Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


mercado


A26 Quinta-Feira, 24 DeOutubrODe2 019



  • FábioPupo
    eJulio Wiziack


BRASÍLIAACNI (Confederação
NacionaldaIndústria) afir-
ma queocorteabruptomé-
dio de 50 %nas tarifas de im-
portação,uma propostaem
discussão nogoverno,redu-
ziriaoPIB(ProdutoInterno
Bruto) depelo menos 10 dos
23 setoresindustriaisaté 2022.
Aconclusãofazpartede
um estudo encomendado
pela entidadeàUniversida-
de de Victoria, naAustrália.
Paraaentidade,omovi-
mentoprejudicariaareto-
mada do crescimentoeare-
dução do desemprego.
Ogoverno propôs no Mer-
cosulreduzir unilateralmen-
te aTEC(tarifaexternaco-
mum).ATECéoimpostode
importaçãocobradosobre
bens que entram nosterri-


tórios de Brasil,Argentina,
Paraguai eUruguai).
Apropostaapresentada pe-
lo Brasilaos parceirosédeum
corteacimade 50 %doimpos-
to,dependendo do produto.
ACNIreclama queogover-
no nãoconsultouosetor pri-
vado sobreapropostaenão
fezanálise de impactoregu-
latório sobreamedida.
Alémdisso,diz queoplano
nãotemsincroniacomou-
tras medidasvoltadasàam-
pliação dacompetitividade
daeconomiaedaindústria.
Oplano dogovernoédeum
choque natarifaemquatro
anos.Já areforma tributária
discutidanoCongresso,por
exemplo, podeter período de
transição de dez anos.
“Somosafavor da abertura,
mascomdiálogoetranspa-
rência.Nemaindústria nem
oCongresso podem ficar de

fora desse debate,poisoim-
pactoéenormenos estados
enos municípios industriais”,
afirma em notaopresidente
da CNI,Robson Andrade.
Outrasentidadesmanifes-
tarampreocupação.
OpresidentedaAnfavea
(AssociaçãoNacional dosFa-
bricantes deVeículosAuto-
motores), Luiz Carlos Mora-
es, diz queéafavorda aber-
tura.Mas, segundo ele,orit-
mo indicadoéapressado pe-
la existência de dificuldades
paraquem produz no país.
“Precisamos da aberturae
adefendemos, mas deforma
gradual.Aredução unilateral,
apressadaesem essaredu-
çãodocustoBrasil,pode ser
danosa para opaís”,afirma.
Por isso,ele defende um pra-
zomaior paraasreduções.
Emboranão citeumperío-
do ideal, citaoacordoentre

Aberturacomercial


abrupta reduziria PIB


em 10 setores, diz CNI


estudo encomendadoàuniversidade da austrália afirma


que medida prejudicariaaretomada do crescimento


rado curto. “Seforumaredu-
çãode 50 %num curtopra-
zo,sem darcondições de as
empresasseprepararem,vai
ser muitoprejudicial. Eessas
questõesagente já temcolo-
cado paraogoverno”,disse.
Elatambémvêproblemas
nofato de asreduções serem
decaráterunilateral. “Naaber-
tura negociada,vocêcedeem
alguns pontoseooutropaís
cede em outro. Quandovo-
cê fazsem negociação,não
ganha nada em troca”,disse.
Navisão dogoverno,aaber-
turacomercialreduziria a
barreiraparaaentrada de in-
sumoseoutros benscompre-
çomenor e,comisso, eleva-
riaacompetitividade da in-
dústrianacional. Alémdisso,
amedida ampliariaainserção
do país nocomércio global.
Guedesjáafirmou que que-
ria implementar uma abertu-
ra comercial deformasincro-
nizadacom outrasreformas.
Em seudiscurso deposse,
em janeiro, ele ilustrouasitua-
çãodoempresário brasileiro
como uma pessoa quecarre-
ga um pianonas costasetem
bolasdeferroamarradas nas
pernas. Os pesos seriam os ju-
rosaltos,acargatributária e
os encargostrabalhistas.
No caso de uma aberturaco-
mercial,oestadoaindaman-
dariaoindivíduocorrer para
queo“chinês” nãooalcanças-
se. “Nãoérazoável. Então nós
queremos implementar isso
numavelocidadeque seja sin-
cronizada”, disse na época.

Para Bolsonaro, Argentinapode serriscoaMercosul



  • GustavoUribe


TÓQUIOEm seu último dia de
viagemaoJapão, opresiden-
te Jair Bolsonarodisse nesta
quarta( 23 )queaeleição da
chapa de esquerda Alberto
FernándezeCristina Kirch-
ner podecolocar em riscoo
Mercosul.
Emconversacomaimpren-
sa,opresidentedisse queca-
soaArgentinaatrapalhe um
movimentodeaberturade
mercado do blococomerci-
al,ele podepedirumareuni-
ãocomUruguai eParaguai
paratomaralguma medida.
“Nós sabemos queavolta da
turma doForodeSãoPaulo
edaCristina Kirchnerpara o
governo argentinopode,sim,
colocar em risco todo Merco-
sul.Esepossivelmentecolo-
cando em riscotodooMer-
cosul,repito, possivelmente,
você temdeter uma alterna-
tivanobolso”,disse.
Opresidentesinalizouapos-


sibilidade de um pedido de
suspensão ao lembrar que
medida semelhantefoi ado-
tada, em 2012 ,contraoPara-
guai.Naépoca,adecisãofoi
tomada porcontadadeposi-
çãodoentão presidenteFer-
nando Lugo, apósrápido pro-
cesso de impeachment.
“O que nós queremoséque
aArgentinacontinue naques-
tãocomercial,casoaoposi-
çãovença, da mesmaforma
do[presidenteMauricio] Ma-
cri. Caso contrário,podemos
nosreunircomoUruguaieo
Paraguai”,disse.
Segundo ele,opropósito
dogovernobrasileironão é
odefacilitar que grupos de
esquerdaformem, de acordo
comele, “uma grande pátria
bolivariana,como queriam os
governantes daquela época”.
“A nossaideiaésim, defa-
to,abriromercadoefazerco-
mérciocomomundotodo”,
disseBolsonaro.
Comaonda de protestosno

Chile iniciada apósapossibi-
lidade de aumentodatarifa
de transporte,opresidente
temacusado partidos de es-
querdadetentarem desesta-
bilizargovernos decentro-di-
reitapararetornaraopoder.
Em encontrocom empre-
sários brasileiros,ominis-
tro-chefedoGSI (Gabinete
de SegurançaInstitucional),
AugustoHeleno,que acom-
panhaBolsonaronaviagem
aoJapão,acusoua“esquer-
daradical”deestardesespe-
radacom“aperda do poder”
na AméricadoSul.
“NestemomentonaAmé-
ricadoSul, estamos vivendo
um períododifícil, em que a
esquerdaradical, desespera-
dacomaperda do poder,vai
jogartodas as suas fichas na
mesa paraconturbaravida
dos países sul-americanos e
tentarretornar ao poderde
qualquer maneira”,criticou.
Opresidentedisse que o
Brasiltemmonitoradoasi-

tuação de instabilidadeeque
pediu ao Ministério daDefe-
sa que fique em alertapara,
seforocaso, utilizarasFor-
çasArmadas paraevitarcon-
frontosetumultos no país.
“Converseicomoministro
deDefesa sobreapossibili-
dade determovimentosco-
mo tivemos no passado,pa-
recidoscomo que estáacon-
tecendo no Chile”,afirmou.
Ele citouoartigo 142 da
Constituição,segundooqual
as Forças Armadastêmcomo
atribuiçõesadefesadopaís,
a“garantia dos poderescons-
titucionais” e, seconvocadas
por um dos três poderes, a
garantia “da leiedaordem”.
Écom base nesse dispositi-
vo que os militaresforamcha-
madosaparticipar deativida-
desde natureza policial nos
últimosanos,como durante
aintervenção decretada pe-
loex-presidenteMichelTe-
mer (MDB) na segurançado
RiodeJaneiro.

“Logicamente,essaconver-
sa ele [ministrodaDefesa] le-
vaaseuscomandantes.Ea
gentesepreparaparausar o
artigo 142 ,queépela manu-
tenção da leiedaordemca-
so eles [ForçasArmadas]ve-
nhamaserconvocados por
um dostrês poderes”,disse.

Presidentediz que


Japão tem interesse
em bloco regional

Aviagem do presidenteter-
minou sem um inícioformal
dasnegociações de um acor-
docomercial entreoMerco-
suleoJapão.
Bolsonaroinformou, noen-
tanto, que, emreunião bilate-
ralnesta quarta( 23 ), oprimei-
ro-ministrodoJapão,Shin-
zoAbe, demonstrou interes-
se em aprofundaroassunto.
SegundoBolsonaro, aideia
éque umeventual acordo seja
tratado em novembro, quan-
do está programada uma via-
gemdeAbe ao Brasil.
“Nósdemos mais um pas-
so na questão do Mercosul.
Háinteresse por partedele
também[ShinzoAbe]”,disse.
Apesar da grandeexpecta-
tivadogoverno brasileiroem
anunciar início de negocia-
ções nestasemana,oJapão de-
monstrouresistênciaemtra-
tardotemanestemomento.
Segundo negociadores ou-
vidos pelaFolha,além da pro-
postaainda ser muitoembri-
onária,oprimeiro-ministro
não quisfazerumaceno em
meioàcerimôniadeascensão
do novo imperadorNaruhito.
Antes de iniciarconversas,
ogoverno japonêstambém
esperasinalmaisconcretode
que iráser realmenteefetiva-
dooacordoentreMercosule
União Europeia.
OJapãocomeçouademons-
trar interesse emformarum
pactoemjulho. Nosúltimos
anos,ofluxocomercial en-
treBrasileJapão sofreu um
recuo,oquetem preocupa-
do os dois países.
Nareunião bilateral, Bolso-
naro também pediu apoio ao
Japão paraoingresso do Bra-
sil na OCDE (Organização pa-
ra CooperaçãoeDesenvolvi-
mentoEconômico).
“A questãodaOCDEestáfa-
vorávelparaoBrasil entrar.É
uma operação demorada, dois
ou três anos.Temoapoio de
peso quetemos.Tudo estáca-
minhando”,disseBolsonaro,
quevaiàChina.Nasequência,
visitará Emirados Árabes, Qa-
tar eArábiaSaudita.

OpresidenteJair Bolsonaroduranteencontrocomacomunidade brasileiranoJapão José Dias/PR



Avolta daturma do
ForodeSãoPaulo e
da Cristina Kirchner
para ogoverno
argentinopode, sim,
colocar em risco
todoMercosul. E
se possivelmente
colocando em
riscotodo o
Mercosul,repito,
possivelmente,você
temdeter uma
alternativanobolso

Jair Bolsonaro


Precisamos da
aberturaea
defendemos,mas
deforma gradual.
Aredução unilateral,
apressadaesem essa
redução do custo
Brasil, pode ser
danosa paraopaís

Luiz Carlos Moraes
presidentedaanfavea

““
Os investimentos
estãoacontecendo,
emboraemritmo
moderado.Mas
notícias dessa
natureza preocupam
oempreendedor

Fernando Pimentel
presidentedaabit

MercosuleUE(que prevêsete
anos decarência paraasredu-
ções)como umareferência.
Segundo ele,aentidadevai
continuarexpondo ao Minis-
tério da Economiaoponto
de vistadaindústria.
Oprincipal entraveobser-
vadoéodo sistema tributá-
rio,mastambém há proble-
mascomoainfraestruturano
paíseacapacitação do traba-
lhador.“Dentro dafábricatu-
do funciona,fora nada funci-
ona.Então,paralelamente ao
choque da abertura,[é neces-
sário] ochoque daredução do
custoBrasil”,afirmou.
FernandoPimentel, pre-
sidentedaAbit (Associação
Brasileira da IndústriaTêxtil
edeConfecção),afirma quea
expectativapor cortes emta-
rifas de importação inibe no-
vosinvestimentosetirapoder
de negociação do país.
“Os investimentos estão
acontecendo,emboraemrit-
mo moderado.Mas notícias
dessanatureza preocupam o
empreendedor”, disse.
Segundo ele, umcortede
50 %nastarifasdeimporta-
çãoépreocupanteetemde
serconversadocomasempre-
sas.“Odiálogoéimportantís-
simoedefineodestino deto-
do um setor”, disse.
CristinaZanella,gerentede
CompetitividadedaAbimaq
(AssociaçãoBrasileiradaIn-
dústriadeMáquinaseEqui-
pamentos), diz queaentida-
devêas reduçõescompreo-
cupação pelo prazo, conside-
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