Folha de São Paulo - 24.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


turismo


Quinta-Feira,24DeOutubrODe2 019 D5

‘Visitei 39 praias de4estadosesóvióleo


em uma, masodesastreéimprevisível’


depoimento


  • Carolina Muniz


SãoPauloMinha passagem
aérea paraJoão Pessoa já es-
tava comprada quando sur-
giram as primeirasnotícias
de manchasde óleoemprai-
as nordestinas.
Oplano erapercorrer de
carroolitoral deParaíba, Rio
Grande doNorte, Pernambu-
co eAlagoas.Depois de 22 dias
de viagem,odestinofinalse-
riaMaceió,deonde euemeu
namorado pegaríamosovoo
devoltaparaSãoPaulo.
Àsvésperas da saída paraas
férias,em 28 de setembro,to-
dos os estados doNordesteti-
nham sido afetados,exceto a
Bahia—oque nosfezpensar
napossibilidade de mudar o
roteiroedirigiratélá. Diasde-
pois,oóleotambémcomeça-
va aalcançaracostabaiana.
Ojeitofoi iretorcerpa-
ra quetudo dessecerto. Era
nossa primeiraviagem gran-
de juntos, depoisdeanos sem
conseguirconciliar asférias.

Chegamos apreensivos.Nas
areiasdeJoão Pessoa, não en-
contramosnadade óleo.Ne-
nhumvestígiotambém nas
praiasdo Amor,deCoqueiri-
nhosedeTambaba, que ficam
ao sul dacapital paraibana.
Naparada seguinte,Natal,
vi em umtelejornal local que
um banhistahavia se sujado
de óleonapraia deRedinha
Nova,nomunicípiovizinho
de Extremoz.Mas, naquela
região,também não cruza-
moscomnenhuma mancha.
Num passeioàspiscinas
naturais de Maracajaú, mari-
nheiros do barco nos disseram
que, depois da limpeza dos
resíduos da areia,oóleonão
havia sido mais vistopor ali.
Em 7 de outubro,ao na-
darrodeada porgolfinhos
na praia dePipa, a 80 quilô-
metros dacapitalpotiguar,ti-
ve convicçãodeque, naquela
partedolitoral nordestino,o
pior já havia passado.
Seguimos assim porRecife,
PortodeGalinhas, Carneiros
eMaragogi.Atéque, aoche-
garaPortodePedras, em Ala-

goas, soubemos queoóleoti-
nhavoltadoaatingiroestado.
Ao visitarosantuáriodo
peixe-boi marinho,noestu-
ário do rioTatuamunha, um
guia nos mostrou um vídeo
no qual ele havia gravado pe-
quenasmanchasnapraia. Sua
grande preocupação eraque
oóleopudesse afetar os ani-
mais, ameaçados deextinção.
EmSãoMiguel dos Milagres,
encontramos na praiadePor-
to daRuauma únicamancha,
poucomaiordoque umamo-
eda, em 16 de outubro.
Já hospedados em Maceió,
que estavalivredeóleo, vimos
atristenotícia de queasubs-
tânciacobria as areias de al-
guns dos lugares mais bonitos
pelos quais passamos:Mara-
gogi e, maistarde, Carneiros.
Isso nosmostrou queode-
sastreémesmoimprevisível.
Locais que já sofreramcomo
problemaumavezainda não
estãoasalvo. De 39 praias visi-
tadas nos quatroestados, nos
deparamoscomuma pequena
mancha em apenas uma de-
las.Masaincerteza continua.

Sonteria/Folhapress


Bahiatenta afastar manchas da alta temporada


Setor de turismonegaimpacto, mastemeavançododesastreparaosul; ‘Se chegar,agentelimpa’,diz slogan de Salvador



  • João PedroPitombo


SalVaDoREraoúltimo dia de
um período deférias em Ita-
cimirim,vila do litoral norte
daBahia, a 65 quilômetros de
Salvador.Mas, na praia da Es-
pera,conhecida porformar
piscinas naturais na marébai-
xa, as irmãs LeidianeeLoria-
neAzevedodeixaram de lado
acadeiraeoguarda-sol.
Ajoelhadas na areiaeusan-
do luvas de plástico, as duas
turistas doParaná ajudavam
arecolher manchas de óleo
que se espalhavampela areia
no últimosábado( 20 ).
“Não dá paraver um negó-
cio desseseficarsemfazerna-
da.Éumcenáriodedar dó”,
disse Leidiane.
Mesmocomasnotícias so-
breachegadado desastre ao
litoralbaiano,asirmãs man-
tiveramaprogramação da vi-
agemàBahia.Assimtemsi-

do nas praias dos principais
destinosturísticosdoestado.
Empresárioseentidades do
setorturísticoouvidos pelare-
portagem daFolhaafirmam
quenão houvequeda na ocu-
paçãodos hotéis nemcance-
lamentos dereservas em mas-
sa apósoregistro,hátrêsse-
manas,dapresençadepetró-
leocruempraias do estado.
Masosetor estáapreensi-
vocomoavançodas man-
chas em direção ao litoralsul
eaproximação da alta tempo-
rada naBahia, quecomeça em
novembro.
Segundoopresidenteda
ABIH (Associação Brasileira
da Indústria de Hotéis)naBa-
hia,Glicério Lemos,aocupa-
çãohoteleiranoúltimo mês se
mantevenomesmo patamar
doregistrado no mesmo pe-
ríodo do ano passado.
Terceiroprincipal destino
turísticodaBahia, Morrode

SãoPaulofoi atingidope-
lo óleonestaterça-feira( 22 ).
Comcercade 10 mil habitan-
tes, avila do município de Cai-
ru, que ficaa 176 quilômetros
deSalvador,costumareceber
até 400 milvisitantes na alta
temporada.
“Felizmente, tivemos uma
mobili zação grande da pre-
feituraedegruposvoluntá-
rios pararecolher esteóleo”,
disse Lemos.Naúltimaterça,
as praias foramliberadas.Até
as 13 h, 1 , 5 tonelada de óleojá
havia sidorecolhida naregião
do MorrodeSãoPaulo.
Emgeral, prefeiturasego-
verno do estadoatuam para
mostrar praias limpaseum
clima de normalidade entre
os seus frequentadores.
AprefeituradeSalvador,por
exemplo,divulgou em suas
redes sociais um vídeocom
imagens de praias cheias de
banhistas no fim de semana

eumslogan queremeteao
trabalhoque estásendofei-
to:“Se chegar,agente limpa”.
Namesma linha,opresiden-
te do ConselhoBaiano deTu-
rismo,Roberto Durán, diz que
achegada do óleodeveser en-
caradacomo umafatalidadee
queonúmerodepraiasatin-
gidas “é irrisório” frenteàdi-
mensão do litoral baiano.
“Bastaque as autoridades
tomem as medidascabíveis,
comtransparência, para que
não haja impactosignificati-

vo noturismo”,afirmaDurán.
Ele destacaqueas comuni-
dades estão organizadaseque
omomentoédebuscar solu-
ções paraminimizaroimpac-
to nomeioambiente.
Hátambém quem aponte
outras possibilidades de pas-
seio caso partedolitoral bai-
ano permaneça manchado.
“A Bahiaéprivilegiada.Va-
mos lançar umacampanha
mostrando essa diversida-
de”,afirmaosecretário esta-
dual deTurismo,FaustoFran-

co,ecitando destinoscomo a
ChapadaDiamantinaeoVale
doSãoFrancisco.
Ainda segundoosecretário,
oprejuízoparaatemporada
deverãodependerádadinâ-
micadatrajetória do óleoa
partir denovembro.
“Seoóleocontinuar che-
gandoàcosta,teremosum
impactomaisfortenoturis-
mo.Mas não deve acontecer.
Contamoscomanossa boa
energiaecomSantaDulcepa-
ra nos ajudarnessacorrente.”

Galés de Maragogi,acerca de 130 km de Maceió(AL) Divulgação
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