Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

completamente às escuras, não havia luzes acesas no interior, nem no
exterior. Não havia veículos.
Ficou um momento a ponderar se devia entrar na casa e assim
cometer um crime em solo austríaco. O chalé desocupado representava
uma oportunidade de espreitar a vida de Vogel, uma oportunidade que com
certeza não se iria repetir tão cedo. Lembrou-se de um sonho recorrente.
Titian deseja consultar Gabriel sobre uma restauração, mas Gabriel insiste
em recusar porque está extremamente atrasado com prazos e não
consegue arranjar tempo para uma reunião. Titian fica terrivelmente
ofendido e rescinde a oferta furioso. Gabriel, sozinho, perante uma tela
interminável, forja sem a ajuda do mestre.
Começou a percorrer a clareira. Uma espreitadela por cima do
ombro revelou aquilo que já sabia — estava a deixar um rasto óbvio de
pegadas humanas que iam do limite das árvores até as traseiras da casa. A
não ser que nevasse novamente em breve, as pegadas iriam ficar visíveis
para qualquer um ver. Continua. Titian está à espera.
Chegou às traseiras do chalé. O comprimento da parede exterior
estava tapado por pilhas de lenha. No final da pilha de madeiras estava uma
porta. Gabriel tentou o trinco. Trancada, claro. Descalçou as luvas e retirou
o fino arame metálico que habitualmente transportava na carteira.
Manuseou-o gentilmente dentro da fechadura até sentir o mecanismo
ceder. Então rodou o trinco e entrou. LIGOU A LANTERNA e descobriu que
se encontrava num vestíbulo. Três pares de galochas estavam em sentido,
encostadas à parede. Um impermeável estava pendurado num gancho.
Gabriel revistou os bolsos: alguns trocos e um lenço de assoar amarrotado
pela mucosidade seca de um velho.
Atravessou uma porta e foi confrontado com um lanço de escadas.
Subiu apressadamente, lanterna na mão, até que chegou a outra porta. Esta
última estava destrancada. Gabriel abriu-a devagar. O gemido das
dobradiças secas ecoou pelo vasto silêncio da casa.
Encontrava-se agora numa despensa que parecia ter sido saqueada
por um exército em retirada. As prateleiras estavam praticamente vazias e
cobertas por uma fina camada de pó. A cozinha adjacente era uma
combinação de moderno com tradicional: apliques alemães com frentes em
aço inoxidável, panelas em ferro fundido penduradas num enorme forno
aberto. Abriu o frigorifico: uma garrafa de vinho branco austríaco pela
metade, um pedaço de queijo verde de bolor, alguns frascos de temperos
antigos.
Caminhou por uma sala de jantar até uma sala grande. Vasculhou-a

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