Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

A16 Quinta-Feira,24DeOutubrODe2 (^019) aeee
mundo



  • Sylvia Colombo


buenosairesSem apresentar
evidências,opresidenteboli-
viano EvoMorales,candida-
toaumquartomandato,dis-
se na manhã destaquarta-fe-
ria ( 23 )que “estáemmarcha
umatentativadegolpe de Es-
tadocontraele”.
Aofalarpela primeiravez
após os protestos nos últimos
dias,olíder boliviano afirmou
queosupostogolpeteria sido
“preparadopela direita,com
apoio internacional”eque,
“até agora,temos aguentado
[a situação]com paciência pa-
ra evitar violência”.
“Não estamos emtempos
decolônia.Vamos defender
ademocracia,opovoorgani-
zadorecuperouademocracia.
Querodizeràdireitaboliviana:
não sejamresponsáveispelo
enfrentamentoboliviano,não
semeiemoódio. Somostodos
uma grandefamília.”
Aindefiniçãoeovaivém da
contagem dosvotosdaeleição
presidencial boliviana culmi-
noucomaconvocaçãodeuma
grevegeral por prazoindefi-
nidoeuma grande marcha
nas principais ruas de LaPaz
na noitedeterça-feira ( 23 ). As
manifestações provocaram in-
cêndiosevandalismocontra
centros devotaçãoemlocais
importantes,como Potosí.
Ao afirmar que estavaem
gestação umgolpedeEsta-
do,Evodisse que isso estaria
ocorrendocomainterrup-
çãoforçada dacontagem em
algumascentrais, queforam
atacadas por manifestantes.
Evofoi dadocomovencedor
pelogovernofaltandocontar
4 %dos votos, queopresidente
afirma quedariamaele “maior
vantagem”, pois seriamvotos
deredutos eleitoraisevistas.
Aapuração está sendodi-
vulgada num siteoficial, que
saiudoarváriasvezesduran-
te anoite. Comoplacar dis-
ponível às 20 hdesta quarta,
haveria segundoturno. Com
97 , 40 %das atassomadas, Evo
tinha 46 , 67 %dos votos, contra
36 , 86 %deMesa —uma dife-
rençade 9 , 81 pontos percen-
tuais.NaBolívia,paraganhar
em primeiroturnoépreciso
ter 50 %dosvotosmais um
ou 40 %, desde queosegundo
esteja 10 pontos percentuais
atrásdoprimeirocolocado.
“Ganhamosem 6 Departa-
mentos[de 9 existentes],te-
mos maioria absolutanaCâ-
mara[dosDeputados]etemos
meio milhãodevotosamais
do queoopositor[o ex-pre-
sidenteCarlos Mesa]”,disse.
Aapuraçãodosresultados
gerouprotestos pelo paísele-
vouoprópriogovernoapedir
uma auditoriaexterna.
Convocadaaauditar osre-
sultados,amissãodeobserva-
dores da Organização dos Es-
tados Americanos (OEA) de-
clarou nestaquartaquecon-
sideracomo “melhor opção”
arealizaçãodeumsegundo
turno,segundoodiretor do
DepartamentoparaaCoo-
peraçãoeObservaçãoEleito-
raldaOEA,Gerardo Icaza, ao
apresentar emWashingtono
relatório preliminar.
Diversos países, incluindo
EUA, Argentina, BrasileCo-
lômbia, assimcomoaUnião
Europeia,tambémmanifesta-
rampreocupação. NoTwitter,
oItamaratyescreveu queore-
latório “indicaanecessidade
de um segundoturno para as-
seguraroplenorespeitoàes-
colha popularedemocrática”.
Aconfusão emtorno da apu-
ração, ocorreu porque, após o
fechamentodas urnas,oTri-
bunal SupremoEleitoralco-
meçouacontagem usando
doismétodos: somandovotos
registrados ematas, que tra-
ziam ostotais decada mesa,
econtando osvotosumaum.
Apenas osresultados do pri-


Evodiz que direita tenta dar


golpe de EstadonaBolívia


Presidente falou pela1ªvez desde queaconfusão dacontagemcomeçou


meiroforam divulgados num
primeiromomento.
Às 22 h 40 de domingo( 20 ),
com 89 %das urnasapuradas
por meiodacontabilidade de
atas, Evotinha 45 , 7 %contra
37 , 8 %deMesa—oresultado
levariaaumsegundoturno,
cenário previstopor pesqui-
sas. Duranteanoite, no entan-
to,aapuraçãofoisuspensae
nenhumvoto foicomputado.
Nasegundapelamanhã, o
tribunal afirmou queaapura-
çãoumaummostravaresul-
tados diferentes. Diantedas
divergências,aapuraçãofei-
ta pelométodovoto porvo-
to passouaser considerada a
quetrariaoresultado oficial.
Nanoitedasegunda, porém,
aapuração viaatasfoi retoma-
da e,com 95 , 22 %das urnas
apuradas, Evofoi anunciado
vencedor no primeiroturno
com 46 , 86 %dosvotos, con-
tra 36 , 73 %deMesa.

Igreja Católicano
paíspede2ºturno e

corte independente



  • Fabiano Maisonnave


CiDaDeDoVaTiCanoAsolução
da crise políticaboliviana pas-
sa pela nomeação de umTri-
bunal Superior Eleitoral in-

dependenteeaconvocação
de um segundoturno entreo
presidenteEvoeMesa.
Essaéapropostadopresi-
dente da Conferência Episco-
pal daBolívia (CEB), Ricardo
ErnestoCentellas, paraque o
país saia do impasseprovoca-
do pela eleição presidencial do
último domingo( 20 ).
“Se quisermosvoltarreal-
menteaumcaminho demo-
crático, temos defazercom
outroárbitro.Umárbitroque
seja imparcial. Senão, acoisa
continua”, disseCentellas a
jornalistasnaCidadedoVa-
ticano,onde participa do Sí-
nodo paraaAmazônia.
“A creditoqueasaída seja
convocar um segundotur-
no,mas comoutrotribunal”,
afirmouobispo de Potosí. “O
TribunalEleitoral perdeuto-
daacredibilidade não ape-
nascomestas eleiçõesco-
motambémcomasanteri-
ores. Por isso,aBolívia vive
uma incerteza.”
ApesardeaCEB estar pra-
ticamente rompidacomEvo,
Centellas afirmou queaIgreja
Católica estáabertaparame-
diar umdiálogo.“Se ambasas
partesnos convocarem,esta-
mos prontosparacolaborar
efacilitar que esseproblema
não se prolongue.Ocustoso-
cial desse problemaémuito
alto. ABolívia não podesedar
ao luxodeficarpor diasedias
emconflitos sociais.”

$
Entendaovaivém
das eleições

Domingo
89% das urnasforam
apuradas pelacontagem de
votos umaumepeloregistro
das atas.Aapuraçãofeita
pelas atasfoiinterrompida
às 22h40, masodecédulas
individuaiscontinuou. O
resultado indicava2º turno.

Segunda
Pelamanhã,acontagem por
votos umaummostrava
umresultado diferenteda
apuração por atas,oque
dariaavitóriaaEvo.Ànoite,
com95% das urnasapuradas
pelo método umaum, Evo
foianunciado vencedor no 1º
turno,com 46,86% dos votos
contra36,73% de Carlos Mesa.

Terça
Acontagem por atas,
paralisada na noitede
domingo, foiretomada.Com
95% das urnas apuradas,
mostravaEvo vencedor
por estreitamargem.

Quarta
Com 97,40% das atas
computadas às 20h,Evo
tinha 46,67% dos votos,
contra36,86% de Mesa
—uma diferença de 9,
pontos percentuais. Esse
resultado indica 2º turno

Apoiadores
deEvoforam
às ruas
em LaPaz
(no alto)
enquanto
opositores
protestaram
em Santa
Cruz dela
Sierra
Ueslei Marcelino/
ReuterseRodrigo
Urzagasti/Reuters

Principaisdistritos, por nacionalidade

Venezuelanos
>SãoMateus
>Sé
>raposotavares
>república
>Pari

Angolanos
>república
>ita quera
>Sé
>Pari
>Santana

Onde vivemosrefugiados em SãoPaulo

Amostra:
5. 643 pessoasatendidaspelaCaritasem 2018

64 %
homens

36 %
mulheres

50 %têm entre
18 e 35 anos

84 nacionalidades:

20 %
angola

19 , 8 %
Venezuela

13 , 6 %
república
Democrática
do Congo

10 , 7 %
Síria

34 , 9 %
Outros

Ondevivem

90 , 2 %em
SãoPaulo

9 , 8 %na região
metropolitana

Porregiões

55 %Leste 26 %Centro

9 , 5 %
Sul
6 , 5 %norte
3 %Oeste

Principaisdistritos

Fontes: CaritaseACNUR

Congoleses
>artur alvim
>itaquera
>Sé
>Sapopemba
>José bonifácio

Sírios
>brás
>belém
>Pari
>Sé
>Mooca

Santana

Pari
Brás Belém

SãoMateus

ArturAlvim

Itaquera

Mooca

República

Oeste

Norte

Sul

Centro
Leste

Zona lesteecentro


concentram maioriados


refugiados em SãoPaulo



  • Flávia Mantovani


sÃoPauLoOsrefugiadosem
SãoPaulo vivem principal-
mente naszonaslesteecen-
tralda cidade, segundo uma
pesquisaapresentada nesta
quarta-feira( 23 )pela entida-
de sem fins lucrativos Caritas
Arquidiocesana deSãoPaulo
junto comaagência da ONU
pararefugiados (Acnur).
Oestudo nãodiz respeito
aototalderefugiadosnaci-
dade, mas àquelesatendidos
em 2018 pela Caritas —prin-
cipal organizaçãoalidar es-
pecificamentecom esse pú-
bliconomunicípio.Foram
6. 500 pessoasnototal,das
quais 5. 643 tiveram seus en-
dereçosgeorreferenciados
paraolevantamento, que é
realizado pela primeiravez.
Entre elas,hátantoasque
já foramreconhecidascomo
refugiadas quantoasquefi-
zeramasolicitaçãoeaguar-
damterseucaso analisado.
NoBrasil, hácercade 11 mil
pessoas na primeirasituação
equase 200 milnaespera.
Nãohádadosoficiais so-
breonúmeroderefugiados
vivendoatualmentenacida-
de deSãoPaulo —a principal
portadeentrada do paíspa-
ra essaspessoasatérecente-
mente, quando passouache-
garumgrandecontingente
devenezuelanos porRorai-
ma. SegundoaPolíciaFede-
ral, no estadodeSãoPaulo,
9. 977 pessoas de 115 países
solicitaramrefúgioem 2018.
ACaritasatendeu,nesse
mesmo ano,estrangeiros de
84 nacionalidades,amaioria
de Angola ( 20 %),Venezuela
( 19 , 8 %),RepúblicaDemocrá-
ticadoCongo( 13 , 6 %)eSíria
( 10 , 7 %). Um quartodeles che-
gouaoBrasil em 2018 ,eores-

tantejáestavanopaís antes.
Mais da metade ( 55 %) vi-
via nazona leste, 26 %vivi-
am nocentro, 9 , 5 %nazona
sul, 6 , 5 %nazona norteeape-
nas 3 %nazona oeste. Os dis-
tritoscommaisrefugiados
foramSé, República,Pari,
SãoMateuseItaquera.
Segundo Midori Hamada,
da Caritas, alguns fatoresle-
vados emcontanaescolha
do local de moradia pelosre-
fugiadossãoopreçoacessí-
veldeimóveis ealocalização
dosempregos, assimcomo a
presençadeinstituições de
acolhida.São Mateus, nazo-
na leste, porexemplo,onde
ficam abrigos querecebem
venezuelanos,éodistrito
commaior númerodepes-
soas dessa nacionalidade.
Muitosrefugiadostambém
se mudamparalugares on-
de há umacomunidade es-
tabelecida de seu país. Isso é
comum entreossírios: mui-
tosdeles vivemnoBráseem
municípios daregião metro-
politanacomo Guarulhos e
SãoBernardo do Campo,on-
de há mesquitas tradicionais
frequentadaspor pessoas
dessanacionalidade.
Já angolanosecongoleses
moramprincipalmenteno
centroexpandido, irradian-
do paraazona lesteapartir
da linhavermelha do metrô
edas linhas 11 e 12 da CPTM.
Segundo SilviaSander,as-
sistentesêniorde proteção
do Acnur, aintençãoéque os
dados ajudemadirecionar
açõesvoltadas paraosrefu-
giados.“Aideiaéque não só
as pessoasvenhamaténos-
sos serviços, mas queagente
tambémváatéelas.Quere-
mos enxergaronde eles es-
tãoparaentenderondete-
mos que trabalhar”, afirma.
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