Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

tropeções de volta para Viena em 1945, apenas para serem saudadas com
hostilidade aberta e uma nova onda antissemita. Aqueles que emigraram
sob a ameaça de uma arma alemã sentiram-se desencorajados a voltar.
Exigências de restituição financeira eram respondidas com silêncio ou
eram sarcasticamente desviadas para Berlim. Klein, regressando à sua casa
no Segundo Bairro, encontrou uma família austríaca a viver no
apartamento. Quando lhes pediu que saíssem, recusaram-se. Levou uma
década até arrancá-los de lá. Quanto ao negócio têxtil de seu pai,
desaparecera para sempre e nenhuma restituição foi jamais efetuada.
Amigos encorajaram-no a ir para Israel ou para a América. Klein recusou.
Jurou permanecer em Viena, como uma memória viva, que respira, que
anda, para todos aqueles que foram expulsos ou assassinados nos campos
da morte. Deixou seu violino para trás, em Auschwitz, e nunca mais voltou
a tocar. Ganhava a vida trabalhando ao balcão de uma loja de tecidos, e
mais tarde como vendedor de seguros. Em 1995, no quinquagésimo
aniversário do fim da guerra, o governo concordou em pagar a cada judeu
austríaco sobrevivente seis mil dólares aproximadamente. Klein mostrou a
Gabriel o cheque. Nunca tinha sido descontado.
— Não quero o dinheiro deles — disse. — Seis mil dólares? Pelo
quê? Pela minha mãe e meu pai? Pelas minhas duas irmãs? Pela minha
casa? Pelos meus bens?

Jogou o cheque na mesa. Gabriel olhou o relógio de pulso e viu que
já eram duas e meia da manhã. Klein estava acabando, rodeando o assunto
principal.
Gabriel resistiu ao impulso de lhe dar uma cotovelada, com medo
que o velho homem, no seu estado precário, pudesse tropeçar e não
recuperasse o passo.
— Há dois meses, parei no Café Central. Deram-me uma agradável
mesa junto a um pilar. Pedi um Pharisäer.
Fez uma pausa e levantou o sobrolho.
— Sabe o que é um Pharisäer., Sr. Argov? Café com chantilly e um
pequeno copo de rum.
Pediu desculpas pela bebida alcoólica.
— Foi no fim da tarde, sabe, estava frio.
Um homem entra no café, alto, bem vestido, uns anos mais velho
que Klein.
— Um austríaco da velha escola, se me compreende, Sr. Argov. Há
uma arrogância no seu andar que faz com que Klein baixe o seu jornal. O
garçom apressa-se na sua direção para o cumprimentar enquanto esfrega

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