Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

cotidiano


aeee
Quinta-Feira,24DeOutubrODe2 019 B1

‘Mundo Novo’


planejado por


operadoras é


perversopara


seus pacientes


OpiniãO


  • Teresa Liporace e
    Marilena Lazzarini
    Diretora-executivaepresidentedo
    conselho diretor do idec (instituto
    brasileirodeDefesa do Consumidor)


Em artigopublicado em julho
naFolha,ojornalistaElio Gas-
parirevelou um anteprojeto
àlei dos planos de saúdeges-
tado pelasoperadoras.
Odocumentointitulado
“MundoNovo”propõe au-
mentar os lucros das opera-
doras de planos de saúdere-
tirando direitos dos usuári-
os,reduzindoaregulaçãoea
fiscalização aplicável àsem-
presas, diminuindoacarga
tributária paraosetoredifi-
cultandooressarcimentoao
SUS (Sistema ÚnicodeSaúde).
Sobajustificativadaperda
de clientelaedificuldades en-
frentadas pelo setor nos últi-
mos anos,ocerne da proposta
éaumentarganhosfinancei-
ros, oferecendo planos mais
baratos,comcoberturame-
nor,visandoarecuperarcon-
sumidores quesaíramdesse
mercado justamentepelasdi-
ficuldadeseconômicas.
Os dados da ANS(Agência
Nacional deSaúde Suplemen-
tar) confirmam queda decer-
ca de três milhões de usuários
dos planosde saúde.Amaio-
ria dos segmentos empresa-
riaisfoieaindaéafetada pela
criseeconômica que assola o
país nosúltimosanos.
Porém, as operadorascon-
seguiramcompensaraper-
dacobrando mais, viareajus-
te de mensalidades,cobrindo
despesas assistenciaiseman-
tendo seus lucros inalterados.
Como severificanas infor-
mações da ANS, em 2017 a
margemdelucrolíquidodas
operadorasdosegmentomé-
dico-hospitalar permaneceu
estável. Em 2018 ,oresultado
líquido,conformeapublica-
çãoPrisma Econômico-Fi-
nanceirodaSaúde Suplemen-
tar, teve sensível crescimento.
Segundoosdados anuais
da agência, ascontrapresta-
ções efetivas das operadoras
de planos de saúde somaram
R$ 197 , 43 bilhões no anode
2018 ,easdespesas assisten-
ciaistotalizaram R$ 161 , 46 bi-
lhões.Na comparaçãocom
2017 ,receitas cresceramcer-
ca de 9 %, enquantodespesas
subiramemtorno de 7 %.
Aindaassim,operadoras
querem ampliar suasvanta-
gens.Aproposta, que estásen-
do chamada “pay-per-view”,li-
mitará atendimentosaproce-
dimentoseconsultas simples,
deixandodeforaouabrindo
caminho paracobranças abu-
sivasdetratamentos de doen-
çascomplexas,comocâncer,
doençascardíacaseoutras.
Esses planostambém afeta-
rãoarelação médico-pacien-
te umavezque, segmentados,
deve haverrestriçãoaproce-
dimentos,exameseaté mo-
nitoramentoprofissional. É
um “mundo novo”eperverso.
Pretende-seatrair cidadãos
em dificuldade financeiracom
planos decoberturareduzida
ebaixas mensalidades,sem
preocupaçãocomimpactos
negativos paraindivíduosefa-
mílias no momentodoadoeci-
mento, quandoterãoquere-
correr ao SUS ou custear tra-
tamentos nãocobertos.
Em vigor desde 1998 ,alei
dos planos de saúde impõe
uma listadeexamesetera-
pias que deve ser ofertada.
OCódigodeDefesa do Con-
sumidor se aplicaaomerca-
do de saúdesuplementar, en-
tendimento pacificado na Sú-
mula 608 do SuperiorTribu-
nal deJustiça(STJ).Essatem
sidoaúnicaopção de milhares
deconsumidores lesados por
operadoras.Eajudicialização
só aumentarásetal proposta
se concretizar.Épreciso man-
terosdireitos conquistados.

$
Saibaquais
são as
propostas das
operadoras

Reajustedeplano
individual
Flexibilizaroreajuste
da mensalidade dos
planos individuais,
hoje fixado pelaANS

Reajustepor
faixa etária
Operadoras querem
rever asregras
atuais,que vedam
aumentos paraos
maiores de 60 anos

Planos
segmentados
Hoje,todos
os planostêm
quecobriruma
lis tamínima de
procedimentos;
empresas querem
aval paraoferecer
planoscom
coberturas mais
limitadas:só
consultaseexames,
só alguns tipos de
procedimentos etc.

Procedimentos
obrigatórios
Empresas
defendemregras
mais rígidas para
inclusão de novos
procedimentos no
roldecoberturas
obrigatórias


  • Natália Cancian


BRASÍLIAEm novatentativa
deganhar espaçonomerca-
do após perderem usuários,
operadorasde planos desa-
údetêmreforçadoapressão
juntoaoExecutivoeao Con-
gresso em buscadeflexibili-
zar asregrasatuais do setor.
Atáticaédebatermedidas
que deem impulsoàcontrata-
çãodos chamados planos in-
dividuais, não ligadosaem-
presas, que escasseiam.
OBrasilsoma 47 , 1 milhões
depessoas complanos de sa-
úde,dos quais 9 milhões( 19 %
dototal) são individuaisefa-
miliareseosdemais,coletivos
(empresariais ou por adesão).
Para reverteroquadro, opera-
dorasatuam em duasfrentes.
Aprimeiraépressionar
CongressoeExecutivopela
flexibilização dasregras de
reajustedemensalidadedos
planos individuais. Hoje, o
percentual máximo dereajus-
te desses planoséfixado pela
ANS,agência queregula ose-
tor, sobjustificativadeevitar
abusoscontraoconsumidor.
Empresas, porém, alegam
queovalor,nessescasos,tem
ficado abaixodos custos pa-
gospelas operadoras—daí a
proposta deavariação serre-
gida pelo mercadocaso acaso.
Em outrafrente,ogrupo
propõe novosprodutos ebus-
ca aval para ofertar planos seg-
mentados ou “customizados”
—versõesreduzidas queseri-
amvoltadas para alguns servi-
çosetipos deatendimentos.
Asregrasatuais preveem
umalistamínima de servi-
çosacobrir,algoque asope-
radoras chamam de “entrave”.
Aspropostas serão apre-
sentadasnestaquinta( 24 )em
eventodaFenaSaúde, associ-
ação querepresentaasprinci-
pais operadoras,eoutras enti-
dades do setor comapresen-
ça do ministrodaSaúde, Lu-
iz HenriqueMandetta,edo
secretário especial daPrevi-
dênciaRogério Marinho,ex-
relatordotema no Congresso.
Asideias jágerampolêmica.
Naterça( 22 ), 25 entidades
querepresentam associações
médicasedeconsumidores
assinaram um manifestoque
chamaas propostas de“ata-
que aosconsumidores,paci-
entesemédicos”eafirmaque
amudançapodefazercom
queousuário do plano pague
semreceberoatendimento
completodeque necessita.
Asoperadoras, por suavez,
alegam quearevisãoéneces-
sária diantedoenvelhecimen-
to da populaçãoeaumentode
gastoscomdoenças crônicas
enovas tecnologias.
Outrofator éacriseeconô-
mica,oquetemlevadoauma
migração de pessoascompla-
nos de saúde paraoSUS.Nos
últimos três anos,osetor per-
deu 3 milhõesde usuários.
“Parater acesso ao plano de
saúde,temqueteremprego
formal. Mas nãotemos sina-
lizaçãodemedidaseconômi-
casque tragam aumentoex-
pressivodeempregos”,disse
àFolhaadiretora-executiva
daFenaSaúde,Vera Valente.
“Qualocaminho? Corrigir o
reajustedoplano individual e
terplanoscomsegmentação.”
Nessecaso,ousuáriopo-
deria optar porplanosres-
tritosaconsultaseexames,
sematendimentoemergen-
cial ou por planoscom“mó-
dulos”voltadosaterapiases-
pecíficaseatendimentos hos-
pitalares, porexemplo.
Emcaso de procedimen-
tosnãocobertos,ousuário
recorreria ao SUS.Asempre-
sas,contudo,sugerem que ele
possa entrar diretamentena
fila poratendimentonarede
públicasemterquerepetir
examesequeaestruturapos-
sa sercompartilhada.


Operadoras pressionam por


miniplanos de saúde ereajuste


empresas promovem propostasaCongressoeministério; entidades criticam


ParaReinaldo Scheibe, da
Abramge, associação que en-
globa algumas das principais
operadoras,amedida segue a
buscadapopulação por apli-
cativos,clínicaspopularese
planosmaisbaratos.
Especialistas, porém, levan-
tampreocupações.Para Ma-
rilena Lazzarini, doconselho
do Idec(InstitutoBrasileirode
Defesa do Consumidor),apro-
postacontraria os interesses
doconsumidor(leia ao lado).
Avaliação similarfazMário
Scheffer,daUSP,paraquem a
ofertadeplanos segmentados
contrariaasevidênciasepo-
de prejudicarousuário.“São
planosque deixamdefora
osatendimentos maiscaros,
como sefosse possível parao
usuário prever oquevaiacon-
tecercomasua saúde”,afirma.
“O mercado de planos de sa-
údedobrounos últimos anos,
eoSUS não se beneficioucom
isso.Vão empurrarcadavez
maisparaoSUS crianças, ido-
sosecasosdecâncer,porque
essesplanos nãovãoatender
essasnecessidades.”
Asoperadoras minimizam o
problema. “Muitosdizem que

não podeterplano segmenta-
do porque não hácomo saber
oquevaiacontecer na saúde
das pessoas.Sóque,nadúvi-
da, muitas pessoasficamho-
je semnada”, afirma Scheibe.
Asoperadoras propõem
tambémretomaradiscus-
são da previsão dereajustes
divididos porfaixas etárias, e
quehojevedam aumentopa-
ra usuários acimade 60 anos.
“Esse modelooneratodo
mundo,inclusiveaspessoas
maisvelhas”,diz Valente, pa-
ra quemamedida desincenti-
va aofertadeplanos individu-
ais. Ela defende ainda limitar
aincorporaçãodenovas tec-
nologiasnos procedimentos
obrigatórios dos planos.
Aarticulação dasoperado-
rasocorrenomomentoem
queoCongressodiscuterecri-
ar umacomissão especial pa-
ra mudar asregras de planos.
Ao mesmotempo,ogover-
no estudareativaroConselho
NacionaldeSaúde Suplemen-
tar, órgãoformadopor repre-
sentantes devários ministéri-
os que dá diretrizes ao setor.
Osetorvêaideiacomo si-
nal de interesse dogoverno

em mudar asregras, enquan-
to especialistas apontam uma
tentativadeinterferência nas
atribuiçõesda ANS.
ÀFolha,oministroMandet-
ta refutatal intençãoediz que
aideiaéalterarregras infrale-
gais quegeramcustos ao setor.
Eleconfirmaterrecebido
sugestõesde empresas, mas
diz que ainda não as analisou.
Mandettadefende, porém,
discussões sobre alguns pon-
tos, comoaofertadeplanos
segmentados,ediz queode-
bate deeventuais mudanças
deve ocorrernoCongresso.
AANS afirma querecebeu
ofício derepresentantes de
operadoras e, “emborareco-
nheçaque entidades possam
promoverdebatesetorial, es-
clareceque jávemdiscutin-
domedidasparaoenfrenta-
mentodos desafios do setor”.
Entreostemas na agenda
do órgãoaté 2021 estãoaga-
rantia de acesso da população
aos planos de saúde, mudan-
ça nosmodelos deremunera-
çãoquegarantam sustentabi-
lidade ao setorearevisão do
roldeprocedimentos míni-
mos obrigatórios nosplanos.

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