Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


C4 Quinta-Feira,24DeOutubrODe 2019


CrítiCa
Downton Abbey-OFilme




reino unido,2019. Direção:Michael
engler. Com:Maggie Smith,imelda
Staunton, Michelle Dockeryeallen
Leech. 12 anos. estreia nestaquinta (24)



  • TonyGoes


Baseado na série deTVque du-
rouseistemporadas, “Down-
tonAbbey-OFilme”fecha um


ciclo quecomeçouháquase
20 anos,também no cinema.
Seu antepassado direto é“As-
sassinatoemGosfordPark”
( 2001 ), queteve direção deRo-
bert Altmaneroteiroqueva-
leu um OscaraJulianFellowes.
Muitos dos elementosque
maistardeseriamfontedede-
leite para telespectadores no
mundo inteirojáestavam lá:
um palácio nointeriorda In-
glaterra,asuave tensãoentre

os patrões aristocrataseseus
empregadoseMaggie Smith.
Fellowesreaproveitou es-
ses ingredientes em “Down-
tonAbbey”,que nasceuco-
mo uma minissériefechada
nocanal britânicoITV.Mas o
sucessodeaudiênciaecrítica
foitamanho que novastempo-
radas logoforam produzidas.
Agora,olongareencontra
os personagens em 1927 ,dois
anosapósofimdasérie.Nada

mudou naresidência, mas um
acontecimentoportentoso sa-
code arotina: umavisitadorei
George 5 ºesua esposa,arai-
nhaMary. Ou seja,umenor-
me“whitepeople problem”
(problemadegentebranca),
aexpressão que surgiu nos Es-
tadosUnidos paradefinir os
perrenguesdos privilegiados.
Achegada iminentedos hós-
pedes deslanchaumfrenesi
nãosónocastelo,comotam-

bém na aldeia vizinha.Tam-
bém afloram pequenosconfli-
tos: Fellowestomouocuida-
do de presentear quasetodo
oimenso elencocom pelo me-
nos um momentomarcante.
Mas quemroubaacenaéla-
dy VioletGrantham (Maggie
Smith),amatriarcasem papas
na língua.Aatriz admitiudi-
versasvezesque estavafarta
da personagemequeatégos-
taria que ela batesse as botas.

Como sobremesa após obanquete que


foiasérie,filme ésuntuosoeenjoativo


Longa‘Downton abbey’satisfaz osfãs, mas quem nunca viu original nãotemmotivos paraassistir


Noentanto,láestáela nolon-
ga,disparando alfinetadas.
Nemtudoéfutilidade nesse
ambienterarefeito. Umsepara-
tistairlandês planeja umregi-
cídio.Umsegredodedécadas
vemàtona, alterando as pers-
pectivas dafamília.E,natra-
ma paralela mais interessante,
omordomo ThomasBarrow
(RobertJames-Collier)des-
cobreumsubmundogaynas
vizinhançasdeseu emprego.
Nada dissofazcom queofil-
me do diretor MichaelEngler,
quevemdeuma bem-sucedida
carreira naTV,deixedepare-
cerumepisódio especial da sé-
rie.Oorçamento dilatado per-
mitiubelas tomadas aéreas da
propriedade, figurinos ainda
maisrequintadoseuma no-
va versão orquestraldatrilha
sonora. Mas quem não acom-
panhouasérietalvez nãote-
nha motivoparairaocinema.
Já quemera fã não sairáde-
sapontado.“Downton Abbey
-OFilme”podenão transcen-
der sua origemtelevisiva, mas
cumpretudooque promete, e
da maneiramais satisfatória.
Os aficionados irão adorarre-
vertantosvelhosconhecidos
esaber que eles estão bem.
Mais paraofinal,“Downton
Abbey” explicitaoque já erao
leitmotiv da série:ainexorá-
velmarcha dotempo.Opas-
sado idealizado —pois asre-
lações enteasclasses sociais
nuncaforamtãocordatasco-
mo aparecem natela— dá lu-
garàrealidadedocotidiano.
Haverá um segundolonga?
Talvez: noexterior,osucesso
de bilheteria surpreendeu os
produtores. Mas essaconti-
nuação é,como diriaacon-
dessa,perfeitamentedesne-
cessária. “Downton Abbey”
no cinemaéasobremesa,
suntuosaeligeiramenteenjo-
ativa, de um banqueteque já
duraquase uma década. Uma
pessoarefinada sabequando
chegaahoradeparar.

JoanneFroggattemcena de ‘Downton Abbey-OFilme’ Divulgação


Sociedadefrancesa acertasuas diferenças


em escola na comédia‘Luta de Classes’


Cinema
LutadeClasses
*****
França, 2019. Direção: Michel
Leclerc. Com:Leïlabekhti,Édouard
baer eramzy bedia. 12anos.
estreia nesta quinta(24)


  • NeusaBarbosa


Uma escola públicaprimária
emBagnolet, subúrbioanor-
destedeParis,éocenário onde
se jogaacontinuidade do pac-
to republicano francês em “Lu-
ta de Classes”,espertacomé-
diadodiretor Michel Leclerc
que aborda alguns dos prin-
cipaisconflitos étnicosereli-
giosos de umaFrançaaturdi-
dacomaprópria diversidade.
Sintomaticamente,aescola
chama-seJeanJaurès, nome
dopolíticosocialista francês
moderado que pregavauma
revoluçãosocial não-violen-
ta.Éaquique Corentin(oes-
treanteTom Lévy), denove

anos,vaidesembarcar, vindo
docentrodeParis, depois que
seuspais decidiramsemudar
paraumacasinhanosubúrbio.
Naverdade, estesonhoéda
mãe,aadvogadadeorigem
árabe SofiaBelkacem (Leïla
Bekhti).Masopai, oroqueiro
punkPaul Clément (Édouard
Baer), fiel ao espíritoanticon-
vencional,abraçaoprojeto
de uma vida mais despojada.
Naescola, Corentin, quetem
pais agnósticos, convivecom
umamaioriade colegas muçul-
manos, queoassombram di-
zendo queele iráparaoinfer-
no pornão acreditar emDeus.
Diretorconhecidopor obras
de temas provocadoresepega-
da política,como “OsNomes
do Amor”e“Anos Incríveis”,
Michel Leclerc tomaopulso
deumaFrançaapegada aos
seusvaloresrepublicanoselai-
cosmas desafiadaaacomodar
de um modo novo todas as di-
ferenças da população.

Umexemplo, no filme,está
nas preferências alimentares.
Para decidiromenu dacantina
escolar, aprofessora (BayaKas-
mi,corroteiristacom Leclerc)
sua frio paraencontrar pala-
vras politicamentecorretas
paraindagarosalunossobre
oconsumodecarne de porco.
Ofatodeserem crianças vi-
vendo estes embates, colocan-
do adultos emxeque,injeta
uma leveza queofilmenão te-
ria de outromodo,dadoopo-
tencialexplosivodatemática.
Mas as situações contrapon-
doos paisaflitos,crianças em
polvorosa eopragmáticodire-
tordaescola (RamzyBedia)
permitem desafogar asten-
sões de modo mais engenho-
soesutildoque sugereoter-
rível trailer—por algumara-
zão,destaca-se nele um antigo
clipe da bandadoroqueiro Pa-
ul,que dáaimpressão de que
atramaémaisdebochada e
histéricadoquerealmenteé.

ÉdouardBaer,TomLévyeLeïlaBekhti emcena do filme Divulgação
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