Público - 05.10.2019

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Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019 • 29

KEVIN LAMARQUE/REUTERS

que Kurt Volker deu nas audições à
porta fechada na Câmara dos Repre-
sentantes, na quinta-feira, revela bem
a diÆculdade da tarefa de quem quer
afastar o Presidente norte-americano
da Casa Branca.
Em resposta à sugestão do embai-
xador Taylor de que a Casa Branca
estaria a chantagear a Ucrânia, Gor-
den Sondland negou essa suspeita,
antes de sugerir que os dois deixas-
sem de trocar mensagens sobre o
assunto: “Bill, acho que estás errado
quanto às intenções do Presidente
Trump. O Presidente tem sido claro a
dizer que não quer nenhuma troca de
favores. O Presidente está a avaliar se
a Ucrânia vai mesmo fazer as refor-
mas sobre transparência que o Presi-
dente Zelenskii prometeu na sua
campanha eleitoral. Sugiro que pare-
mos com esta troca de mensagens. Se
ainda tiveres alguma dúvida, reco-
mendo que telefones à Lisa Kenna
[secretária executiva do Departamen-
to de Estado] ou a S e que discutas
directamente com eles.”
No Ænal das audições a Kurt Volker,
os congressistas do Partido Democra-
ta disseram que ouviram e leram pro-
vas de que o Presidente Donald
Trump se envolveu numa troca de
favores com o Presidente Volodimir
Zelenskii, enquanto os congressistas
do Partido Republicano, perante a
mesma testemunha e as mesmas
mensagens, disseram que ouviram e
leram provas de que o Presidente
nunca exigiu nada em troca do envio
de ajuda Ænanceira à Ucrânia.
Enquanto o apoio à destituição de

Joe Biden, há muito considerado o
favorito à nomeação como candida-
to do Partido Democrata para
enfrentar Donald Trump nas elei-
ções de 2020, tem perdido terreno
nessa corrida para a senadora Eliza-
beth Warren. Em duas semanas, a
vantagem do representante da ala
centrista caiu de nove pontos para
dois, num sinal de que os ataques
do Presidente Trump e a ligação do
seu nome à política ucraniana pode
afastar apoiantes.
Segundo a média das sondagens,
publicada no site RealClearPolitics,
Biden tem agora 26,2% das prefe-
rências dos eleitores do Partido
Democrata, descendo de 30,3% a 23
de Setembro — um dia antes do
arranque formal das investigações
que têm como objectivo a abertura
de um processo de destituição con-
tra o Presidente Trump. Em sentido
contrário, a senadora Warren, uma
das faces da ala mais à esquerda do
Partido Democrata, subiu de 19,2%
para 24% no mesmo período — em
Maio, a diferença entre os dois can-
didatos chegou a ser de 33 pontos.
A outra Ægura da ala progressista
do Partido Democrata, Bernie San-
ders, surge em terceiro lugar com
16,8%, e é possível que a sua hospi-

Alexandre Martins


É de loucos reter


ajuda à segurança
por ajuda numa

campanha


William B. Taylor
Embaixador dos EUA em Kiev

Quedas de Biden e Sanders


dão fôlego a Elizabeth Warren


[email protected]

A subida do apoio ao impeachment foi mais
acentuada no caso de Richard Nixon

Fonte: Monmouth University PÚBLICO

9 meses 6 meses 3 meses Abertura do
processo

44%
43%

36%

19%

44%

41%

43%

25%
Nixon
impeach

Trump
impeach

Nixon
aprovação

Trump
aprovação

na última semana. E, tal como acon-
teceu no longo e tortuoso caminho de
Richard Nixon desde o escândalo de
Watergate, em 1972, até à sua resigna-
ção, em 1974, é mais um pequeno
golpe na carapaça republicana que
tem protegido Donald Trump.
Numa outra mensagem entregue
ao Congresso na quinta-feira, de 9 de
Setembro, Taylor volta a pôr em cau-
sa o caminho que estava a ser seguido
nas relações entre os EUA e a Ucrânia
após a conversa telefónica de 25 de
Julho: “Tal como eu disse ao telefone,
acho que é de loucos reter ajuda à
segurança por causa de ajuda numa
campanha eleitoral”, disse Taylor ao
embaixador norte-americano na
União Europeia, Gorden Sondland.
Mas a forma como os congressistas
do Partido Democrata e do Partido
Republicano reagiram às respostas


A liderança de Biden caiu nove
pontos em apenas duas semanas

Fonte: Real Clear Politics PÚBLICO

12

20

24

28

32

23 Set. 2 Out.

Sanders

Warren

Biden
30,3

19,2
16,3

26,2

24

16,8

talização, na terça-feira, leve alguns
apoiantes a repensarem as escolhas
— e, se isso acontecer, é provável
que a mais beneÆciada seja Warren,
oriunda de uma área política mais
próxima da de Sanders.
“O facto de quatro em cada dez
independentes estarem inclinados
a acreditar no que Trump disse é
um sinal de aviso para a campanha
de Biden”, disse Patrick Murray,
director do instituto de sondagens
da Universidade Monmouth, que já
põe Elizabeth Warren à frente de Joe
Biden. “A forma como o candidato
lutar contra esses ataques será cru-
cial para os seus argumentos a favor
da nomeação.”
Sempre que os media norte-ame-
ricanos falam sobre o processo de
destituição do Presidente Trump,
têm também de falar sobre o que
motivou essa decisão do Partido
Democrata: a acusação de Trump,
nunca conÆrmada pelas autoridades
ucranianas, de que Joe Biden pres-
sionou o Governo de Kiev a despedir
um procurador-geral para que ele
não investigasse a empresa em que
o seu Ælho trabalhava. Apesar de
Biden garantir que não foi esse o
motivo da sua pressão sobre o Gover-
no ucraniano, o envolvimento do seu
nome num caso complicado, que
deverá arrastar-se por vários meses,
pode obrigá-lo a desviar a atenção da
campanha, o que pode ser aprovei-
tado por Elizabeth Warren.
Mas não é certo que a candidatu-
ra de Biden esteja condenada a per-
der cada vez mais apoio: “É prová-
vel que muitos dos democratas que
dizem que Biden pressionou a Ucrâ-
nia nunca iriam ser seus apoiantes”,
disse o director do instituto de son-
dagens da Universidade
Monmouth.
Por outro lado, se os apoiantes de
Bernie Sanders se unirem à volta de
Elizabeth Warren em algum ponto
da campanha ou durante as primá-
rias, a ala mais progressista terá
uma forte possibilidade de ver um
dos seus candidatos a enfrentar
Donald Trump em Novembro de
2020.

Trump não for esmagador entre a
população — o que diÆcilmente acon-
tecerá porque os eleitores republica-
nos mais Æéis já mostraram que qua-
se nada os afastará do seu Presidente
—, os senadores do Partido Republi-
cano continuarão a ter argumentos
para travarem o impeachment.
Apesar de o apoio à destituição do
Presidente Trump ter subido um pou-
co nas sondagens na última semana,
de 38% para 44%, há dois sinais de
que esse crescimento tem limites: a
média resulta de um apoio esmaga-
dor entre os eleitores do Partido
Democrata e uma oposição Ærme
entre os eleitores do Partido Republi-
cano, com as mudanças a ocorrerem
entre os independentes; e já houve
outras alturas, nos últimos três anos,
em que o apoio à destituição de
Trump ultrapassou os 40%.
Em comparação, o apoio ao impea-
chment do Presidente Nixon, no início
da década de 1970, sofreu uma varia-
ção assinalável entre o Verão de 1973
e o Verão de 1974, quando a Câmara
dos Representantes se preparava para
aprovar o processo de destituição.
Quando o escândalo Watergate come-
çou a afectar Nixon de forma decisiva,
apenas 19% da população apoiava a
sua destituição; um ano depois, eram
já 46% os que queriam ver o Presiden-
te fora da Casa Branca. E quando
Nixon resignou ao cargo para evitar
ser afastado, em Agosto de 1974, o
apoio à sua destituição chegava aos
57%.
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