Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


Quinta-Feira, 24 DeOutubrODe2 019 C5

Pastor ecolunistasocialénomeadoàAncine


edilásiobarraseráresponsável pelagestão doFundo Setorial doaudiovisual, que movimentou r$ 800 mi no ano passado



  • GustavoFioratti


SãoPauloConhecidocomo
Tutuca,oapresentador,ator,
jornalistaetambémbispoEdi-
lásioBarraassumiráaSupe-
rintendência deDesenvolvi-
mentoEconômicodaAgên-
ciaNacionaldeCinema,aAn-
cine.Nocargo, seráresponsá-
velpelagestão doFundo Se-
torial doAudiovisual (FSA).
Anomeaçãofoi anunciada
no Diário Oficial da União nes-
ta quarta-feira ( 23 ).OFundo
Setorialéoprincipal meca-
nismo defomento diretoàin-
dústriadocinemaedoaudi-
ovisual no país.Em 2018 ,mo-
vimentouR$ 800 milhões e,
nesteano,até agora, pelo me-
nos R$ 396 milhões, segundoa


própria assessoria da Ancine.
Tutucajá havia sido indi-
cado,noprimeirosemestre,
aumcargona pasta da Cida-
dania.OministroOsmarTer-
ra teve como planocolocá-lo
na direção da Secretaria de
Audiovisual, queévinculada
àSecretaria Especial de Cul-
tura.Mas houveresistência
mesmo entrebolsonaristas.
Oatoredeputado Alexan-
dreFrota,então noPSL—ex-
pulsodalegendaporinfide-
lidade partidáriaeagorafili-
ado aoPSDB—reclamou na
ocasião queTutuca não tinha
formação paraocuparocar-
gona Secretaria de Cultura.
OsmarTerraentãorecuou
da decisão,mas, em julho,aca-
bou dandoaTutucaocargo

de diretordoDepartamen-
to de PolíticasAudiovisuais.
Entreasatribuições deste
cargoestavamaelaboração
de estudosemetas paraas
políticas do setoreaformu-
lação de programas defomen-
to para oaudiovisualnopaís.
Tutucatevesuacarreira
marcada por trabalhos na
televisão,primeiramenteco-
moator,depoiscomo apre-
sentador. ComandouoPro-
grama VIP,naRedeTV!, cujo
foco eramos temas decoluna
social.Tambémtrabalhouna
CNT,entrevistando artistas,
socialiteseempresários—e
por essestrabalhosjáfoi cha-
madode“AmauryJr. carioca”.
Formado jornalistaem 1984
epós-graduado pela Univer-

sidadeCandido Mendes, do
Rio,atuou aindacomo dire-
tordoprograma Rio dePrê-
mios,exibido pelaRecord,e
do esportivoCopa Super 7
também naRedeTV!.
Foiumdos fundadores, em
2011 ,daIgrejaContinental do
AmordeJesus, quetem sede
no Rio deJaneiro,daqualépas-
tor. Também secandidatoua
vereador peloPSDnacapital
fluminense em 2012.
Nasuperintendência de de-
senvolvimentoeconômicoda
Ancine, entreoutrasatribui-
ções, ele será responsávelpe-
la operação daschamadas pú-
blicas doFundo Setorial.
Éumacadeiraque desem-
penhapapel fundamental na
concretização de diversos ob-

jetivos da agência, “entreeles
aumentaracompetitividade
da indústria,promoverasus-
tentabilidade própria do setor
epromoveraarticulação dos
vários elos dacadeiaproduti-
va do audiovisual”,diz notada
agência sobreanomeação.
Também, segundoaasses-
soria de imprensa da Ancine,
ocargo respondepor “estimu-
laradiversificação da produ-
çãoparaocinemaeparaaTV
eofortalecimentodaprodu-
çãoindependenteedas pro-
duçõesregionais [no país]”.
ParaMarcelo Calero,mem-
brodaComissão de Culturana
Câmara,anomeação deTutu-
ca mostra“umacontradição
comopróprio discurso pelo
qualBolsonarofoi eleito, ode

preenchimentodecargospor
critériostécnicos”.
Para odeputado,queétam-
bémex-ministrodaCulturado
governodeMichelTemer,a
nomeação“fazpartedeuma
ondaobscuraque nãoconse-
gueenxergaroóbvio caráter
estratégicodosetor”.
Outros cineastaseprofissi-
onaisda áreapreferiram não
opinar sobreanomeação de
Tutuca,alegando que eles não
oconheciamosuficiente.
Oque está sendoconsidera-
do pelo setoréque há grandes
chances de que, futuramen-
te,Tutucapasseaintegrar a
direção da Ancine.Procura-
do pelaFolha,ojornalista e
pastor diz que sóconcederá
entrevistas apósasua posse.

Filmado por americano emfavela carioca,


longa ‘Pacificado’mostramais do mesmo


cinema
Pacificado




brasil/eua, 2019.Direção: Paxton
Winters. Com:bukassaKabengele,
CassiaGil eDéboranascimento.
16 anos.MostradeSP:qui.(24), às 21h,
no Petrabelas artes(r. da Consolação,
2.423);sex.(25), às 16h, no iMS (av.
Paulista,2.424); seg.(28), às 18h10, no
espaçoitaú-august a(r. augusta,1.475)



  • Sérgio Alpendre


“Cidade deDeus”,deFernando
MeirelleseKátia Lund, inau-
gurouumnovofilãono cine-
ma brasileiro, o“favela mo-
vie”.Otermo,normalmente
usado assim mesmo,emin-
glês, emvezdetraduzido,é
pernicioso,pois pressupõe
uma internacionalização de
um problema social brasilei-
ro pela viadoexotismo.
Paxton Winterséumcineas-
ta efotojornalista americano
que morou oitoanos no Mor-
ro dosPrazeres. Isso lhedeu
condições parafugir doró-
tulo,umavezque seriaten-
tador empregá-lo em seu se-
gundo longanadireção,“Pa-
cificado”,simplesmentepor
sua nacionalidade.
Masoolhar estrangeiropo-
de ser agudoejusto, comooci-
nemaassim demonstroumui-
tasvezes (Fritz Lang nos EUA,
porexemplo). Nãoháproble-
ma algum emtermos um di-
retorestrangeiroabordando
umtema bembrasileiro.
E“Pacificado”avançaalguns
degraus narepresentaçãore-
centedeumacomunidadeca-
renteemnossocinema. Mas a
aproximação da tramacom o
padrãohollywoodiano, noca-
so,éum problema, peloexces-
so deconvençõesdanarrativa.
Opontodevistapredomi-
nante, pelo menos no início,
éodagarotaTati(Cassia Gil),
que nãoconhece opai, ensaia
passos de funkcomaamiga
Letícia (RayaneSantos)evêa
mãe,Andrea(DéboraNasci-
mento) se afundando no vício.
Jaca (oator belgaBukassa
Kabengele),ex-líder do tráfico


no morro, voltadacadeia, on-
de passou 14 anos(mais ou me-
nosaidadedeTati). Sabemos
logoque eleteve um envolvi-
mento comAndrea,oque per-
miteacharmos que naverdade
Jaca(Jack?)éopai deTati (ela
também achaisso, por sinal).
Masocentrodofilmeéa
quaseinevitabilidade deJa-
ca voltar aocomando do trá-
fico, umavezqueojovem que
ele mesmocolocou em seu lu-
gar, Nelson (JoséLoreto),tem
modos demasiadamentevio-
lentos, desequilibrandoavida
dos moradores locais.
Talcomo Michael Corleone,
opersonagem de AlPacino em
“O Poderoso Chefão”,Jacaes-
tá maisinteressadoemoutros
assuntos: nestecaso,apizzaria
que montanoinício do morro.
Decertomodo,isso quer di-
zerque há traficantebom e

traficanteruim, divisão pre-
sentetambém na trilogia de
Coppola. Háoque procura
evitar queocrack se espalhe
pelomorroeaquele que só
quer dinheiroepoder.
Penaque no desenvolvi-
mentodatrama muitodo
quevemos nos parecemais
do mesmo,desdeacarac-
terização dospersonagens
mausatéassoluções dramá-
ticas adotadas dentrodos re-
gistros da vingança, do suicí-
dioedaintimidação.
Aviolênciaémais sugeri-
da do que mostrada,oque
éumpontoqueodiferencia
dos demais filmes de tráfico
nafavela. Mas há umaterrível
exceção: ocortenorostode
uma adolescente, inserido pa-
ra mostraramaldadedeNel-
son. Afinal,édifícilresistir às
facilidades do maniqueísmo.

Cena de ‘Pacificado’,coprodução entreBrasileEstados Unidos Divulgação

Free download pdf