Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Não podia concordar mais. — Outro sorriso pouco humorístico.
— Tem a certeza de que não nos encontramos antes? A sua cara
parece-me bastante familiar.
— Duvido sinceramente.
— É novo no Central — disse Vogel com certeza. — Eu venho aqui
todas as tardes. Pode dizer-se que sou o melhor cliente do Karl. Eu sei que
nunca o vi aqui antes.
— Normalmente tomo o meu café no Sperl.
— Ah, o Sperl. O strudel deles é bom, mas o som das mesas de
bilhar afeta a minha concentração. Devo dizer, que sou fã do Central. Talvez
nos voltemos a encontrar.
— Talvez — disse Gabriel sem se comprometer.
— Havia um velho homem que costumava vir aqui com frequência.
Era mais ou menos da minha idade. Costumávamos ter agradáveis
conversas. Já há algum tempo que ele não aparece. Espero que esteja bem.
Quando se é velho, as coisas às vezes correm mal sem darmos conta.
Gabriel encolheu os ombros.
— Talvez se tenha mudado para outra pastelaria.
— Talvez — disse Vogel. Em seguida desejou a Gabriel uma boa
noite e caminhou para a rua. O guarda-costas seguiu-o discretamente.
Através do vidro, Gabriel viu um Mercedes avançar. Vogel disparou mais
um olhar na direção de Gabriel antes de se baixar para o banco traseiro. Em
seguida a porta fechou-se e o carro arrancou rapidamente.
Gabriel sentou-se por um momento, revendo os detalhes do
inesperado encontro. Em seguida pagou a conta e caminhou para o frigido
entardecer. Ele sabia que acabara de receber um aviso. Ele também sabia
que o seu tempo na Áustria era limitado.


O AMERICANO FOI o último a sair do Café Central. Parou na porta
para abotoar o colarinho do seu sobretudo Burberry, fazendo o possível
para evitar parecer um espião, e observou o israelense desaparecer pela
rua escura. Em seguida virou-se e seguiu na direção oposta. Tinha sido uma
tarde interessante. Uma jogada ousada por parte de Vogel, mas era esse o
seu estilo.
A embaixada era no Nono Bairro, um boa caminhada, mas o
americano decidiu que era uma boa noite para andar. Ele gostava de
caminhar por Viena. Fazia-lhe bem. Era tudo o que ele queria, ser um
espião na cidade dos espiões e tinha passado a sua juventude a preparar-se.
Tinha estudado alemão no joelho da sua avó e politica soviética com as

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