunhara o
que uma bomba faz a um corpo humano. O rosto de Eli estava oculto pela
máscara de um ventilador, os olhos cobertos com gaze, a cabeça cheia de
ligaduras. A parte exposta das bochechas e queixo revelavam os efeitos do

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