Público - 15.10.2019

(C. Jardin) #1
Público • Terça-feira, 15 de Outubro de 2019 • 23

KARIN WESSLEN/REUTERS

ajudarem, por exemplo, a realizar
obras na escola, mas é mais difícil
colocá-los a pressionar os responsá-
veis escolares para que estes melho-
rem o sistema de ensino.
Na Guiné Bissau, o estudo centrou-
se na criação da Ægura do “agente de
saúde comunitária”, uma pessoa
residente na aldeia, que embora não
sendo médico ou enfermeiro, Æca
com a função de, para além de reali-
zar pequenos tratamentos ou dar
vacinas, incentivar o resto da popu-
lação a recorrer mais aos serviços de
saúde. Testou-se de que forma se
pode, com um pagamento relativa-
mente baixo, fazer estes agentes
estarem motivados para a sua fun-
ção. Uma forma, concluiu-se, é dar-
lhes prémios de nobreza honoríÆ#
ca.
Para todos estes estudos, foi mais
importante fazer, caso a caso, pessoa
a pessoa, a experiência no terreno
que responder se uma determinada
política funciona ou não. Como
explica, Pedro Vicente, tudo se
baseia em não conÆar demasiado na
teoria: “A ciência económica afastou-
se das pessoas e esta nova economia
tenta reaproximar-se das pessoas”.

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Michael Kremer (mais
abaixo), da Universidade
de Harvard, e Abhijit
Banerjee (em baixo, à
direita), do MIT, têm
nacionalidade americana.
Já Esther Duflo (em baixo,
à esquerda), também
do MIT, é francesa

Esther DuÇo disse esperar que o
anúncio desta segunda-feira possa
“inspirar muitas mulheres a conti-
nuarem a trabalhar”, mas assinalou
as diÆculdades que uma mulher
pode sentir para ser bem-sucedida
no campo da investigação económi-
ca. “Estamos numa fase em que nos
começamos a aperceber nesta pro-
Æssão que a forma como nos com-
portamos uns com os outros em
privado e em público nem sempre
contribui para criar um bom ambien-
te para as mulheres”, disse.

O centro português
Actualmente, a “nova economia do
desenvolvimento” está longe de
estar limitada a este grupo de três
economistas. Também já não é ape-
nas aquilo que é feito no Poverty
Action Lab do MIT. Um pouco por

todo o mundo, a nova abordagem
tem vindo a ser utilizada para tentar
informar as escolhas de políticas de
desenvolvimento.
E em Portugal está um dos exem-
plos mais importantes a nível euro-
peu. O centro de investigação e
conhecimento NOVAFRICA, criado
pela Faculdade de Economia da Uni-
versidade Nova de Lisboa (Nova SBE)
dedica-se precisamente a realizar
estudos, geralmente em países afri-
canos e com um destaque importan-
te para os países de língua portugue-
sa, realizando experiências no terre-
no em áreas como a inclusão
Ænanceira, a educação ou saúde,
explica Pedro Vicente, co-fundador
e director cientíÆco do centro.
Em Moçambique, entre 2012 e
2016, foi realizada uma experiência
em 102 aldeias, sendo disponibiliza-
das a metade desta amostra meios
para a realização de pagamentos
através do telemóvel. Ao longo de
três anos, foram realizados inquéri-
tos a mais de 2000 famílias e anali-
saram-se os dados das transacções
realizadas.
A conclusão foi a de que, de facto,
a utilização destes meios melhora a
vida das pessoas, essencialmente
porque lhes permitiu recorrer a aju-

CJ GUNTHER/EPA

É a força muscular


deste movimento,


foi ela que


conseguiu trazer


atenção para este


tipo de trabalho.


Sem Esther DuÅo,


não sei se tinha


existido este Nobel


Pedro Vicente
Professor da Nova SBE


da dos familiares que estão a na cida-
de nos casos em que enfrentavam
problemas graves.
Em Angola, entre 2011 e 2019,
estudaram-se formas de mobilizar
os pais para a melhoria do sistema
de ensino. Recorrendo a 126 escolas,
testou-se o efeito de dar mais infor-
mação aos pais em diferentes níveis.
Chegou-se à conclusão, através de
inquéritos no terreno, que é relati-
vamente fácil mobilizar os pais para
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