Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

aquela com Vogel vestido com o uniforme das SS, parecia-lhe vagamente
familiar. Tinha a inquietante sensação de já ter visto aquele homem em
algum lugar. Passado uma hora, levantou-se e levou os esboços para a casa
de banho. De pé, em frente ao lavatório, queimou as imagens na mesma
ordem que as tinha desenhado: Vogel como um próspero cavalheiro
vienense, Vogel cinquenta anos mais novo, Vogel como assassino das SS...


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VIENA


NA MANHÃ SEGUINTE, Gabriel foi às compras na Kärntnerstrasse.
O céu era uma cúpula de azul pálido riscado de alabastro. Ao atravessar a
Stephansplatz, foi quase derrubado pelo vento. Era um vento Árctico,
gelado pelos fiordes e glaciares da Noruega e esticado pelas planícies
geladas da Polônia que agora martelava os portões de Viena como uma
hoste bárbara.
Entrou numa loja grande, estudou o diretório e subiu as escadas
rolantes até o andar que vendia roupa quente. Escolheu um casaco de esqui
azul-escuro, uma espessa camisola de algodão, luvas grossas e botas de
montanha à prova de água. Pagou os artigos e saiu, percorrendo a
Kärntnerstrasse com um saco de plástico em cada mão, sempre a verificar a
retaguarda.
A empresa de aluguel de automóveis ficava a apenas algumas ruas
de distância do seu hotel. Uma van Opel prateada esperava-o. Carregou as
malas para o banco de trás, assinou a papelada necessária, e acelerou dali
para fora. Conduziu em círculos durante meia hora, procurando sinais de
vigilância, e só então seguiu para a entrada da autoestrada Al onde tomou a
direção de oeste.
As nuvens foram engrossando gradualmente, o sol matinal
desvaneceu-se. Quando chegou a Linz estava a nevar com força. Parou
numa bomba de gasolina e vestiu a roupa que comprara em Viena, em
seguida voltou para a Al e fez a recta final até Salzburg.
Quando chegou já a tarde ia a meio. Deixou o Opel num
estacionamento e passou o resto da tarde vagueando pelas ruas e praças da
parte velha da cidade, fazendo-se passar por turista. Subiu os degraus

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