Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


C8 Quinta-Feira,24DeOutubrODe 2019


mostra.org


NINAPANDOLFO
patrocínio

colaboração realização

patrocínio master parceria apoio

transportadora promoção
oficial

copatrocínio

MINISTÉRIODACIDADANIA,


GOVERNO DOESTADO DESÃOPAULO,


PORMEIODASECRETARIA DE CULTURA


EECONOMIA CRIATIVA,PREFEITURA


DESÃOPAULOEITAÚ


apresentam

17_30.10. 2019



  • Felipe Maia


MadriOmonastériodeFelipe
2 º, joiaarquitetônicadaRenas-
cençaespanhola,atraituristas
detoda parte aSan Lorenzo
de El Escorial —pequenacida-
de espanholaameiahorade
Madri.Oque poucossabemé
que há outrotesouro encrava-
do nascolinasdaregião.
Espalhado noscômodos de
umarequintadacasa decam-


po,ele éformado porfotos,
fitas,CDs,livros, bibelôseál-
buns vindos do outrolado do
oceano. Oapanhado alibabes-
coéacoleçãoGladysPalme-
ra,maior acervode música
latino-americana do mundo.
Acasa abrigamais de 100 mil
itens —metade delessão LPs.
Os discosenglobamoperíodo
quevaidas gravações emgo-
ma-lacadoiníciodo século 20
aos bolachões dos anos 1970.

Uma prateleiraque sobeaté
opédireitoguarda álbuns es-
quecidos dacantoracubana
Freddy.Dentrodeumarqui-
vo deslizante, desses debibli-
oteca, repousam gravações de
Tito Puentes, orei do mambo.
Aprimeiraediçãodoclássico
“ATábua de Esmeralda”, de
JorgeBenJor, também está lá.
“Esta éumacasa da músicae
não só umacoleçãodediscos”,
dizJosé Arteaga,ocicerone de

pesquisadores, músicoseafi-
cionadosque passam porali.
Defato,paraalém dos ál-
buns,capasdediscoeescul-
turas dejaguares oucactos
—a baixa umidade daregião
favorece aconservaçãodos vi-
nis—,acasa hospedaumará-
dio que leva omesmo nome da
coleção. Aestação transmite
pela internet partedoacervo,
umareferência na divulgação
da música latino-americana.

Interior espanhol abriga maior


acervomusical latinodomundo


ColeçãoGladysPalmeraéformada porfotos, fitas, CDs, livros, bibelôseálbuns


José édiretor darádioebra-
çodireitodesua fundadora,
AlejandraFier ro.“Eucome-
ceiacoleçãosemsaber,aos 18
anos”, lembraela. “Passei seis
meses noPanamáemeu pri-
meirodiscofoi ‘Metiendo Ma-
no’,deRubénBlades.”Entreas
décadas de 1980 e 1990 ,Alejan-
draaumentouacoleçãocom
CDs. Em 1999 ,estreou sua pró-
pria estação autofinanciada.
Acoleçãoearádio hoje dão
lugar de destaqueàmúsica
afrocubana,ritmoscaribe-
nhosejazz latino.Cantoras de
gêneros clássicos da América
Latina,como rumba, cumbia e
bolero, tambémtêmprivilégio.
“A s‘latin divas’,como eu
as chamo,sempreforam
meu pontofraco”, diz Alejan-
dra. “Elassão mulheres de
vozecaráterfortes,que im-
puseram seu estiloedeixa-
ramumamarcanamúsica.”
Nessa listaentram, porexem-
plo,amexicana ElviraRíos e
abrasileiraElizeth Cardoso.
Os discos brasileiros somam
poucomenosdemil exempla-
res, masacuradoriaérefina-
da.“A músicabrasileiraélati-
no-americana”, dizJosé. “Mas
oBrasilé,paranós, um mun-
doàparte, um mundo que po-
deria crescer infinitamente.”
Algumas das pérolascata-
logadas sãoaprimeiraedição
de “Chega deSaudade”,deJo-
ão Gilberto, lançada em 1959 ;
oálbum de estreia de Hebe
Camargo,“Sou Eu”,de 1960 ;
“Fotografias!”,último docan-
torTaiguara aser lançado no
Brasil,em 1973 ;eaversão ori-
ginalde“OPoetadoPovo”,de
João doVale, de 1965.
Boapartedoacervodedis-
cosfoiadquiridanosúltimos
dezanosemincursõesrea-
lizadas porJoséeAlejandra
por maisde 40 paísesecida-
des,comoBogotá,Cali,No-
va York eMiami.Éumtraba-
lhodearqueologiaaqueco-
lecionadoresestão acostuma-

dos. “É preciso criarumarede
decontatos”,sentenciaJosé.
Hoje,arededeamigos e
mercadores online,juntode
sitesespecializadoscomo
eBayeDiscogs, substituiu as
viagens paranovas compras.
Oacervoagorase alimentade
peçascerteiras, obras de de-
terminados artistaseimagens
específicas: hácercade 4. 000
fotosdemúsicos nacoleção.
Qualidadeebonscuidados
também são preocupações.
“Umavez adquirimos umaco-
leçãode 10 mil discos emNova
York,que estánonível do mar”,
lembraJosé.“A qui,temos um
clima mais seco,entãocom-
pramosumidificadores para
que os discos pudessem ‘res-
pirar’antes de serem abertos.”
Cerca de dez pessoas traba-
lham no acervo,entreaquisi-
ção, catalogaçãoeprograma-
çãodarádio. Naestaçãotam-
bémtoca músicanova, doreg-
gaeton mais popanovas es-
trelas do jazzlatino.Paraoes-
pecialistadacoleção, oconti-
nenteviveummomento mui-
to fértil na música, mas nem
tudoéperene. “Jánão se gra-
vamdiscoscomo antes,ovo-
lumeémenor”,lamentaJosé.
Asobrasdetempos idos da
GladysPalmera tambémvão,
poucoapouco, entrando no
mundo do streaming. Digita-
lizaredisponibilizartodo o
acervo pela internetéum dos
objetivosalongoprazo.Nada
que secompareàexperiência
de adentrar aquelacasa no alto
dacolinaetopar,nagaragem,
comaprimeiraprensagem de
“Os Afro-sambas” deBaden
Powell eViniciusde Moraes.
“Quando se digitalizames-
sascópias, podemosfazerou-
tros projetos,como progra-
mas,playlists, muitascoisas”,
dizJosé. “O mais bonitoque
pode acontecer auma músi-
caé, como dizia GarcíaMár-
quez paraoslivros, que ela
passe de mão em mão.”

Capa do álbum ‘O Fino do Fino’,deElisReginaeZimboTrio FelipeMaia/Folhapress

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