Público - 05.10.2019

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30 • Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019


A lei que criminaliza o uso de másca-
ras nos protestos entrou em vigor em
Hong Kong à meia-noite, depois de
o Supremo Tribunal do território ter
rejeitado duas providências cautela-
res que o tentavam impedir. Em pro-
testo, manifestantes entraram em
verdadeiras batalhas campais com a
polícia e um polícia atingiu um mani-
festante de 14 anos com uma bala
real, o segundo em cinco dias.
A líder do governo, Carrie Lam,
invocou uma lei do tempo colonial
que não era usada há mais de 50
anos, segundo o South China Mor-
ning Post, e recusou que Hong Kong
esteja em estado de emergência. “A
decisão não é fácil de tomar, mas é
necessário. Quero frisar que a lei não
signiÆca que Hong Kong esteja em
estado de emergência.”
A partir de agora, quem usar más-
caras em reuniões públicas com mais
de 50 participantes passa a poder ser
condenado a uma pena de até um
ano de prisão ou a uma multa de 25
mil dólares de Hong Kong (cerca de
2,5 mil euros). Mas, dizem especia-
listas ouvidos pelo South China Mor-
ning Post, a lei será de difícil aplica-
ção e apenas irá exacerbar os ânimos
entre a polícia e os manifestantes.

Lei antimáscaras


entra em vigor entre


batalhas campais


Aproveitando a hora de almoço,
milhares de pessoas saíram ontem à
rua para protestar contra o que
dizem ser mais um passo em direc-
ção ao autoritarismo e uma ameaça
aos seus direitos democráticos.
“Muitas pessoas vão ser dissuadi-
das de se juntar aos protestos e, por
isso, os seus direitos à manifestação
pacíÆca e de associação vão ser pos-
tos em causa”, disse ao South China
Morning Post Lester Shum, antigo
líder estudantil que desempenhou
um papel de liderança nos protestos
de 2014.
Shum tentou impedir que a lei
entrasse em vigor ao apresentar uma
de duas providências cautelares jun-
to do Supremo Tribunal de Hong
Kong, mas o tribunal rejeitou-as.
Quando entrou em vigor, à meia-
noite (17h de ontem em Portugal
continental), os protestos pacíÆcos
já se tinham transformado há horas
em verdadeiras batalhas campais
com as autoridades.
Os manifestantes erigiram barri-
cadas, destruíram estações de com-
boio em ataques-relâmpago e atea-
ram pequenos incêndios por todo o
centro da megacidade, com a polícia
a responder com gás lacrimogéneo
e balas de borracha. Cercado por
manifestantes e alvo de bombas
incendiárias, um polícia fora de ser-
viço disparou uma bala real contra a
coxa de um adolescente de 14 anos
que foi transportado para o hospital.
Foi a segunda vez que um manifes-
tante foi alvejado com balas reais em
menos de cinco dias.

[email protected]

Hong Kong
Ricardo Cabral Fernandes

Os manifestantes dizem
que a nova lei é mais um
caso de autoritarismo.
Polícia alvejou mais um
manifestante

As pessoas saíram à rua de máscara para protestar contra a lei

FAZRY ISMAIL/EPA

Justiça


António Rodrigues


STF vai pedir à PGR que


verifique a autenticidade


de conversas interceptadas


entre procuradores da


Lava-Jato e Sérgio Moro


[email protected]

O Supremo Tribunal Federal (STF) do
Brasil vai solicitar à Procuradoria-Ge-
ral da República (PGR) que veriÆque
a autenticidade das mensagens de
Telegram trocadas entre o então juiz
Sérgio Moro e a equipa de investiga-
ção da Operação Lava-Jato, publica-
das no site The Intercept Brasil e
outros media brasileiros. A iniciativa
é do juiz Gilmar Mendes com apoio
de outros membros do tribunal.
De acordo com a Folha de São Pau-
lo, a mais alta instância judicial brasi-
leira pretende comprovar oÆcialmen-
te se as conversas entre os procurado-
res encarregados da investigação e o
agora ministro da Justiça, Sérgio Moro,
bem como entre o chefe da equipa de
investigação, Deltan Dallagnol, e os
restantes investigadores, não foram
adulteradas e podem ser usadas em
processos judiciais como prova.
O presidente Jair Bolsonaro está
contra a iniciativa: “Se é criminosa, é
criminosa, ponto Ænal. O que é crimi-
noso é criminoso, respeita a lei. Que-
bra de sigilo? Se seguiu a lei, tudo
bem. Não seguiu, tá errado.”
As conversas da rede social Tele-
gram obtidas pelo The Intercept Bra-
sil vieram ensombrar a aura de herói


Supremo brasileiro


quer usar mensagens


da “Vaza-Jato”


em tribunal


de Sérgio Moro e pôr em dúvida a sua
imparcialidade nos processos da Ope-
ração Lava-Jato. Deram também a
entender que houve na actuação do
então juiz e da equipa de procurado-
res da Lava-Jato parcialidade nas deci-
sões e politização dos processos.
O STF já requisitou as mensagens à
Polícia Federal para as enviar à PGR,
mas esta pode também solicitá-las à
equipa que está a investigar o caso.
Na quarta-feira, no plenário do
STF, o subprocurador-geral, Alcides
Martins, em representação do novo
procurador-geral, Augusto Aras, mos-
trou-se preocupado com as razões
apresentadas por Gilmar Mendes, a
quem solicitou que lhe fossem envia-
das as mensagens. “Se me permite,
ministro [ juiz] Gilmar, se pudesse
encaminhar esses elementos à Procu-
radoria-Geral para que fossem avalia-
dos por quem de direito, porque o
que referiu é de extrema gravidade”,
aÆrmou Martins.
Augusto Aras, em entrevista à Folha
na semana passada, referiu que, se as
mensagens forem validadas, poderão
servir de base a processos no Conse-
lho Superior do Ministério Público
(CSMP) contra os elementos da equi-
pa de investigação da Lava-Jato. No
entanto, o novo procurador não con-
sidera que as mensagens venham a
ser usadas para anular condenações
no âmbito da Lava-Jato. “Se a verdade
é que o réu A, B ou C cometeu crime,
o Estado de direito impõe a preserva-
ção dessas condenações em função
dos julgamentos já operados. Os des-
dobramentos, no que toca aos agen-
tes que abusaram desses poderes,
serão objecto de apreciação no
CSMP”, aÆrmou Aras.
Uma interpretação que está longe
de ser consensual, porque há crimi-
nalistas com visão diametralmente
oposta. Segundo estes, de acordo
com a jurisprudência brasileira, as
mensagens obtidas por meios ilícitos,
como as divulgadas, interceptadas
por hackers, só podem servir para
inocentar réus condenados indevida-
mente e nunca para prejudicar pes-
soas, neste caso, os procuradores.
Sérgio Moro, um dos mais prejudi-
cados pela sua divulgação, juntamen-
te com Deltan Dallagnol, tentou fazer
desaparecer as mensagens, telefonan-
do para várias autoridades a pedir
que as mesmas fossem destruídas por
terem sido obtidas ilegalmente.
Augusto Aras tomou posse na
PGR na quarta-feira


O Governo de Boris Johnson assegu-
rou, junto do mais alto tribunal civil
da Escócia, que vai pedir um adia-
mento do “Brexit”, se não tiver con-
cluído um acordo com a União Euro-
peia até a dia 19 deste mês.
A garantia, que parece contraditó-
ria com a posição assumida publica-
mente pelo executivo britânico, foi
dada através de um documento apre-
sentado pelos seus advogados, no
âmbito de uma acção interposta por
um grupo de activistas e políticos pró-
UE, que exige ao primeiro-ministro o
cumprimento da legislação aprovada
pelo Parlamento para o impedir de
forçar uma saída sem acordo a 31 de
Outubro.
“O primeiro-ministro enviará uma
carta [à UE], de acordo com a forma
estabelecida pela lei, até 19 de Outu-
bro”, refere o documento, revelado
ontem por um dos advogados da acu-
sação. “Se o Conselho Europeu con-
cordar com a extensão do período
especiÆcado na carta, o primeiro-mi-
nistro Æca imediatamente obrigado a
notiÆcar ao seu presidente [Donald
Tusk] que aceita essa extensão.”
A legislação em causa — a Lei Benn
— obriga o Governo a pedir um adia-
mento do “Brexit” até 31 de Janeiro de
2020, se não conseguir aprovar um
acordo de saída até 19 de Outubro.
A missiva enviada ao tribunal não
consubstancia, todavia, e por enquan-
to, uma posição política do Governo
sobre um caminho que sempre rejei-
tou e que tratou como tabu, mas antes
a admissão de que se compromete a
cumprir a lei.
A oposição desconÆa que a estraté-
gia do Governo passa por identiÆcar
lacunas na Lei Benn para a contornar.
Uma outra solução é a de tentar con-
vencer algum Estado-membro a rejei-
tar o pedido de adiamento. Neste
caso, o conteúdo do documento apre-
sentado à Justiça escocesa não trai o
seu principal objectivo: saída a 31 de
Outubro, com ou sem acordo.

Governo


admite


adiamento


do “Brexit”


Reino Unido
António Saraiva Lima

Documento enviado a um
tribunal escocês contradiz
promessa de Boris Johnson
de retirar o país da UE
a 31 de Outubro

[email protected]

MUNDO

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