Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

mão esquerda enquanto a direita apertava firmemente a mão de Gabriel.
Não tinha anéis nos dedos, não tinha maquiagem no seu atraente rosto, e
nenhum outro perfume que não o cheiro do tabaco. Gabriel calculou que ela
ainda não teria chegado aos trinta e cinco. Voltaram a sentar-se, e ela
colocou uma série de questões bruscas ao estilo de advogado. Há quanto
tempo conhecia Eli Lavon? Como encontrara Max Klein? O que é que ele lhe
dissera? Quando chegara a Viena? Com quem se encontrara? Já discutira o
assunto com as autoridades austríacas? Com oficiais da embaixada
israelense? Gabriel sentiu-se um pouco como um acusado em tribunal,
contudo suas respostas eram educadas e tão exatas quanto possível.
Renate Hoffmann, completando o seu exame cruzado, fitou-o
incrédula por um momento. Em seguida levantou-se de repente e vestiu um
longo sobretudo cinza com grandes enchumaces.
— Vamos dar um passeio.
Gabriel olhou para a rua pelas janelas manchadas de fuligem e viu
que estava a cair neve misturada com chuva. Renate Hoffmann enfiou
algumas pastas dentro de uma mala de pele e colocou-a ao ombro.
— Confie em mim — disse, sentindo alguma apreensão por parte
dele. — É melhor se andarmos.


RENATE HOFFMAN, PELOS trilhos gelados da Augarten, explicou a
Gabriel como se havia tornado no trunfo mais precioso de Eli Lavon em
Viena. Depois de se formar como uma das melhores na Universidade de
Viena, fora trabalhar para o Ministério Público Austríaco, onde serviu
excepcionalmente durante sete anos. Então, há cinco anos, tinha-se
despedido, dizendo a amigos e colegas que ansiava pela liberdade da
prática privada. Na verdade, Renate Hoffmann tinha decidido que não
podia continuar a trabalhar para um governo que mostrava pouco
interesse pela justiça e preferia proteger os interesses do Estado e dos seus
mais poderosos cidadãos.
Foi o caso Weller que lhe motivou a decisão. Weller era um
detective da policia estatal com uma predileção para arrancar confissões a
prisioneiros pela tortura e para fazer justiça pelas próprias mãos quando o
tribunal se mostrava inconveniente. Renate Hoffmann tentou apresentar
queixa dele depois de um nigeriano que procurava asilo ter morrido sob a
sua custódia. O nigeriano fora amarrado e amordaçado e havia provas de
espancamento e estrangulamento. Os seus superiores defenderam Weller e
abandonaram o caso.
Cansada de lutar contra o sistema a partir de dentro, Renate

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