Público - 15.10.2019

(C. Jardin) #1

20 • Público • Terça-feira, 15 de Outubro de 2019


LOCAL


Tecnologia portuguesa quer pôr


Copenhaga a pedalar ainda mais


Depois de se ter estreado em Mato-
sinhos e de ter despertado interesse
em Nova Iorque, um programa por-
tuguês que premeia comportamen-
tos de mobilidade ambientalmente
sustentáveis chamou a atenção em
Copenhaga.
O AYR, desenvolvido pela empre-
sa CEiiA em Matosinhos, foi um dos
Ænalistas numa competição para
encontrar soluções que melhorem a
qualidade do ar e reduzam o aqueci-
mento urbano na capital da Dina-
marca. Apesar de não ter vencido o
concurso, a câmara de Copenhaga
manifestou interesse em levar à prá-
tica este programa, garantiu ao
PÚBLICO um responsável do CEiiA,
Gualter Crisóstomo.
O AYR é um sistema que recom-
pensa quem utiliza meios de trans-
porte pouco poluidores. Em deslo-
cações de bicicleta ou trotinete, por
exemplo, uma aplicação no telemó-
vel vai contando a quantidade de
dióxido de carbono que não é emiti-
da e depois converte-a em créditos,
que o utilizador pode usar para pagar
futuras viagens naqueles modos de
mobilidade. Ou para comprar outros
produtos, conforme decidam as
câmaras municipais.
“Estamos a valorizar bons compor-
tamentos. Geralmente as leis são
punitivas: portas-te mal, levas. Aqui é
ao contrário”, sublinhou Gualter Cri-
sóstomo na semana passada, à mar-
gem do Fórum Mundial de Autarcas
C40, que decorreu em Copenhaga.
Aquela cidade dinamarquesa tem
a ambição de se tornar a primeira
capital do mundo neutra em emis-
sões de carbono até 2025 e, por isso,
tem em curso várias iniciativas para
melhorar a produção e consumo de
energia e promover uma mobilidade
que não dependa de veículos movi-
dos a combustíveis fósseis. Embora
Copenhaga seja já hoje uma das cida-
des do mundo onde mais se utiliza a
bicicleta no dia-a-dia, é neste ponto
que o AYR pode dar uma ajuda,
criando um incentivo extra para os
utilizadores.


A empresa CEiiA levou os seus créditos de carbono a uma competição internacional para melhorar a


qualidade do ar na capital da Dinamarca. Não ganhou, mas a invenção despertou interesse do município


mais três ideias. A da empresa dina-
marquesa Heliac consiste em painéis
solares capazes de reter energia e,
ao mesmo tempo, reÇectir de volta
a luz do Sol. Já a proposta do gabine-
te de arquitectura SLA, também
dinamarquês, é uma ferramenta
para ajudar cidades e arquitectos a
incluir elementos naturais e biodi-
versidade nos seus projectos. Foi
este atelier que desenhou uma inci-
neradora de lixo, acabada de inau-
gurar nos subúrbios de Copenhaga,
que tem uma pista de ski e um jardim
por cima.
Por Æm, a proposta dos britânicos
Hilson Moran foca-se na “acupunc-
tura urbana”, isto é, em melhora-
mentos da arquitectura e do paisa-
gismo nas áreas mais afectadas pela
poluição atmosférica.

MANUEL ROBERTO

Copenhaga tem a ambição de diminuir ainda mais a dependência do automóvel e procura soluções para alcançar esse objectivo

Para Gualter Crisóstomo, “é um
grande orgulho vir mostrar tecnolo-
gia portuguesa como referência
mundial na mobilidade sustentável”.
O responsável do CEiiA destaca que
esta empresa foi uma das 45, origi-
nárias de 23 países, que se apresen-
taram à competição, e a única do lote
Ænal a focar-se na mobilidade. Com
apoio da ONU — que começou duran-
te o mandato do anterior secretário-
-geral, Ban Ki-Moon —, a empresa
aposta agora em levar o AYR a Nova
Iorque e São Paulo. Em Portugal,
depois de Matosinhos segue-se Cas-
cais.

Mobilidade


João Pedro Pincha,


em Copenhaga


[email protected]

atmosférica e o efeito das ilhas de
calor urbanas”.

Paredes de musgo
Ganhou uma empresa suíça,
4MOSST, que está a desenvolver um
produto que permite criar jardins
verticais de musgo, “mais acessíveis
e baratos do que as paredes verdes
actualmente existentes”, lê-se no
resumo do projecto. “A nossa solu-
ção é sistémica, porque trata de um
conjunto de problemas com uma
única solução”, disse Thimo Hille-
nius, sócio da empresa, argumentan-
do que estas paredes de musgo não
só melhoram o ambiente urbano,
como podem ter efeitos positivos na
saúde mental dos habitantes.
Além da proposta vencedora e do
AYR, chegaram à fase Ænal ainda

“Estamos a
valorizar bons

comportamentos.


Geralmente as leis


são punitivas. Aqui
é ao contrário”,

sublinhou Gualter


Crisóstomo


A competição em que o CEiiA par-
ticipou foi promovida pela organiza-
ção público-privada Access Cities e
pela câmara de Copenhaga, que pro-
curavam “ideias inovadoras, tecno-
logias e abordagens para reduzir os
impactos negativos da poluição

O PÚBLICO viajou a convite da
Câmara Municipal de Lisboa
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