Público - 05.10.2019

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6 • Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


As cartas destinadas a esta secção
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CARTAS AO DIRECTOR


Freitas de Amaral


Militante do PCP de Outubro de
1975 a Fevereiro de 1986, data em
que me desÆliei desse partido na
área sindical e posteriormente na
área técnica por ocasião da eleição
para Presidente da República de
Mário Soares, recebi com profunda
tristeza a notícia do falecimento
dessa última personalidade da
“democracia cristã à portuguesa”,
que juntamente com Adriano
Moreira constituía o último bastião
do centro-direita que merecia um
grande respeito.
Adversário da liderança do
professor Freitas de Amaral como
militante de base por ocasião do
Governo AD em 1980-1982 e depois
nas eleições presidenciais que o
opuseram a Salgado Zenha e Mário
Soares, via sempre com admiração
o tom de moderação dos seus
argumentos, embora deles
discordasse. Só tive oportunidade

de me encontrar com ele uma vez
na Cordoaria Nacional em 2010,
quando exercia funções de ministro
dos Negócios Estrangeiros do
Governo Sócrates. De Freitas do
Amaral uma palavra de apreço
ainda sobre a sua faceta de escritor,
que eu pude apreciar parcialmente
com a biograÆa do rei D. Afonso
Henriques e a peça sobre Viriato.
José Manuel Graça Dias, Algés

João Miguel Tavares


J. M. Tavares em dois artigos
seguidos dedica um a atacar ad
hominem Carlos César e A. Santos
Silva com base em algo que
equivale a uma teoria da
conspiração. Eles estariam
conspirando conta a democracia
liberal. O artigo de quinta-feira vem
com um cenário de um futuro
ataque do PS ao Ministério Público
para alegadamente se vingar. Com
base no “diz que disse” do Expresso

sobre o que pensam os
responsáveis do PS. Não por acaso
nenhum responsável do PS se
pronunciou nesse mesmo sentido
invocado pelo Expresso, antes pelo
contrário. É isto a qualidade
jornalística e de opinião a que
temos direito? O orador do 10 de
Junho não consegue ir acima do
diabo? Não há ângulos outros bem
menos conspirativos para abordar
a actualidade política e no caso o
PS? Ou é uma urgência e mesmo
imperativo nacional calar os ditos
do PS e impedir a dita retaliação
contra o MP que J.M. Tavares
anuncia?
José E. Freitas, Bruxelas

Braima Dabó


Enquanto se vão veriÆcando
demasiado casos de falta de
humanismo e solidariedade para
com o seu semelhante, ainda há
excepções, como a do atleta

Braima Dabó, natural da Guiné-
-Bissau, aluno do Politécnico de
Bragança e atleta do modesto Mais
Atlético Clube, que numa corrida
de 5000 metros inserida nos
Mundiais de Atletismo, no Qatar,
apercebendo-se que um seu colega
de corrida se encontrava num
verdadeiro estado de exaustão,
voltou para trás, abdicando da sua
classiÆcação e quase pegando nele
ao colo com grande sacrifício
físico, ambos cortaram a meta,
dando-lhe a primazia na chegada.
Mais tarde em entrevista
televisiva, viu-se a modéstia do
“herói” e o agradecimento sincero
do beneÆciário. Este simples caso
de solidariedade, camaradagem e
humanismo devia servir de
exemplo àqueles/as que se
esquecem de quem está ao seu lado,
salvaguardando os/as que, sem
alarde, praticam o bem.
Carlos Leal, Lisboa

Um óleo do artista de quem se tem algumas
suspeitas sobre a identidade mas de quem
não se conhece o rosto estabeleceu um
recorde para obras do autor, ao ser vendido num
leilão em Londres por 11 milhões de euros, muito
acima da base de licitação, superando largamente
o anterior recorde (1,7 milhões de euros). O óleo
chama-se Parliament Devolved, em que Banksy
povoou a Câmara dos Comuns com chimpanzés.
(Pág. 35) J.J.M.

À força de tanto Donald Trump ter envolvido
Joe Biden em suspeitas de corrupção na
Ucrânia, exigindo que Kiev as investigue — o
que está no centro da abertura do processo de
impeachment ao Presidente dos EUA —, as
sondagens para as primárias do Partido Democrata
revelam uma subida em flecha de uma concorrente
de Biden: a senadora Elizabeth Warren, que parece
ser quem mais está a beneficiar de todo este
Banksy Elizabeth Warren processo. (Págs. 28/29). C.B.

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Em defesa do período de reflexão


T

ornou-se um ritual questionar o
período de reÇexão eleitoral
neste tempo em que as redes
sociais e a digitalização põem
tudo, todos e todos os lugares
em contacto numa questão de
segundos. O período de reÇexão é
um anacronismo, dizem alguns — foi
pensado num tempo que já não
existe. Revela um sentimento
paternal do Estado sobre a
capacidade de os cidadãos
determinarem a sua vontade política,
pondo a Comissão Nacional de

Eleições a desempenhar o papel de
polícia para evitar que os pobres
eleitores possam ser fustigados com
propaganda até à porta das urnas,
acreditam outros. É verdade que
todos estes argumentos são válidos.
Mas o espírito da lei contempla
princípios cuja bondade é
indiscutível.
Em primeiro lugar, vale a pena
avaliar se o esclarecimento dos
leitores precisa de mais um dia para
ser integralmente cumprido. Pode
ser que, para alguns, uma dose extra
de propaganda eleitoral horas antes
de votar possa ser determinante.
Para a maioria dos cidadãos, porém,
esse dia é inútil sob esse ponto de
vista: a maioria dos cidadãos terá
seguramente Æxado a sua vontade de
votar num partido, em outro ou,
simplesmente decidido abster-se ou

votar em branco. Quer isto dizer que,
sob este ponto de vista, a utilização
do dia anterior às eleições no período
normal das campanhas serviria
apenas como repetição da aula dada.
Já para a generalidade das pessoas
haver um dia sem arruadas,
comícios, horas de directos nas
televisões ou páginas de papel ou na
Internet carregadas de informação
ou de propaganda eleitoral só pode
ser uma boa notícia. Não que o
silêncio sirva para reforçar
convicções políticas ou decisões
partidárias. Mas serve como
momento solene para antecipar o
grande dia da democracia. Serve
como um momento de transição
entre o natural ruído da campanha e
o acto eleitoral. E, sim, serve também
para que os cidadãos possam reÇectir
por si ou em conversas com os seus

mais próximos o alcance das suas
decisões sem terem de ser
bombardeados com a tensão, a
urgência ou até por vezes o
desespero ansioso que assalta as
campanhas na sua recta Ænal.
Se por acaso um dia o período de
reÇexão acabar, as eleições
continuarão a fazer-se livres como se
fazem hoje. Mas embirrar com a sua
existência só faz mesmo sentido por
ser ineÆcaz na era do Facebook — a
CNE produziu uma deliberação em
Abril sobre a reÇexão nesta rede
social que não passa de um labirinto
de boas vontades. Quanto ao resto,
depois de duas semanas frenéticas,
um dia sem picardias, sem
promessas e sem barulho e lixo nas
ruas sabe muito bem.

Manuel Carvalho
Editorial
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