Público - 05.10.2019

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Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019 • 13

A desinformação, também conheci-
da por “fake news”, é uma realidade
nas redes sociais em Portugal, mas
“não tem impacto traduzido no
voto”, disse à Lusa o investigador e
professor do ISCTE-IUL Gustavo Car-
doso. Gustavo Cardoso coordena o
projecto de monitorização de propa-
ganda e desinformação nas redes
sociais do Media Lab ISCTE-IUL.
“Fizemos a monitorização para as
eleições europeias”, no âmbito des-
te projecto, e “estamos a fazer para
as legislativas”, adiantou o professor
universitário.
Entre as principais conclusões das
monitorizações feitas até ao momen-
to está o facto de a desinformação
ser uma realidade nas redes sociais
em Portugal. “Em Portugal há clara-
mente desinformação nas redes
sociais”, mas “não tem impacto tra-
duzido no voto”, referiu o investiga-
dor do ISCTE-IUL. Ou seja, a desin-
formação “não tem aparentemente
resultados práticos” nas eleições,
prosseguiu.
Segundo Gustavo Cardoso, a desin-
formação “ajuda a criar narrativas”
sobre um conjunto de temas, em
geral. No “top 10” da desinformação,
“oito são sobre corrupção e duas
sobre minorias, imigração ou refu-
giados”, exempliÆcou, apontando
que tal se traduz numa “singularida-
de portuguesa” quando comparados
com os restantes países europeus.
Contrariamente a outros países euro-
peus, nem a imigração, nem o Islão
são assuntos centrais nos debates
políticos em Portugal.
Por sua vez, a corrupção é o tema
mais em voga, em publicações
impulsionadas por casos mediáticos.
“O caso mais parecido sobre a impor-
tância da temática da corrupção é o
Brasil”, onde aquela prática é asso-
ciada à política, apontou.


Desinformação é quotidiana


O projecto coordenado por Gustavo
Cardoso analisa mais de 40 grupos
públicos e mais de 40 páginas nas
redes sociais, os quais têm um alcan-


Desinformação


existe mas sem


impacto no voto


ce de um universo de um milhão e
meio de pessoas. “A desinformação
existe, circula e está presente no
quotidiano”, sublinhou o investiga-
dor à Lusa.
No entanto, um dos factores que
explicam uma menor exposição de
Portugal aos riscos de desinformação
assenta no facto de o público conÆar
muito nos media tradicionais (68%)
e muito menos na informação encon-
trada nas redes sociais (26%). No
entanto, a desinformação nas redes
sociais também é criativa e muitas
vezes utiliza notícias antigas ou sem
data de publicação dos media, des-
contextualizadas, com o objectivo de
aumentar o suporte de uma ideia e
na expectativa de que as pessoas par-
tilhem.
Gustavo Cardoso acrescenta que
a desinformação no período de cam-
panha, por exemplo, não visa pedir
para não votar num determinado
partido, mas antes “criar a dúvida”
sobre o voto. Trata-se da “gestão da
criação da dúvida”, salientou.
Por sua vez, os partidos já perce-
beram a importância das redes
sociais nas campanhas eleitorais,
sobretudo porque permitem “alcan-
çar o maior número de pessoas”.
Entre tentar estabelecer um tipo de
relação directa com o público, a
publicar “posts” da campanha ou a
comunicar com humor nas redes
sociais, os políticos apostam em
várias abordagens para chegarem
aos seus eleitores através da Inter-
net.

Investigador Gustavo


Cardoso coordena o


projecto de monitorização


de propaganda e


desinformação nas redes


Redes sociais


POLÍTICA


CLICK&COLLECT


Políticos têm reforçado
presença nas redes sociais
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