Público - 05.10.2019

(nextflipdebug5) #1
Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019 • 35

CULTURA


Cinema


Sérgio C. Andrade


Em causa estão os direitos


reclamados pela sua


produtora, a Alfama Films,


sobre O Homem Que Matou


D. Quixote, de Terry Gilliam


[email protected]


O Tribunal de Grande Instância de
Paris negou a Paulo Branco e à sua
Alfama Films o pedido de interdição
de exploração do Ælme O Homem Que
Matou D. Quixote, de Terry Gilliam, e
condenou o produtor português a
indemnizar em 20 mil euros cada
uma das três empresas visadas pela
queixa: a Kinology, a Star Invest Films
France e a Ocean Films Distribution
Int, que produziram o Ælme.
Reagindo à decisão, Pandora da
Cunha Telles, da Ukbar Filmes, par-
ceira portuguesa da produção, veio
sublinhar que o tribunal francês não
reconhece a Paulo Branco “a qualida-
de de produtor do Ælme, nem de
mandatário de vendas internacio-
nais”. Já Paulo Branco considera que
a sentença não põe “em causa, de
maneira nenhuma, os direitos que a
Alfama Films detém sobre os direitos
de realização de Terry Gilliam e os
direitos de argumento”. Segundo o
produtor, o tribunal “apenas decidiu
que as indemnizações deverão ser
exigidas directamente a Terry Gilliam
e a quem ilegalmente cedeu os direi-
tos do argumento”, processos que
estão ainda em curso, acrescentou
em comunicado, anunciando que vai
recorrer da decisão. O produtor tem
outro pedido de indemnização a cor-
rer num tribunal inglês, cujo veredic-
to deverá sair em Fevereiro.
A disputa dura há já mais de dois
anos e surgiu após a ruptura entre o
realizador e o produtor, que em 2016
assinaram um contrato para a produ-
ção de O Homem Que Matou D. Quixo-
te. Em Portugal, o Tribunal de Pro-
priedade Intelectual decidiu que
Branco e a sua distribuidora Leopar-
do Filmes não têm direitos sobre o
Ælme, que se estreou em 2018, no Fes-
tival de Cannes. Sobre a sua distribui-
ção em Portugal, onde ainda não teve
estreia, Pandora da Cunha Telles dis-
se à agência Lusa que “não há nada
que a impeça” e que a decisão está
nas mãos da distribuidora Nos.


Tribunal


francês não


deu razão a


Paulo Branco
Breves


Artes

Património

Parliament Devolved,


de Banksy, rendeu


11 milhões de euros


PJ apreende cartas


régias desviadas


da Câmara de Beja


O óleo Parliament Devolved,
em que Banksy povoou a
Câmara dos Comuns com
chimpanzés, foi arrematado
anteontem, num leilão da
Sotheby’s em Londres, pelo
valor recorde de 9,8 milhões
de libras (11 milhões de euros).
O preço superou largamente a
base de licitação, fixada entre
1,5 milhões e dois milhões de
libras. Keep It Spotless, que a
Sotheby’s de Nova Iorque
vendeu em 2008 por 1,87
milhões de dólares, era até
agora a obra do artista que
atingira um preço mais alto na
praça. Há um ano, Rapariga
com balão vermelho, um dos
seus trabalhos mais icónicos,
autodestruiu-se no final do
leilão em que foi vendida por
1,2 milhões de dólares.

A Polícia Judiciária (PJ)
apreendeu um códice factício
constituído por 165
documentos manuscritos
entre os anos 1623 e 1806,
entre os quais cartas originais
enviadas em nome do Rei, do
príncipe, do infante e da
duquesa de Mântua a figuras
ilustres da cidade. A operação
foi desencadeada após o
município de Beja, onde este
espólio estava depositado, ter
levantado dúvidas sobre o seu
eventual descaminho. O
coordenador da Directoria do
Sul da PJ explicou ao PÚBLICO
que os documentos estavam
“na posse de descendentes de
José Maria Ançã”, sacerdote
que ocupou vários cargos
religiosos e políticos em Beja,
e que aqueles tentaram
vender o códice à Torre do
Tombo em Janeiro deste ano.

RUI GAUDÊNCIO

O novo Museu dos Coches foi inaugurado em 2015

Início da tarde no Museu Nacional
dos Coches, em Lisboa. Os turistas
atravessam a praça em casais ou em
grupos saídos dos autocarros. Passam
indiferentes às duas charretes prontas
a dar um passeio por Belém que ali
esperam clientes, aproveitando as
sombras do edifício desenhado por
Paulo Mendes da Rocha e Ricardo Bak
Gordon. Na bilheteira não há Ælas
mas, lá dentro, as duas grandes naves
da exposição permanente têm muita
gente. Ouvem-se guias turísticos a
falar alemão e francês. Acabado de
entrar, um americano tenta usar, em
vão, a aplicação que dá acesso a uma
visita guiada ao museu. “Nem sempre
o wi-fi funciona”, explica um dos vigi-
lantes. “De manhã estava bom.”
No piso térreo, mesmo à entrada,
anuncia-se esta app junto aos dois
enormes elevadores que agora estão
parados. “Um está avariado desde
Maio e o outro desde Junho”, informa
a funcionária. Para aceder à exposi-
ção permanente no piso 1 é preciso
subir as escadas que só deviam ser
usadas em emergências. “É uma
situação insustentável, que estamos
a tentar resolver com os arquitectos”,
diz ao PÚBLICO a directora do museu,
Silvana Bessone, reconhecendo que
“o Verão foi muito difícil” e que os
operadores turísticos têm vindo a
queixar-se. “A Direcção-Geral do
Património Cultural [DGPC] está a
acompanhar a situação e está tam-
bém a resolver o problema da biblio-
teca, onde ainda não temos Internet,
absolutamente necessária para os
investigadores externos.”
Sempre que chega um visitante
com mobilidade reduzida, é necessá-
rio que um segurança o reencaminhe
para um elevador de serviço, onde só
cabe uma cadeira de rodas de cada
vez, explica Bessone. “Os operadores
turísticos vêm fazer a visita com o
tempo contado. O nosso museu é
muito grande e todas estas coisas
atrasam. Além disso, esta solução de
recurso tem outro inconveniente —
põe quem vem de fora em áreas de

O velho Museu dos Coches


tem vidros partidos e o novo


está sem elevadores principais


acesso reservado, junto ao corredor
das reservas, onde só deviam entrar
funcionários da casa.”
O museu tem outros dois elevado-
res públicos com ligação ao piso zero,
muito mais pequenos (com uma lota-
ção de 13 pessoas, enquanto nos prin-
cipais é de 70), mas não dão acesso
directo ao primeiro andar. E mesmo
assim só um deles está a funcionar
— o outro também está avariado.
Ambos levam ao piso 2, onde Æcam
os serviços administrativos e o espaço
que deveria ser um restaurante (o
museu foi inaugurado há quatro anos
mas não foi ainda lançado o concurso
para a concessão), hoje usado para
exposições temporárias. Quem quiser
chegar à exposição permanente a
partir do segundo andar terá de aí
procurar outro elevador que não des-
ce até ao piso zero, situado na zona
dos passadiços que permitem ver a
colecção de cima, como se fosse um
pássaro ou um drone. “Para quem
tem diÆculdade em andar, os dois
elevadores Æcam longe um do outro”,
reconhece a directora. E esta entrada
só está aberta ao público quando há
exposições temporárias.

Manutenção permanente
Aos problemas no novo edifício, que
custou mais de 40 milhões de euros
e tem sido alvo de controvérsia desde
o seu nascimento, somam-se os do
antigo picadeiro que durante cem
anos acolheu esta singular colecção
nacional, uma das melhores do mun-
do no seu género.
Sobe-se a Calçada da Ajuda e, logo
à primeira vista, nota-se que as jane-

las do velho museu, ainda hoje visitá-
vel, precisam de uma intervenção. Há
madeiras apodrecidas, tinta a descas-
car-se e vidros em falta, partidos ou
remendados com Æta-cola. Silvana
Bessone informou a DGPC em 2017
de que era preciso proceder à substi-
tuição de vidros e de algumas janelas,
trabalhos orçados em cerca de 40 mil
euros, mas até agora nada foi feito.
“Sabemos que os recursos para os
museus são muito escassos e que em
2000 e em 2016/17 tivemos obras na
cobertura, mas precisamos mesmo
de tratar das janelas. Precisamos,
aliás, de uma equipa de manutenção
em permanência para trabalhar nos
dois edifícios.”
As obras na cobertura puseram Æm
às inÆltrações que deixaram “com
fendas” os três painéis ovalados do
tecto da galeria principal e “daniÆca-
das” algumas das pinturas sobre tela
do tecto da galeria superior, todos da
autoria de José Malhoa e de António
da Conceição e Silva. “Também é
muito importante restaurar estas pin-
turas”, diz Silvana Bessone, que gos-
taria de instalar no picadeiro uma
grande exposição permanente dedi-
cada ao cavalo e à arte equestre, para
a qual anda à procura de mecenas.
Com 320 mil visitantes em 2018, o
Museu dos Coches continua a ser o
mais visitado do universo da DGPC.
Está, no entanto, ainda muito longe
do milhão/ano que chegou a ser colo-
cado como meta. O PÚBLICO tentou
ao longo de todo o dia obter uma
reacção da DGPC, sem sucesso.

Directora pediu verba para
substituir janelas em 2017.
Visitantes com mobilidade
reduzida têm de usar
elevadores de serviço

Património
Lucinda Canelas

[email protected]
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