Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

Pouco depois do meio-dia, um par de enfermeiros e uma
ambulância vieram recolher o corpo. O detective entregou a Gabriel um
cartão e disse-lhe que se podia ir embora. Gabriel abandou o prédio e
contornou a esquina. Num beco escuro, encostou a cabeça aos tijolos sujos
de fuligem e fechou os olhos. Suicídio? Não, o homem que sobrevivera aos
horrores de Auschwitz não se tinha suicidado. Tinha sido assassinado, e
Gabriel não conseguia deixar de se sentir culpado. Ter deixado Klein
desprotegido tinha sido muito estúpido.
Começou a caminhar de regresso ao hotel. As imagens do caso
brincavam-lhe na cabeça como fragmentos de um quadro inacabado: Eli
Lavon está numa cama de hospital, Ludwig Vogel no Café Central, o homem
Staatspolizei em Salzkammergut, Max Klein morto com um saco de plástico
na cabeça. Cada incidente era como mais um peso num prato de uma
balança. A balança estava prestes a ceder, e a próxima vítima podia muito
bem ser ele. Estava na altura de deixar a Áustria enquanto ainda podia.
Entrou no hotel e pediu na recepção que lhe preparassem a conta,
em seguida subiu as escadas até o quarto. A porta, apesar do sinal NÃO
INCOMODAR pendurado na maçaneta, estava entreaberta e ele conseguia
ouvir vozes vindas de dentro. Empurrou-a suavemente com a ponta dos
dedos. Dois homens, à paisana, estavam a levantar o colchão do estrado.
Um terceiro, claramente o chefe, estava sentado à mesa observando a
operação como um adepto aborrecido durante um evento desportivo.
Vendo Gabriel à porta, levantou-se lentamente e colocou as mãos nas ancas.
O último peso acabava de ser acrescentado à balança.
— Boa tarde, Allon — disse Manfred Kruz.


11


VIENA


— SE ESTÁ PENSANDO em escapar, vai descobrir que todas as
saídas estão bloqueadas e ao fundo das escadas um homem muito grande
vai apreciar a oportunidade de o subjugar.
O corpo de Kruz virou-se ligeiramente. Fixou o olhar em Gabriel,
como um esgrimista, por cima do ombro e levantou a palma da mão num

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