Público - 15.10.2019

(C. Jardin) #1
Público • Terça-feira, 15 de Outubro de 2019 • 21

Quarta a Sábado às 21h30
e Sábado e Domingo às 17h00

SEVERA


O MUSICAL


de FILIPE LA FÉRIA


Reservas
213 405 700
964 409 036 - 1820

M/ 12

ESTA


SEMANA
CONDIÇÕES
ESPECIAIS
P/ TODA A FAMÍLIA

LOCAL


Património


Um laboratório de investigação, con-
servação e restauro dos bonecos de
Estremoz em barro, classiÆcados
pela UNESCO, vai ser criado em 2020
no museu municipal da cidade alen-
tejana, revelou ontem o município.
Segundo a autarquia, o equipamen-
to vai ser instalado no Museu Muni-
cipal Professor Joaquim Vermelho o
que representa mais uma valência
de âmbito cientíÆco para o espaço
museológico com o objectivo de
potenciar o conhecimento sobre os
bonecos.
A Produção de Figurado em Barro
de Estremoz, vulgarmente conheci-
da como bonecos de Estremoz, foi

Laboratório de


conservação e restauro


dos bonecos de Estremoz


avança em 2020


classiÆcada como Património Cultu-
ral Imaterial da Humanidade, pela
Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), em 7 de Dezembro de
2017, na sequência de uma candida-
tura apresentada pelo município do
distrito de Évora.
O laboratório, no qual o município
investirá 50 mil euros, numa parce-
ria com a Universidade de Évora,
além de contribuir para o conheci-
mento sobre os bonecos, vai estar
ainda aberto às restantes cerâmicas,
sejam estas populares, de origem
arqueológica ou artísticas, “centra-
lizando o restauro e a conservação
de Ægurado de Estremoz na posse de
particulares, associações ou institui-
ções museais”.

Criminalizar consumo


na rua é “passo atrás


na política de drogas”


ONG internacional que luta


pela defesa dos direitos dos


consumidores de drogas,


condena declarações do


autarca Rui Moreira


Porto


Mariana Correia Pinto


[email protected]

Visibilidade do consumo ao ar livre preocupa Rui Moreira

As declarações de Rui Moreira che-
garam à Harm Reduction Internatio-
nal (HRI), organização internacional
de redução de riscos e políticas para
as drogas, e deixaram a ONG alarma-
da. O presidente da Câmara do Porto
defendeu numa Assembleia Munici-
pal no início deste mês que, “em
alguns locais, seja criminalizado o
consumo ao ar livre”, uma posição
bem diferente daquela que havia tido
em Abril perante uma plateia inter-
nacional. Esta mudança, lamenta a
HRI, representa “um signiÆcativo
passo atrás na política de drogas de
Portugal”.
Num comunicado publicado onli-
ne, a ONG recorda o caminho feito
por Portugal, que em 2001 deixou de
sancionar o uso e posse de drogas,
adoptando uma abordagem centra-
da na saúde. Política com vantagens
evidentes: “Desde que a descrimina-
lização entrou em vigor, as mortes
por overdose e infecções por HIV
entre pessoas que usam drogas em
Portugal caíram signiÆcativamente,
assim como a prisão por delitos rela-
cionados com drogas”, diz, deixando
um aviso: “A reintrodução de san-
ções penais pelo uso de drogas corre
o risco de reverter essas tendências
positivas.”
Naomi Burke-Shyne, directora
executiva da HRI, considera “extre-
mamente decepcionante” que a
autarquia esteja a defender a crimi-
nalização: “Esmagadoramente, a
evidência indica que a criminaliza-
ção é ineÆcaz na redução do uso de
drogas, e só serve para colocar as
pessoas e as comunidades em maior
risco de saúde e danos sociais.”
Essa havia sido, aliás, a posição
defendida por diversos especialistas
e estudiosos na área que, questiona-
dos pelo PÚBLICO, foram unânimes
em considerar que o “alarme social”
e a “repressão”, por si sós, apenas
serviriam para dilatar o problema.
No Æm de Abril, Rui Moreira foi
aplaudido na 26.ª Conferência Inter-
nacional de Redução de Riscos, orga-


nizada pela HRI e pela Agência Piaget
para o Desenvolvimento (APDES),
quando anunciou que o município
ia apoiar a “criação de uma unidade
móvel de consumo assistido como
mais uma reposta de saúde pública”,
dizendo que aquele não poderia ser
um investimento apenas camarário
mas também do Governo.
“Não é uma decisão fácil, não sou
mais popular do que há cinco minu-
tos. Mas tudo bem, é parte do meu
trabalho”, aÆrmou. Moreira quis par-
tilhar com a audiência — onde esta-
vam, por exemplo, a alta-comissária
da ONU para os Direitos Humanos,
Michelle Bachelet, ou o ex-Presiden-
te da República e membro da Global
Comission on Drug Policy, Jorge
Sampaio, — quão “orgulhoso” estava
por este já não ser um problema do
Ministério da Justiça. “Há vinte anos
mudou e agora tem a ver com o
Ministério da Saúde”, disse, apelan-
do a convidados internacionais que
vivessem em países onde essa
mudança ainda não tivesse ocorrido
para seguirem o exemplo português.
“É vital”, apontou.

Há verba para sala de chuto
Surpreendida com a alteração do
discurso do presidente da câmara,
Naomi Burke-Shyne disse ser “preo-
cupante” a aÆrmação de Moreira,
que antes defendia uma abordagem
centrada na saúde. “A conveniência
política não deve ultrapassar a segu-
rança e a segurança das pessoas que
usam drogas no Porto”, apontou,
recordando que a descriminalização
do uso de drogas é recomendada
pela Missão Conjunta das Nações

Unidas sobre VIH, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) e a Rede
Internacional de Pessoas que Usam
Drogas.
Como o PÚBLICO noticiou no iní-
cio de Setembro, a autarquia já
“guardou” uma verba — 400 mil
euros — para avançar com as salas de
consumo assistido. A ideia de criação
destes espaços havia sido aprovada
em Assembleia Municipal em Junho,
sem obstáculos políticos. Com o des-
mantelamento do Bairro do Aleixo,
em Maio, e o aumento da visibilidade
do consumo e tráÆco de droga na
cidade, a Câmara do Porto pediu um
reforço dos meios policiais. O hemi-
ciclo foi unânime em reconhecer a
existência de um problema, mas
mostrou-se dividido na hora de votar
a solução.
Rui Moreira tinha admitido pisar
o risco, se fosse necessário, e insta-
lar câmaras de videovigilância até
nas entradas das habitações sociais.
Não o fez. Mas investiu na compra
de 110 novas câmaras para o seu
Centro de Gestão Integrada, onde
se controla o tráfego na cidade, e vai
instalá-las em diversas ruas, incluin-
do junto a dois dos bairros onde tem
havido mais relatos de problemas:
a Pasteleira Nova e o Pinheiro Tor-
res. Sem poderes para fazer um uso
policial desses aparelhos, Moreira
acenou ao Ministério da Administra-
ção Interna e disse estar disponível
para colaborar. “Estamos prontos a
ceder [as câmaras]. Está à distância
de um clique e custa zero ao Estado
português.”

PAULO PIMENTA
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