Público - 15.10.2019

(C. Jardin) #1
Público • Terça-feira, 15 de Outubro de 2019 • 33

SASCHA STEINBACH/REUTERS DR

O escritor-fenómeno e a
princesa Mette-Marit na
inauguração de Edvard Munch
— visto por Karl Ove Knausgård,
onde pode ver-se, por exemplo,
Winter Landscape from Kragerø

e à estrela da literatura norueguesa
autoÆccional, Karl Ove Knausgård.
Haverá ainda a actuação da artista
sami Elle Márjá Eira.


A Biblioteca do Futuro


Durante os próximos dias o progra-
ma do pavilhão norueguês é varia-
do. No domingo, por exemplo, a
escritora canadiana Margaret
Atwood, que estará na feira, pois o
Canadá é o país convidado do pró-
ximo ano, irá com a artista visual
escocesa Katie Paterson apresentar
a Biblioteca do Futuro, o projecto de
arte que prevê que nos próximos
100 anos sejam publicados 100
manuscritos, impressos em papel


acrescem 13 milhões de coroas
norueguesas, dadas pela indústria
do livro e fundações, e mais sete
milhões de coroas norueguesas em
patrocínios.
Mas há quem considere que o
investimento na organização e ida da
Noruega à Feira do Livro de Frank-
furt como país convidado é um des-
perdício de dinheiro. Para o escritor
norueguês Jan Kjærstad é dinheiro
gasto numa “festa para poucos”. Este
autor acha que o montante seria
mais bem empregue, se o Governo
utilizasse o total de 52 milhões de
coroas norueguesas (mais de cinco
milhões de euros) do orçamento
para criar 66 bolsas de três anos para
ajudar escritores noruegueses.
Gerou-se polémica e um dos con-
vidados da feira, o escritor Roy
Jacobsen, de quem ainda durante
este ano a editora Relógio d’Água irá
publicar Os Invisíveis, aconselhava
numa entrevista à revista Bok365
que se olhasse para este esforço na
ida a Frankfurt como um investi-
mento. Defendia que a “literatura,
pelo menos alguma dela, contribui
para a comunidade” e deixava no ar
a pergunta: “Quanto pagou em
impostos Jostein Gaarder quando O
Mundo de Sofia fez dele o autor que
mais livros vendia em todo o mun-
do?” No entanto, Halldór Guðmunds-
son sabe que não será no Ænal deste
ano que se saberá que frutos deu à
literatura norueguesa a participação
em Frankfurt. Só daqui a três anos é
que se poderá medir o impacto, já
que em Frankfurt serão vendidos os
direitos e os livros só começam a ser
editados no estrangeiro anos depois.
E convém não esquecer que Portugal
foi país convidado em 1997 e, no ano
seguinte, José Saramago recebeu o
Nobel da Literatura — soube-o quan-
do estava no aeroporto de Frankfurt
depois de ter visitado a feira.
Neste ano, Portugal tem como
habitualmente um stand nacional,
coordenado pela APEL — Associação
Portuguesa de Editores e Livreiros,
e onde também estará representada
a DGLAB — Direcção-Geral do Livro,
dos Arquivos e das Bibliotecas. O
poeta português Miguel Cardoso,
que está numa residência literária
em Berlim, e o escritor brasileiro
Luiz Ruèato, bem como o moçam-
bicano Mbate Pedro estão entre os
convidados.

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esteve também à frente da equipa da
Islândia, o país convidado em 2011.
Essa participação ocorreu no Ænal
de um período difícil para a Islândia,
depois do colapso dos bancos e da
grave crise Ænanceira, e o país supe-
rou a prova e impressionou. Nada
parecido com as condições que
Halldór Guðmundsson teve agora
para preparar a participação da
Noruega. Três ministérios estiveram
envolvidos — Cultura, Negócios
Estrangeiros e Indústria — e segundo
a publicação Bok365 cada um doou
um terço do total de 30 milhões de
coroas norueguesas (mais de três
milhões de euros) dadas pelo Estado
para esta iniciativa. A este valor

proveniente de mil árvores da Ço-
resta de Oslo. Todos os anos, um
novo autor envia um inédito, que é
guardado numa sala da biblioteca
Deichman Bjørvika de Oslo até à sua
publicação em 2114. Margaret
Atwood foi a primeira escritora a
participar em 2014, seguiram-se o
britânico David Mitchell, em 2015; o
islandês Sjón, em 2016; a turca Elif
Shafak, em 2017, a sul-coreana Han
Kang, em 2018, e o próximo será
revelado no pavilhão norueguês em
Frankfurt.
O escritor islandês Halldór
Guðmundsson, coordenador do pro-
jecto da Noruega como país convi-
dado da Feira do Livro de Frankfurt,

Portugal foi país


convidado em


1997; no ano
seguinte, José

Saramago recebeu


o Nobel e soube-o


quando estava no
aeroporto de

Frankfurt


Para o escritor Jan Kjærstad, seria


melhor que o Governo utilizasse
os mais de cinco milhões de euros

do orçamento criando 66 bolsas


de três anos para ajudar


escritores noruegueses


DR
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