Sábado, 5 de Outubro de 2019
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O RESPEITINHO NÃO É BONITO
Negacionismo, política e alterações climáticas
H
á assuntos demasiado
técnicos sobre os quais faço
um esforço sincero para
guardar silêncio. Se me
perguntarem o que é que eu
acho da instalação da
ferrovia de bitola europeia em
Portugal, da necessidade de uma
terceira ponte sobre o Tejo ou da
melhor localização para o novo
aeroporto de Lisboa, a minha
resposta tende a ser um encolher
de ombros: não faço a menor ideia.
São questões complexas e muito
técnicas, há bons especialistas para
reÇectir sobre tais temas, e eu não
sou um deles.
Até muito recentemente, foi essa
a minha postura em relação às
alterações climáticas. Não sou
físico, não sou climatologista, não
percebo o suÆciente do assunto,
ninguém vai encontrar um texto
meu sobre aquecimento global e
limito-me a acompanhar o debate
público acerca do tema,
partilhando as preocupações de
qualquer pessoa civilizada: espero
João Miguel Tavares
que se polua menos, que se recicle
mais, que se proteja ao máximo o
ambiente onde vivemos, que se
descarbonize aos poucos a
economia, que se contenha o
consumo absurdo de plástico, que
se aposte nos transportes públicos,
que os países que assinam
protocolos internacionais os
cumpram. Até acho que devemos
procurar comer menos carnes
vermelhas, vejam só.
No entanto, por causa de um
texto que escrevi a criticar um
discurso radical de Greta Thunberg
e a transformação do
ambientalismo numa religião que
começa a ter demasiados fanáticos,
já levei com o carimbo de “amigo
de Donald Trump e Jair Bolsonaro”
na testa, e pouco faltará para me
começarem a chamar negacionista.
E se eu não tenho muito a dizer
sobre alterações climáticas,
esperando que os cientistas façam
o seu trabalho e testem em
liberdade as suas teorias e
modelos, já tenho alguma coisa a
dizer sobre a palavra
“negacionista” aplicada a este
tema, e o fanatismo crescente que
insiste em transformar hipóteses
cientíÆcas, por mais sólidas que
sejam, em verdades absolutas —
cometendo assim um duplo erro:
atacar de forma desmiolada o
nosso modo de vida e a economia
de mercado; e adoptar um
antropocentrismo velho como o
mundo, que coloca a Terra a girar à
volta do Homem, como se nós
dominássemos tudo aquilo que nos
rodeia, e como se um modelo
climático pudesse ser confundido
com a Palavra de Deus.
Dizer isto, nos dias que correm,
parece que já é ser “negacionista”,
e esta simples expressão aplicada a
modelos que tentam prever o
futuro (e não descrever o presente
ou Æxar o passado) é um atentado
ao método cientíÆco, que nunca
evoluiu mandando calar vozes
discordantes, mas sim debatendo
abertamente — e cientiÆcamente —
as várias teorias em confronto.
“Negacionistas” são aqueles que
dizem que o Holocausto nunca
existiu, apesar da abundância de
provas. “Negacionistas” até podem
ser aqueles que dizem que a
temperatura na Terra não
aumentou nos últimos 100 anos,
porque não faltam evidências
disso. “Negacionistas” não podem
ser aqueles que são cépticos
quanto às consequências de um
aumento de dois graus na
temperatura terrestre ou quanto à
percentagem da responsabilidade
do Homem nesse aquecimento,
face a outros efeitos que o estado
actual da ciência ainda não permite
dominar, da actividade solar às
oscilações oceânicas.
Esses cientistas podem até estar
profundamente errados — mas não
são “negacionistas” coisíssima
nenhuma, nem as suas vozes
devem ser silenciadas. No debate
sobre as alterações climáticas, a
ciência está a ser esmagada pela
política. É por isso que escrevo este
texto. De política já percebo
alguma coisa.
NELSON GARRIDO
No debate sobre as
alterações climáticas,
a ciência está a ser
esmagada pela política.
É por isso que escrevo
este texto. De política
já percebo alguma coisa
Entrevista
Alimentação
“equilibrada
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