Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

das mais vitais e influentes de toda a Europa, foi feita em farrapos: centros
comunitários e sociedades judaicas foram fechados, lideres na cadeia,
sinagogas fechadas, livros de rezas queimados em grandes fogueiras ao ar
livre. A 1 de Abril, cem figuras públicas notáveis foram deportadas para
Dachau. Num mês, quinhentos judeus optaram pelo suicídio a ter de
enfrentar mais um dia de tormento, incluindo uma família de quatro
elementos, vizinha dos Klein.
— Mataram-se, um de cada vez — disse Klein. — Deitei-me na cama
e ouvi tudo. Um tiro, seguido de choro. Outro tiro, mais choro. Depois do
quarto tiro, não havia mais ninguém para chorar, ninguém exceto eu.
Mais de metade da comunidade decidiu deixar a Áustria e emigrar
para outras terras. Max Klein estava entre eles. Conseguiu um visto para a
Holanda e viajou para lá em 1939. Em menos de um ano já estava debaixo
da bota nazista outra vez.
— O meu pai decidiu ficar em Viena — disse Klein. — Acreditava na
lei, está vendo. Pensou que se simplesmente aderisse à lei, tudo iria correr
bem, e a tempestade iria passar mais cedo ou mais tarde. Piorou, claro, e
quando finalmente decidiu sair, já era demasiado tarde.
Klein tentou servir-se de mais uma xícara de chá, mas a sua mão
tremia violentamente. Gabriel serviu-o gentilmente e perguntou o que
tinha acontecido aos pais e às duas irmãs.
— No Outono de 1941, foram deportados para a Polônia e
confinados no gueto judeu de Lodz. Em Janeiro de 1942, foram deportados
pela derradeira vez para o campo de extermínio de Chelmno.
— E você?
A cabeça de Klein descaiu para o lado.
— E eu?
A mesma sorte, final diferente. Preso em Amsterdã em Junho de
1942, detido no campo de trânsito de Westerbork, em seguida enviado
para leste, para Auschwitz. No caminho-de-ferro, meio-morto de sede e
fome, uma voz. Um homem com vestes de prisioneiro anda a perguntar se
há músicos no recém-chegado trem. Klein liga-se à voz, um homem perdido
em busca de uma tábua de salvação. Sou violinista, disse ao homem às
riscas. Tem algum instrumento? Levanta uma mala gasta, a única coisa que
tinha trazido de Westerbork. Venha comigo. Este é o seu dia de sorte.
— O meu dia de sorte — repetiu Klein de modo ausente. — Nos
dois anos e meio seguintes, enquanto mais de um milhão se esfuma, os
meus colegas e eu tocamos música. Tocamos na rampa de seleção para
ajudar os nazistas a criar a ilusão que os recém-chegados vieram para um

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