Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


poder


A14 Quinta-Feira, 24 DeOutubrODe2 019


Logoque estourouacrise
chilena, liguei paraumve-
lho amigo, professor da Uni-
versidadeAdolfoIbáñez, em
Santiago.Sujeitoprudente,
acadêmicode primeiraepro-


fundoconhecedor da política
chilena. Abatidocomacrise,
ele sugeriu algunscaminhos,
masreconheceu:“estátodo
muyconvulsionadotodavía,
faltauntiempo parapoder
hacer un análisispausado”.


Horas depois percebi que
não precisavamepreocupar.
Aalgazarradigital, aqui pelos
trópicos, já haviaexplicado tu-
do.Pelarapidezdas análises,
desconfio quetudo já erasabi-
do mesmo antes dos protestos.


Àdireita,referênciasdifusas
aoForo deSãoPaulo(sempre
ele) ouàinconformidade da es-


querdacomaúltima derrota
eleitoral;àesquerda,arespos-
ta quase unânime:adesigual-
dade.Achaveque abrequal-
quer porta, nos dias quecor-
rem. Alguns aindaculpavam
aPrevidênciachilena.Osujei-
to tem 18 anos, sentequeterá
um problema aos 60 edecide
saquearoWalmartouiràrua
comumcoquetelmolotov,para
explodirometrôdeSantiago.
Explicações desse tipo não
valem muitacoisa. Elas são
ofeijãocomarrozda guerra
políticadetodos os dias. O
fatoéquenãosabemospre-
cisamenteoque se passa,e
nãoéaprimeiravez.Alguém
por acaso sabeoporquê das
manifestaçõesderua de 2013
no Brasil?Especulações há de
sobra, eéfácil narrar aqueles

episódiostodos, masexplicar
éalgointeiramentediferente.
Parececlaro que estamos di-
antedeumfatonovo, nas de-
mocracias,ouaomenos em
umaescalanova, queéaex-
plosão periódicaecaóticade
movimentos de rua,semco-
mando organizadoesemco-
nexãonecessáriacomindica-
dores sociais oueconômicos.
Em 2011 ,amortedeumjo-
vemnegro emTottenham, em
Londres, levouauma ondade
saquesnaInglaterra;omo-
vimentodoscoletes amare-
los,naFrança, segueames-
ma trilha,eamesma,einú-
til, guerradeinterpretações.
Adesigualdade pode estar
naraiz da crisechilena?Épos-
sível.OChile apresentauma
concentração derenda acen-

tuada, ainda que um índice
de Ginirelativamentebaixo
naregião.Éprecisocombi-
nar issocomoutrosaspectos.
Estamoscansados de lerso-
breosbons indicadores chi-
lenos. Melhor IDH daregião,
melhoreducação básica,eco-
nomia crescendo.Eles sãover-
dadeirosenosajudamade-
senhar umcenário,mas no
fundonãoexplicam muito.
Notema da desigualdade,
há um problemaóbvio:épre-
cisodemonstrarcausalidade,
não apenascorrelação.Eal-
gumaregularidade. Algoco-
mo: sociedades apartir de um
pontoxdeconcentraçãode
renda (queponto seria esse?)
tendemàrevolta.Eaíascoi-
sas secomplicam. Não digo
que não seja possível, mas é

precisomais do queimaginar
que essascoisas sejam autoe-
videntes(elas sempreparecem
ser,nomundo da ideologiaou
dareligião)ousimplesmente
dizer um palavrãoaos infiéis.
Tempos atrás escreviumar-
tigotratando do surgimento
de um quinto poder nas demo-
cracias.Asondas difusas de
opinião que se movem,com
altaoubaixaintensidade,no
espaçodigital. Mas frequen-
tementeemergemnas ruas,
ao estilo flash mob,nãora-
roemexplosões de violência.
OsociólogoManuel Castells
mapeou mais de 80 paísesque
assistiramaexplosões desse
novotipo,emcontextosmuito
distintos.DaPrimaveraÁra-
be aos próprios movimentos
de estudantes no Chile, em
2006 e 2011 ,passandopelos
Indignados, naEspanha, até
oicônicoOccupyWall Street.
Sãocoisasmuito diferentes,
mascomincômodos traços em
comum.Emregra, surgem a
partir de um gatilho(os 30 pe-
sos, nocaso chileno)ecriam
um efeitodecontágio; são difu-
sos emtermos programáticos,
reivindicandoaumsótempo

tudoemuitopoucoque pos-
sa ser objetivamentenegoci-
ado. Sua liderançaédispersa
(oquelevaosistemafrequen-
tementeanãoteroqueecom
quem negociar)epor fim tudo
tende ao efêmero.
Castellstemuma visãoal-
goromânticados movimentos
emrede. Sua violência seriaes-
sencialmentereativaeeles se-
riamfontedenovas formas de
democracia. Nãoéoque sevê
nas ruasdoChile, ondeavio-
lência estálongedeser reati-
va.Eela é, pordefinição,ane-
gaçãodademocracia.
Pareceevidentequevivemos
uma eradeinstabilidade, que
ainternetreduziu brutalmente
ocustodeorganização políti-
ca,queoindivíduoganhou po-
der diantedas instituições, que
as vias tradicionaisderepre-
sentaçãoenvelheceramenin-
guém sabe bemcomo acomo-
daroquintopoder nos limites
da democraciarepresentativa
eseus procedimentos.
Daícertoapeloàhumildade
eàponderação,demodoque
agradeço ameucolega chileno
pelo pedido detempo,por sua
sábiaesuavenãoexplicação.

Ofatoéque não sabemosprecisamenteoque se passa,enão éaprimeiravez



  • FernandoSchüler


Professor do insperecurador do projetoFronteiras do Pensamento. Foidiretor daFundação iberêCamargo


Meu amigochileno


|dom.ElioGaspari, Janio deFreitas |seg.CelsoRocha deBarros |ter.Joel PinheirodaFonseca |qua.Elio Gaspari|qui.FernandoSchüler |sex.ReinaldoAzevedo|sáb.Demétrio Magnoli



  • Igor Gielow


sÃoPauLoOcentrodeverá
apoiarLuciano Huck na dis-
putacomoPTparaenfrentar
Jair Bolsonaronosegundotur-
no em 2022 ,deixandoJoão Do-
ria de lado.Eopoderreal no
país pode acabarnas mãos de
um primeiro-ministro.
Asprevisõesforamfeitas
por um dos maisexperientes
observadores dacena políti-
ca brasileira,oex-senadorca-
tarinenseJorgeBornhausen.
Aos 81 anos, eleéumdos
principais oráculosouvidos
poratores docentroàdirei-
ta,mesmotendo deixadoavi-
da partidária em 2010.
Para ele, que segueativoem
seu escritório de advocacia no
ItaimBibi, emSãoPaulo,“Bol-
sonaroconseguiufazeroque
nunca conseguimos, juntaro
centro, os bonseosruins”.No
momento, “recaiutodo sobre
oRodrigoMaia”, referindo-se
ao presidentedaCâmara, mas
2022 seráoutrahistória.
MaiaédoDEM,antigoPFL,
partido associadoàcarreira
deBornhausen—quefoidu-
as vezessenador,ministroda
Educação (governoSarney),
embaixador em Portugal ego-
vernador deSantaCatarina.
Para ele,oDEM,oPSDeou-
tras siglas decentroestarão
comoapresentador global
Huck (sem partido)em 2022.


Centro vaiapoiar Huck contraPTe


Bolsonaro, prevê JorgeBornhausen


ex-senador,oráculo dacentro-direita, critica Doriaevêchancedeparlamentarismo já para


ximo doPSD, partidoque aju-
douamontarequeécontro-
ladoporGilberto Kassab,seu
afilhado político.
Huckéumnomefomenta-
do peloex-presidente Fernan-
do Henrique Cardoso(PSDB),
querecentemente cobrou que
oapresentador se posicione
como líder político.
Oglobal já demonstroudis-
posição de disputaradiversos
interlocutores, mas quer adi-
ar oanúncio paraafastar-se do
escrutínio inevitável.
NaavaliaçãodeBornhau-
sen, Huckeumnome doPT
irão disputaravaganosegun-
doturnocontraBolsonaro
(PSL).“Opresidentemanterá
seus 25 %, 30 %deapoio,ape-
sar detudo”,afirmou.
O“tudo” em questãoébal-
búrdia políticaquemarca o
bolsonarismonopoder.“Ele
saiuatacandotodos,chaman-
dotudo develha política. An-
tes, eraquase impossível apro-
varumprojetosem apoio do
Executivo. Issomudou.”
Para ele,osímbolodorevi-
goramentodoCongressofoi
aaprovação dareforma da
Previdência, processoampla-
mentecreditadoaMaia.
“A gora,oCongressovairu-
mar paraoparlamentarismo.
Há 50 %dechancedeissojá
ocorrer para 2022 ”,disse ele,
descartandoofracasso daex-

periência nos anos 1960 eare-
jeiçãoaela novoto,em 1993.
Bornhausen apontaumma-
pa docaminho.Primeiro, o
vetoàscoligações nas elei-
ções proporcionais apartir
de 2020 tenderáareduziro
quadropartidário.
Segundo,ele acreditaque
seráaprovado no Congresso
no ano quevemovotodistri-
talmisto, no qual listasfecha-
das decandidatosdefinidas
pelassiglasconvivemcoma
eleição de indivíduos.
“Tudo issovaiqualificar a
representação.Precisaremos
de uma, duas,talveztrêselei-
ções paraaqualificação ocor-
rer, masvai”,afirmou.
Com esse arcabouçodepar-
tidos maisestruturados, diz,
seráinevitávelrumar ao par-
lamentarismo.
Oreforçodas siglas já es-
tá em curso. Seu aliado Kas-
sabtemcorridoopaís para
montar palanques,etemdi-
toaamigosqueoPSD sairá
comoamaior sigla da eleição.
Bornhausennão se impres-
sionacomoqueévistocomo
obaixonívelgeneralizado na
vida públicabrasileira. “Há no-
mes que surgiram aos quaisé
preciso daratenção.Uméoda
Tereza Cristina [DEM], minis-
tradaAgricultura. Outroéo
do EduardoLeite[PSDB],go-
vernadorgaúcho”,disse.

Aministrafaz oque elecha-
ma de “grande trabalho”, eele
creditaaela aconclusão do
acordo Mercosul-União Eu-
ropeia.Já otucanoéelogia-
docomo articuladorepor ser
“corajoso” ao enfrentar ascor-
porações estaduaisnadiscus-
sãosobreareforma previden-
ciáriaeadministrativalocal.
Oex-senadorécríticode
Bolsonaro e, principalmente,
da influência de seus filhos e
da chamadaáreaideológica
dogoverno.Mas achaaEspla-
nada emboa partedequalida-
de.“TemaTereza,temoTar-
císio [Gomes, Infraestrutura],
temoPaulo Guedes [Econo-
mia], os ministros militares
são preparados”,diz.
Mastambém há “o Itama-
raty,aEducaçãoeaDamares
[Alves], que nem seionome
do ministério[daMulher,da
Famíliaedos DireitosHuma-
nos]”,diz, emtomreprovativo.
Ele acreditaqueBolsona-
rose manteráamparado na
sua baseradicalizada,como
já vemfazendo hoje, mas en-
fraquecido. “A economiatem
sinais de melhora, masode-
semprego, não.”
Acacofoniadas brigas bol-
sonaristas,comoaemcurso
entreopresidenteeseu parti-
do,não são um problematão
graveparaaeconomianavi-
são deBornhausen. “Elasnão
afetam nem afetarãovotações
do Congresso”,disse.
Oex-senadorvotou, “por
exclusão porque nãovoto no
PT”,emBolsonaronosegun-
doturno de 2018 .Ele mantém
aojerizaaopartido deLula,
comoqualteveríspidasdis-
cussõesnopassado —num
episódiofamoso de 2005 ,ele
comemorouomensalãopor-
queoescândalo dogoverno
doPT“livrariaopaís por pe-
lo menos 30 anos dessaraça”.
Isso lhegarantiuoódio dos
petistas, em especial do líder,
que prometeu em 2010 “extir-
paroDEM da política”.
Sua primeiraopção na elei-
çãofoi otucanoGeraldo Alck-
min,que despacha em um es-
critório no andar abaixodo
prédio deBornhausen.
Eleconcordacomaavali-
ação doex-governador pau-
listadequeoatentadoafaca
contraBolsonarofoi determi-
nante parasua vitória.“Elefoi
eleitopor umafortereaçãoao
PT.Mas ficoemdúvidase se-
riaamesmacoisa [semafa-
cada],commaisexposição.”
Sejacomofor, ele dizque o
Brasil “é um paíscomazar”,
citandotambém duas mor-
tes: adeTancredoNeves na
vésperadapossecomo pri-
meiropresidentecivil após a
ditadura, em 1985 ,eadode-
putado Luiz Eduardo Maga-
lhães,considerado um suces-
sor naturaldeFHC,em 1998.

Oex-senadoreex-governador Jorge Bornhausen duranteeventoemSão Paulo Willian Moreira-17.jun.19/FuturaPress/Folhapress

Eogovernadortucanode
SãoPaulo, Doria?“Faltaaele
umacondição políticaimpor-
tante: ser paciente. Ele deve-
ria esperar.Ele nãotemgru-
po político, nãoconversa”, diz.
Hoje, Maiaéaliado dotu-
cano.“Éumcerca-lourenço
[a popularconversa mole pa-
ra obtervantagens].ODEM é
muitomais Huck do queDo-
ria”, afirmouoex-senador,pró-


Bolsonaro
conseguiufazeroque

nuncaconseguimos,
juntarocentro,

os bonseosruins


Jorge Bornhausen
sobreoatual presidente

Faltaaele [Doria]


umacondição
políticaimportante:
ser paciente. Ele não

temgrupo político,
nãoconversa

sobreogovernador de SP

Precisaremos de


uma, duas,talvez
três eleições para
aqualificação

ocorrer,mas vai


sobreosreflexosdeuma
possível adoção do votodistrital
mistoparaoLegislativo

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