Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


opinião


Quinta-Feira,24DeOutubrODe2 019 A

erramos
[email protected]

Previdência
Finalmenteareforma daPrevidên-
ciafoiaprovada, após longas dis-
cussõeseatendidas asreivindica-
ções decongressistas. Menos mal,
poisreduziuorombo.Apropos-
ta deganho originalcaiu de R$ 1 , 1
trilhãoparaR$ 800 bilhões, ou se-
ja, poderiatersido ainda melhor.
Vida que segue.
HumbertoSchuwartz Soares
(VilaVelha, eS)

*
“Parabéns”àimprensa brasileira,
que apoiouomaiorgolpe bancá-
rio no povodestepaís:areforma
daPrevidência. Apoiouochinelo
sendobarata.
Patricia Aude(São Paulo,SP)

Ex-embaixador
Nadaécompletamenteruim nes-
sa brigaentremembros doPSL. A
torcida eraparaque houvesse al-
guma boaconsequência,eoquede
melhor aconteceufoiamudança
na indicaçãoparaaembaixada nos
EUA. Nossavergonha serámenor.
AnísioFrancoCâmara(São Paulo,SP)

*
Para alívio de muitos, EduardoBol-
sonaro “desistiu”daembaixadanos
EUA, evitando mais umavergonha
peranteomundo.Oque preocupa
agorasão suas declaraçõespós-de-
sistência:“Tenho quetertempo li-
vreparacolocaradiante(...) as pau-
tasculturais,eventos juntoàsba-
ses,falando de desarmamento, des-
se feminismo deturpado,dos direi-
toshumanos que só protegem cri-
minosos.Tenhoquetentarrever-
teressa situação”.Emsuma,ope-
sadelocontinua.
Luciano Harary(São Paulo,SP)

*
Nareportagem “Novolíder doPSL,
EduardoBolsonarodiz que futuro
dafamílianasiglaéincerto”(Po-
der, 23 / 10 ), faltou àsrepórteres
perguntarem qualfoiomotivoda-
quelacorrida loucapeloscorredo-
resdoCongressoNacional fugin-
do da imprensa.
DeniseMaria deC. Lopes(natal,rn)

Chile
HelioBeltrão,comotípicorepre-
sentantedoultraliberalismo,faz
leituraabsurdamenteparcial das
manifestaçõesnoChile(“O po-
pulismoatacaoChile”,Mercado,
23 / 10 ).Gostaria querespondesse
aduas perguntas muito simples: 1.
Asreformas que elogia, queexclu-
íram grande parcela da população
de direitos fundamentais,como a
água(privatizada)eaaposentado-
ria,foram benéficas paraquem? 2.
Éhonesto chamar de populismo a
luta por direitos?
BeatrizTelles(São Paulo,SP)

*
Significativaaformacomo os pro-
testos no Chiletêmsido tratados
pela imprensa emgeralepor es-
te jornal.Omotivoemdestaque é
sempreoaumentodepreços. Mi-
nimiza-se queoestopim darevolta
é, naverdade,apolíticadeEstado
mínimo,que deixa milhõesdeido-
sos desamparados oucomaposen-
tadorias miseráveis, reduz drasti-
camenteaassistênciaàsaúde aos
mais pobresesucateiaaeducação
pública. Essa políticatem sidoofa-
roldePauloGuedes.Não seria mais
honestodar mais destaque aosre-
ais motivos darevolta?
Dagmar Zibas(SãoPaulo, SP)

*
Nãoéoaumentode 25 centavos no
bilhetedometrô acausa darevol-
ta no Chile,mas aconcentração de
renda de nível brasileiro, afaltade
seguridade socialedesaúde públi-
ca eaposentadoriasabaixodomí-
nimo,tudo somadoàausência de
ensinopúblicoedeserviços públi-
cos. ÉoEstado mínimo dolibera-
lismoeconômicoemdetrimento
da dignidade humana.
Antônio BeethovenCunha de Melo
(São Paulo,SP)

Óleo na praia
Um mistodemilitânciaesquerdis-
ta comignorânciafactualtemca-
racterizadoaschargesdaFolhahá
certotempo.Estaterça-feira( 22 / 10 )
trouxeumexemploexplícitodisso
comuma charge naPrimeira Pági-
na.Acontinuarassim, oscolunis-
tasdeesquerda perderão prestí-
gio entreosseus, sendosubstituí-
dos por Laerteeoutros menores.
Badger Vicari(Franciscobeltrão,Pr)

*
Satélites norte-americanos sãoca-
pazes de enxergaremdetalhedes-
de placasdecarrosatéterroristas
dentrodecavernas. Por queogo-
verno brasileiroaindanãosolici-
touessa ajuda?TrumpeBolsona-
ro nãosãocomo irmãos?
JoãoMontanha(recife, Pe)

STFnoavião
Ministros do SupremoTribunalFe-
deraltambém devemter direitoa
voar emaviõesdaFAB. Guardiões
da Constituição,eles sãoviolenta-
menteconstrangidos emvoosre-
gulares por passageiros inconfor-
madoscomseusvotoslivreseso-
beranos.Atualmente, munidode
umcelularcomfilmadora, ocida-
dão se acha no direitodeconstran-
geressas autoridades,expondo-as
nasredes sociais. Se os 22 minis-
trosdoPoderExecutivotêm esse
direito, por que não os do Poder
Judiciário?
IsaacAlbagli(ilhéus,ba)

Rosário eletrônico
Orosárioéoraçãoplenadesigni-
ficadoreligiosoenão seconfun-
decomoinstrumentousado pa-
racontar as orações.Oe-rosary
citadono artigo“Opadre-nosso
desembarcana eradigital” (Ilus-
trada, 23 / 10 )substituiocolar,não
oconjuntodeorações,enãotem
relaçãocomailustração “deslize
paraperdoar”, que dáaimpressão
indevida de queoperdão na igreja
moderna depende de umtoque na
tela do smartphone.Oarticulista
precisatermais amoràcorreção.
RobertoSoares Garcia(SãoPaulo,SP)

Pesquisa
“Avaliação de pós-graduação pas-
saráaincluir impactosocialeinte-
raçãoregional” (Educação, 23 / 10 ).
Em suma,queremarranjar qual-
quer motivoparajustificarocor-
te deverbas nas universidadesena
pós-graduação.Governo de déspo-
tas.OBrasil estávirando umver-
dadeiroinferno.
SimoneRodrigues(Cascavel, Pr)

Cartão de crédito
Excelenteoartigo“Saia do sufo-
co,abandone oscartões”,deMar-
ciaDessen (Mercado, 21 / 10 ),ver-
dadeiromanualparaocontrole
financeirodequem esqueceque
cartãodecréditoalimentagastos
desnecessários.Aobjetividade do
textogaranteseu pleno alcancee
entendimento.
Zenilda Nunes Lins(Florianópolis, SC)

Morador de rua
Diferentementedopublicado no
texto“Apóscortes,caiassistência
amoradorderua no inverno” (Co-
tidiano, 21 / 10 ),aPrefeituradeSão
Paulo informa queototal previsto
paraoorçamentode 2020 paraaAs-
sistênciaeDesenvolvimentoSoci-
al édeR$ 1 , 388 milhão — 5 %mai-
or do queoorçamentode 2019 ,de
R$ 1 , 322 milhão.Informatambém
queforam aditadas 540 vagaspa-
ra aOperaçãoBaixasTemperatu-
rasnesteano.
BereniceGiannella,secretária
Municipal deassist ência
Social (São Paulo,SP)

Respostadorepórter Paulo GomesAre-
portagem citaaverba doFundo de
Assistência Social, de ondevemo
dinheiroparaoatendimento. As
vagasaditadas mencionadas não
impediram que, após trocas de se-
cretárioecortes,oatendimentoa
moradores de rua no invernofos-
se menor do que em outros anos.

ESPORTE(20.OUT.,PÁG.B10)Diferen-
tementedopublicado no infográfi-
co que acompanhouareportagem

“Há 30 anos,Ayrton Senna amea-
çoudeixaraF- 1 ”, em 1989 nãoha-
viareabastecimentonaF- 1.

PaINeLDoLeITor


folha.com/paineldoleitor [email protected]
Cartasparaal. barãodeLimeira, 425, São Paulo,CeP 01202-900. aFolhase reserva o
direitodepublicar trechos das mensagens. informe seu nomecompletoeendereço

Quarentaedois anos apósasua cri-
ação,oInstitutodoCoração do Hos-
pital das Clínicas daFaculdade de
Medicina da USP(InCor-HCFMUSP),
emSãoPaulo,atingiunesteanoos
melhoresindicadoresdedesempe-
nho cirúrgicodesua história. Os ín-
dicespassaramasercomparáveis
aos dos maiorescentros mundiais
de cirurgiacardiovascular.
Tãoimportantequantoaperfor-
manceemsiéofatodequeomo-
delo degestão que levouohospital
aatingiressesresultados inéditos é
passível de serreplicado no sistema
públicoeprivado de saúde, amplian-
dooalcanceeconômicoesocial que
oinstitutorepresenta paraopaís.
Em um sentido maisamplo,ele se
configuratambémnoalicerce defor-
talecimentodaculturadeexcelên-
cia emgestão da saúde. Isso porque
oInCor,como hospital públicouni-
versitário,formacentenas de jovens
médicoseespecialistas multiprofis-
sionais em saúde,quevãoatuar em

todooBrasil enaAméricaLatina já
comesseconhecimentoemmente
paraser aplicado.
Por ano,sãooperados no InCor
pertode 4. 000 pacientes cardiovas-
culares. Em sua maioria são proce-
dimentos de altacomplexidade,co-
mo os transplantescardíacos.Oau-
mentodas doençascrônicaseinca-
pacitantes,decorrência naturalda
maior longevidade, levouohospital,
na última década,aatender pesso-
as em situações cadavezmais gra-
ves. Sãopacientes que apresentam
maior fragilidadeetêmmúltiplas
doenças associadasàidade.
Para darcontadessecenário,há
seis anos iniciamosoProgramade
Melhoria Contínua da Qualidade em
CirurgiaCardiovascular. Seu objeti-
vo éconsolidaraculturadeseguran-
ça,padronizarotreinamento, me-
lhorarotrabalho emequipe e, so-
bretudo,monitorarodesempenho
institucionalcomvistasàentregafi-
nal ao paciente, queéasua saúde e

obem-estar restabelecidos.
Passamos entãoadefinir metas
anuais de númerodecirurgias,tem-
po de internação,taxade sobrevida
edeinfecção, entreoutros indicado-
resque são apresentados emreuni-
ão mensalmultidisciplinar.
Com isso,houvemodernização
dagestão dos leitosedafila cirúr-
gica,tornandomais ágiloseuaten-
dimento. Otimizamosaprepara-
çãoambulatorial dopacientepa-
raacirurgia eestabelecemos cri-
tériosdepriorização paraagenda-
mento cirúrgico. CriamosaUnida-
de CirúrgicadeQualidadeeSegu-
rançadoPaciente.
Osresultados já podem ser men-
surados. Em 2016 ,achancenoIn-
Cor deopacientereceber altaapós
acirurgiaderevascularização do
miocárdio —asfamosas pontes de
safena— erade 96 %. Em 2019 ,éde
99 %.Nacirurgiavalvar,entreoutros
exemplos positivos,asobrevida pas-
sou de 89 %( 2016 )para 96 , 2 %( 2019 ).
Desfechos semelhantestambém
foramobtidos em outras frentes
cirúrgicas,como as de doençasda
aortaedecorreção decardiopatias
congênitas,colocandooBrasil no
patamar dos melhoreshospitais do
mundo em sua especialidade.
Hojeatomada dedecisãoeages-
tãodoInCor acontecemcombase
nesse sistema de acompanhamen-
to edeanálise de indicadores siste-
máticos,comresultadoscadavez
maispromissores, provando que a
excelência em saúdeparaapopula-
çãopode,edeve, serapremissa de
um hospital público.

Nestaquarta-feira( 23 ), oministro
DiasToffolicompletou dez anos no
SupremoTribunalFederal.
Afirmou, em sua sabatina no Se-
nadoFederal,ter umúnico com-
promisso:aConstituição daRepú-
blica.Temahistóriacomo funda-
mentodesuaconduta.Éumgran-
deconciliador.
Em 2015 ,oSTFdefiniuanature-
za jurídicadacolaboração premia-
da.Otribunal, por maioria,acom-
panhouasua orientação.
Como presidentedoTribunal Su-
perior Eleitoral (TSE),oministroTof-
foli conduziucom firmeza as acirra-
das eleiçõesgerais de 2014.
Assumiuapresidência do Supre-
mo em um momentodifícil dahis-
tória políticadopaís. Enfrentaaal-
ta exposição dacorte, as divergên-
cias pessoaisinternaseapolariza-
çãoextrema da sociedade.
Agora,oSTF discuteaprisão em
segundo grau.Otema divideeapai-
xona.Fulaniza-seacontrovérsia.
Asolução seráaquela fixada por
sua maioria.Não podeadotar solu-
çãoporcontadepressões de qual-
quernatureza. Emtudo,ominis-
troToffoli agecom prudência, au-
tocontençãoerespeitoaos demais
Poderesecolegas.Assumeodiálo-
go comtodos.Sabe que interlocutor
não se escolhe:éaquele que estáaí.

Nãoabremão da defesa da Consti-
tuiçãoFederaledotribunal.
ASuprema Cortetem enfrentado
questões próprias da searapolítica.
Nãopor vontade própria.Ainiciati-
vaédosdemais Poderes, de parti-
dos políticos ou derepresentações
da sociedade.
Hoje,aradicalizaçãoeoódio in-
vadiramapolítica.Odiálogotole-
rante,forma de solver divergênci-
as,foisubstituído pelo surdo mo-
nólogodogrito. Adversárioévisto
como inimigo. Naverdade,ataca-se
paraser vistoeterespaçonamídia.
Oconflitoagudoeverborrágico
passouasercondição de notorieda-
de.Oprocesso políticoperdeuaca-
pacidade de solver suas divergências.
Asdivergências políticas sãoleva-
das ao tribunal.Provocado, oSupre-
motemque decidir.
Mas os juízos deconveniênciaede
oportunidade —própriosdapolíti-
ca—não seconfundemcom os ju-
ízos de legalidadeedeconstitucio-
nalidade—próprios da jurisdição.
Estaéatensãoexistenteeadisfun-
cionalidade.
Cobrar do Supremoquepaute
suas decisões em paradigma diver-
so da Constituiçãoéumequívoco e
umatentado ao Estado de Direito.
OSTFnão devese curvaranin-
guém.OSTFnão deve terenãotem

bandeirapolítica.OSTF aplicaede-
fendeaConstituição daRepública.
Esseéocompromisso do tribunal.
OJudiciário tratado passado,de
fatosque ocorreram.Nãosecons-
trói futurocomsentenças.
OministroToffoli sabe queoJu-
diciário julgaopassado.Sabe que o
Executivocuida do presente,coma
gestão das políticas públicas,eoLe-
gislativocuidadofuturo, comafor-
mulaçãodas leis.
Otratamentojurídicodosfatos,
no Estado democráticodeDireito,
éoresultado do embatedas corren-
tespolíticas noParlamento.
Énapolítica queseencontraavon-
tade popular.Comtodas assuas di-
vergências,contradiçõeseanomias.
OministroToffoli identifica,com
nitidez, as funçõesconstitucionais
dos Podereseosespaços decada um.
Éerradoatribuir-se ao tribunal o
poder de substituiroLegislativosob
oargumentodeexpandiraConsti-
tuição.Isso nada maisédoquere-
tóricaparajustificarausurpação.
Cada um emseulugar.Cada qual
comasua função.Comdiálogoper-
manenteeharmonia.Todoscom-
prometidoscomodesenvolvimen-
todo país.Éisso queaRepública
espera. Quem nãofazseu papelna
história nãoénem bom nem mau.
Pior —éinútil.
Nesses dez anos,oministroToffoli
soubeconstruir soluções epontes.
Temele claro queademocracia pro-
duzconsensoscomaadministração
políticados dissensos.Édissoque o
Brasilprecisa.
Lembrem-se do juristanorte-ame-
ricano Cass Sunstein: “Há riscoquan-
doépossívelidentificar osresulta-
doseatribuir probabilidadesaca-
da um deles. Há incerteza quando é
possível identificar osresultados, po-
rémnão as probabilidades de ocor-
rências detais resultados”.
Onde estamos hoje?

OSupremoTribunal


eoministroToffoli


Incor,ummodelo de


sucessoaser replicado


TeNDêNcIas/DebaTes


folha.com/tendencias [email protected]
Os arti gospublicadoscomassinaturanão traduzemaopinião do jornal. Sua publicação obedeceaopropósitodeestimular
odebatedos problemas brasileirosemundiaisederefletiras diversastendências do pensamentocontemporâneo


  • Nelson Jobim
    ex-presidentedoSupremotribunalFederal ( 2004 - 06 ),ex-ministro da Defesa ( 2007 - 11 ;governos Lulae
    Dilma)eex-ministrodaJustiça ( 1995 - 97 ;governo FHC)


  • Fabio JateneeRoberto Kalil Filho
    Diretor da Divisão de Cirurgia Cardiovascular do institutodoCoração do Hospital das Clínicas daFaculdade
    de Medicina da uSP (inCor-HCFMuSP)evice-presidentedoConselho Diretor do inCor-HCFMuSP




Diretor da Divisão de Cardiologia ClínicaepresidentedoConselho Diretor do inCor-HCFMuSP

excelênciatambém podechegar ao sistema público


Presidentedacorte sabeaimportância do diálogo


Carvall
Free download pdf