Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

tinha lá vivido com os pais e duas irmãs mais novas. O pai, Solomon, era um
bem-sucedido comerciante de têxteis, e os Klein viviam uma simpática
existência de classe média-alta: lanches nas melhores pastelarias de Viena,
serões no teatro ou na ópera, verões na modesta casa de campo da família
no sul. O jovem Max Klein era um violinista promissor -Ainda não estava
pronto para a sinfonia ou para a ópera, Sr. Argov, mas já era bom o
suficiente para encontrar trabalho em pequenas orquestras de câmara
vienenses.
— O meu pai, mesmo quando vinha cansado de trabalhar o dia
todo, raramente perdia um concerto. — Klein sorriu pela primeira vez com
a memória do seu pai a vê-lo tocar. — O fato de ter um filho músico em
Viena deixava-o extremamente orgulhoso.
O seu mundo idílico teve um fim abrupto a 12 de Março de 1938.
Era sábado — lembrou Klein — e para a esmagadora maioria dos
austríacos, a visão das tropas da Wehrmacht a marchar pelas ruas de Viena
era motivo de celebração.
— Para os judeus, Sr. Argov... para nós, apenas pavor.
Os piores medos da comunidade foram rapidamente concretizados.
Na Alemanha, a ameaça aos judeus tinha sido empreendida gradualmente.
Na Áustria, foi instantânea e selvagem. Em dias, todos os negócios judeus
foram marcados com tinta vermelha. Todo o não judeu que entrasse era
agredido por Camisas Castanhas e SS. Muitos eram obrigados a usar placas
que declaravam: Eu, ariano porco, comprei numa loja judaica. Os judeus
foram proibidos de ter propriedade, de ter emprego em qualquer profissão
ou de empregar alguém, de entrar num restaurante ou pastelaria, de pisar
os parques públicos de Viena. Os judeus foram proibidos de possuir
máquinas de escrever ou rádios, porque isto poderia facilitar a
comunicação com o mundo exterior. Os judeus foram arrastados das suas
casas e sinagogas e espancados nas ruas.
— A 14 de Março, a Gestapo arrombou a porta deste apartamento e
roubou os nossos bens mais valiosos: as nossas mantas, a nossa prata, os
nossos quadros, até os nossos castiçais shabat. O meu pai e eu fomos
levados sob custódia e forçados a esfregar os passeios com água a ferver e
uma escova de dentes. O rabi da nossa sinagoga foi atirado violentamente
para a rua e a sua barba arrancada do rosto enquanto uma multidão de
austríacos olhava e zombava. Tentei impedi-los e fui espancado quase até a
morte. Não podia ser levado a um hospital, claro. Era proibido pelas novas
leis antissemitas.
Em menos de uma semana, a comunidade judaica da Áustria, uma

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