Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

garantir que os problemas do mundo não penetravam as fronteiras da
tranquila Österreich. O Departamento Cinco era responsável por
contraterrorismo, contra extremismo e contraespionagem. Manfred Kruz
tinha poder para colocar aparelhos de escuta em escritórios e telefones,
para abrir correio e providenciar vigilância física. Estrangeiros que viessem
à Áustria à procura de sarilhos podiam esperar a visita de um dos homens
de Kruz. Até os naturais da Áustria cujas atividades politicas divergissem
das linhas estabelecidas.
Havia pouca coisa a acontecer dentro do pais de que ele não
estivesse a par, incluindo a recente aparição em Viena de um israelense que
dizia ser colega de Eli Lavon do Escritório de Investigação e Reclamações
do Tempo da Guerra.
A natural falta de confiança de Kruz nas pessoas estendia-se à sua
secretária. Esperou até ela sair da sala para rasgar o envelope e sacudir a
foto na mesa. Caiu virada para baixo. Voltou-a, colocou-a sob a luz brilhante
do seu abajur de lâmpada alógena e examinou-a cuidadosamente. Kruz não
estava interessado em Renate Hoffmann. Ela era sujeita a vigilância
frequente pelo Departamento Cinco, e Kruz havia dispendido mais tempo
do que gostaria a estudar fotografias de vigilância e a escutar transcritos de
atividades nas instalações da Coligação para Uma Áustria Melhor. Não,
Kruz estava mais interessado na escura, compacta figura a caminhar a seu
lado, o homem que se dizia chamar Gideon Argov.
Passado um momento levantou-se e manuseou a fechadura do cofre
de parede por trás da sua mesa. No interior, no meio de uma pilha de
pastas de processos e um maço de cheirosas cartas de amor de uma moça
que trabalhara na contabilidade, estava a fita de um interrogatório. Kruz
olhou para a data na etiqueta -Janeiro 1991 em seguida inseriu a fita no
vídeo e carregou no botão PLAY.
A gravação tremeu durante alguns frames até estabilizar. A câmara
tinha sido montada num ponto alto num canto da sala de interrogatórios,
onde a parede se encontrava com o teto, para que observasse em direção
aos acontecimentos de um ângulo obliquo. A imagem tinha algum grão, a
tecnologia de outra geração. Movendo-se pela sala com uma calma
ameaçadora estava uma versão mais jovem de Kruz. Sentado na mesa de
interrogatório estava o israelense, as suas mãos enegrecidas pelo fogo, os
seus olhos pela morte. Kruz tinha quase a certeza tratar-se do mesmo
homem que agora dizia chamar-se Gideon Argov. Contrariamente ao
habitual, era o israelense, e não Kruz, que tinha a primeira pergunta. Agora,
como na altura, Kruz era apanhado de surpresa pelo alemão perfeito,

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