Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

as mãos avidamente, esperando passo a passo como um menino de escola
aflito para mijar. Boa tarde, Herr Vogel. Já estava a pensar que não o iria ver
hoje. A sua mesa do costume? Deixe-me adivinhar: um café com creme? E
que tal um doce? Disseram-me que a torta de chocolate está maravilhosa
hoje, Herr Vogel... Então o velho diz umas palavras e Max Klein sente a
espinha gelar. É a mesma voz que lhe ordenou que tocasse Brahms em
Auschwitz, a mesma voz que calmamente perguntou aos colegas de Klein
que identificassem a peça ou sofressem as consequências. E aqui estava o
assassino, próspero e saudável, pedindo um café com creme e uma torta de
chocolate no Central.
— Senti vontade de vomitar — disse Klein. — Joguei dinheiro na
mesa e corri para fora do Café. Olhei uma vez pela janela e vi o monstro
chamado Herr Vogel lendo o jornal. Foi como se o encontro nunca tivesse
acontecido na realidade.
Gabriel resistiu ao impulso de perguntar como, depois de tanto
tempo, Klein podia ter tanta certeza de que o homem do Café Central era o
mesmo de Auschwitz sessenta anos antes. Se Klein estava certo ou errado
não era tão importante como o que aconteceu a seguir.
— O que fez depois disso, Herr Klein?
— Tornei-me cliente regular do Café Central. Em breve, também eu
era cumprimentado pelo nome. Em breve, também eu tinha a mesa de
costume, bem ao lado do distinto Herr Vogel. Começamos a dar boa-tarde
um ao outro. Às vezes, enquanto líamos o jornal, conversávamos sobre
política e as coisas do mundo. Apesar da idade, sua mente era muito
aguçada. Disse-me que era um homem de negócios, investidor ou algo
assim.
— E quando soube o máximo que pôde tomando café ao lado dele,
foi ver Eli Lavon ao Escritório de Investigação e Reclamações do Tempo da
Guerra?
Klein anuiu lentamente com a cabeça.
— Ele ouviu a minha história e prometeu investigar. Entretanto
pediu que parasse de frequentar o Café Central. Fiquei relutante. Tinha
medo de que ele escapasse novamente. Mas fiz o que seu amigo pediu.
— E depois?
— Passaram-se algumas semanas. Finalmente recebo uma
chamada. Era uma das moças do escritório, a americana chamada Sarah.
Informou que Eli Lavon tinha novidades para mim. Pediu que fosse até o
escritório na manhã seguinte às dez. Disse-lhe que lá estaria, e desliguei o
telefone.

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