Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

talhados que levavam ao Mönchsberg e admirou a vista sobre Salzburg do
alto do campanário da igreja. Seguiu para a Universitätsplatz para ver as
obras de arte barrocas de Fischer e von Erlach. Quando a noite caiu,
regressou à parte velha da cidade e jantou raviolis tiroleses num
restaurante original decorado com trofeus de caça nas paredes escuras.
Às oito da noite, estava novamente ao volante do Opel, dirigindo-se
para este de Salzburg, para o coração de Salzkammergut. A queda de neve
adensou-se à medida que a autoestrada subia a montanha. Passou uma
aldeia chamada Hof na margem sul do Fuschlsee; depois, alguns
quilômetros mais adiante, chegou ao Wolfgangsee. A cidade, que dera o seu
nome a São Wolfgang, ficava na margem oposta do lago. Ele conseguiu
vislumbrar o sombreado do pináculo da Igreja da Peregrinação. Lembrou-
se que nela estava um dos mais belos retábulos góticos de toda a Áustria.
Na adormecida aldeia de Zichenbach virou à direita, entrou numa
ruela estreita muito inclinada e subiu pela encosta da montanha. A aldeia
ficou para trás. Havia cabanas ao longo do caminho com os telhados
cobertos de neve e fumo a sair das chaminés. Um cão saiu de uma delas e
ladrou quando Gabriel passou. Conduziu através de uma ponte de uma só
faixa e abrandou até parar. A estrada parecia ter desistido, exausta. Um
caminho ainda mais estreito, que quase não dava para um carro,
continuava pela floresta de bétulas. Trinta metros mais à frente estava um
portão. Desligou o motor. O silêncio profundo da floresta era opressivo.
Retirou uma lanterna do porta-luvas e saiu. O portão era à altura do
ombro e feito de madeira a imitar o antigo. Um sinal avisava que a
propriedade do outro lado era privada e que caminhar ou caçar era
estritamente verboten e punível com multas e prisão. Gabriel colocou um
pé na ripa do meio e atirou-se aterrando no suave tapete de neve do outro
lado.
Ligou a lanterna para ver o caminho. A luz revelou um declive
acentuado que curvava para a direita, desaparecendo por trás de um muro
de bétulas. Não havia pegadas, nem marcas de pneus. Gabriel apagou a
lanterna e hesitou um momento enquanto os seus olhos se acostumavam à
escuridão, então começou a caminhar novamente. Cinco minutos mais
tarde, chegou a uma larga clareira. No topo da clareira, a cerca de cem
metros de distância, estava a casa, um tradicional chalé alpino, muito
grande, com um telhado de pedra e beirais que caiam pelas paredes
exteriores da estrutura. Parou por um momento, à procura de algum sinal
que lhe indicasse se a sua aproximação tinha sido detectada. Satisfeito,
circulou a clareira, mantendo-se junto da linha das árvores. A casa estava

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