Público - 15.10.2019

(C. Jardin) #1

12 • Público • Terça-feira, 15 de Outubro de 2019


POLÍTICA


Votos de emigrantes na África


do Sul não chegaram a Portugal


Depois de terem sido enviadas
1.464.709 cartas com boletim de voto
para 186 países logo nos primeiros
dias de Setembro, os correios trouxe-
ram de volta, até ontem, 138 mil enve-
lopes com votos dos emigrantes por-
tugueses espalhados pelo mundo. Ou
por quase todo o mundo: da África do
Sul não chegou ainda qualquer enve-
lope dos 32.596 que tinham sido
expedidos e o secretário-geral adjun-
to para a Administração Eleitoral
admite que tal não venha a acontecer
até amanhã à tarde e depois disso já
não entrarão nas contas.
É que o apuramento e contagem
dos votos dos dois círculos da emigra-
ção — pela Europa e resto do mundo
— que valem dois deputados cada, são
feitos amanhã no pavilhão do Casal
Vistoso, em Lisboa. Os votos dos emi-
grantes, guardados nestes dias num
cofre do Ministério da Administração
Interna no Terreiro do Paço, serão
levados pela PSP durante esta noite
para o pavilhão e para o ginásio. Ali,
nas cem mesas de contagem serão,
primeiro assinalados electronicamen-
te nos cadernos eleitorais os eleitores
que votaram (se fossem impressos
como nas mesas de voto normais,
seriam precisas 132 mil folhas), e
depois depositados nas urnas os res-
pectivos votos. A expectativa é que
por volta das 21h30 ou 22h os resulta-
dos estejam fechados.
O último mês e meio foi de trabalho
intenso de diplomacia para a embai-
xada e o consulado portugueses na
África do Sul, onde o rasto dos enve-
lopes foi sempre seguido, mas os cor-
reios não terão dado o devido anda-
mento à distribuição. Os envelopes
entraram no centro de distribuição
de Joanesburgo a 5 de Setembro,
foram levantados pelos correios a 17
e só começaram a ser distribuídos a
24, mas boa parte deles só chegaram
às caixas de correio dos portugueses
a residir naquele país já depois de dia
6 — a data-limite em que as cartas
deviam ser devolvidas. “O embaixa-
dor e o cônsul receberam sempre da
empresa a resposta de que o processo
estava a decorrer normalmente”,


Já chegaram 138 mil votos vindos dos círculos eleitorais da Europa e de Fora da Europa,


que valem quatro deputados. A contagem é feita amanhã no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa


RUI GAUDÊNCIO

Espera-se que os votos da emigração estejam todos contados até às 22h de amanhã

conta Joaquim Morgado. Mas até ago-
ra nada chegou a Lisboa — em 2015
foram recebidos 165 votos dos 6470
envelopes enviados.
Este será o caso mais complicado
destas eleições, que movimentaram
32 toneladas de papel, mas também
houve problemas no Brasil, afectado
por uma greve dos correios, e em
França e na Alemanha, onde os ser-
viços chegaram a recusar os envelo-
pes de porte pago, exigindo aos elei-
tores que pagassem o selo da carta.
Embora já tenham chegado 138 mil
votos, “regressaram” também 142 mil
envelopes devolvidos pelo facto de o
destinatário ser desconhecido ou não
terem sido levantados nos correios.
Embora o processo tenha sido dese-
nhado para se poder tratar 450 mil
votos recebidos, a expectativa do
secretário-geral adjunto da Adminis-
tração Eleitoral é que até amanhã à
tarde se chegue aos 142 mil votos. O
que representaria cerca de 9,7% de
votação do total dos recenseados —
uma participação percentualmente
inferior à de 2015 (11,68%, quando
votaram 28.354 eleitores), mas com
uma expressão numérica superior.
É para os pelo menos 138 mil que
votaram que Joaquim Morgado pre-
fere olhar e lembrar que é a primeira
vez que se organiza uma eleição no
estrangeiro com esta dimensão. “A
abstenção seria sempre muito supe-
rior porque se aumentou o universo
seis vezes”, adverte, contabilizando:
“Mesmo assim, há uma participação
muito signiÆcativa: aumentou cinco
vezes.” E acrescenta que o facto de
ter havido 2240 portugueses que
pediram para votar presencialmente
nos consulados demonstra o interes-
se em participarem. “Os quatro depu-
tados que serão eleitos Æcam mais
legitimados por ser uma votação mais
reforçada.”
Acrescente-se uma curiosidade.
Houve quem Æzesse uma reinterpre-
tação do voto “electrónico”: Jorge
Morgado conta que recebeu emails de
eleitores que enviam a foto do bole-
tim de voto preenchido dizendo “aqui
está o meu voto” — já para não falar
de outros com mensagens e rabiscos
variados.

[email protected]

Legislativas 2019


Maria Lopes

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