dinheiro livre de regulamentos governamentais e de o ocultar onde e como
quisesse. Evitar a tributação não era uma escolha mas sim uma obrigação
moral. Dentro do mundo secreto da banca de Zurique, ele era conhecido
pela sua discrição absoluta. Era essa a razão pela qual Konrad Becker tinha
sido confiado com a conta.
Vinte minutos mais tarde, o carro parou em frente a uma mansão
de pedra no Primeiro Bairro. Seguindo instruções de Becker, o motorista
buzinou duas vezes e, depois de uma curta espera, o portão de metal abriu
lentamente. Enquanto o carro avançava, um homem desceu o curto lanço
de degraus. Estava nos seus quarentas e muitos, com o porte e a elegância
de um esquiador de competição. O seu nome era Klaus Halder.
Halder abriu a porta do carro e conduziu Becker até o bali de
entrada. Como de costume, pediu ao banqueiro que abrisse a sua pasta para
inspeção. Em seguida mandou-o estar na degradante posição de Leonardo,
braços e pernas abertos, para uma minuciosa passagem do detector de
metais manual.
Finalmente foi escoltado até a sala de visitas, um gabinete vienense
formal, amplo e retangular, com paredes de um amarelo rico e sancas
pintadas da cor de creme coagulado. A mobília era barroca e coberta de
fino brocado. Um relógio de ouropel tiquetaqueava suavemente na
prateleira. Cada peça de mobiliário, cada lâmpada e objeto decorativo
parecia complementar o outro e a sala era um todo. Era a sala de um
homem que claramente tinha dinheiro e gosto em quantidades iguais. Herr
Vogel, o cliente, estava sentado por baixo de um retrato que parecia, na
opinião de Becker, ter sido pintado por Lucas Cranach, o Ancião. Levantou-
se devagar e estendeu a mão. Faziam um par contrastante: Vogel, alto e
germânico, com os seus olhos azuis-claros e cabelo branco; Becker, baixo e
careca com uma segurança cosmopolita nascida do contato com a natureza
variada da sua clientela. Vogel soltou a mão do banqueiro e apontou para
uma cadeira vazia. Becker sentou-se e retirou um livro de registro forrado
a pele da sua pasta. O cliente acenou solenemente. Ele nunca fora de
conversa fiada.
— Segundo registros desta manhã — disse Becker — o valor total
da conta é de dois mil milhões e meio de dólares. Quase um mil milhões
está em dinheiro, igualmente dividido em dólares e euros. O resto do
dinheiro é investimento: a tributação habitual, títulos e obrigações,
juntamente com um montante substancial em imóveis. Em preparação para
a liquidação e dispersão da conta, está a decorrer a venda dos valores
imobiliários. Devido ao estado da economia global, está a levar mais tempo
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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