Público - 05.10.2019

(nextflipdebug5) #1
Sábado, 5 de Outubro de 2019 | FUGAS | 7

SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO.

chapuri e o khinkali. O primeiro é um
delicioso pão em forma de barco,
recheado de queijo sulguni e encima-
do por um ovo estrelado e o segundo
é uma espécie de tortellini tamanho
XXL apetrechado de carne de vaca ou
porco temperada com cebolas,
pimenta e especiarias variadas. A
meio da refeição, apareceram dois
rapazes e uma rapariga para dança-
rem para os clientes. As danças tradi-
cionais georgianas são às centenas e
mais antigas que Cristo. Tão ances-
trais, misteriosas e únicas que algu-
mas delas têm o selo da UNESCO para
património cultural.
Embalados pela experiência gastro-
nómica, visitámos o maior mercado
de Tbilissi, o Dezerter Bazaar (Merca-
do dos Desertores), assim baptizado
em 1920 durante uma das guerras
entre a Rússia e a Geórgia, quando os
soldados descarregavam as armas
para ir às compras. As bancas esten-
dem-se ao longo de dois quilómetros.
Reinam as beringelas, os pepinos e os
tomates, mas há também volumosos
bidões de chacha (vodka georgiana)
e de vinho caseiro, bem como caixo-
tes repletos de pistachos, nozes e
cajus. A carne é vendida ao ar livre e
cada um apresenta o que tem, desde
miudezas a cabeças de porco. Abun-
dam senhoras a vender o que aparen-
tam ser chouriços. Mas os enchidos


rubros são aÆnal doces, as churchkhe-
las: “São o Snickers da Geórgia”, diz
uma das feirantes. Uma combinação
genial de miolo de uva e noz, seca ao
sol. Para velharias, artesanato e recor-
dações, existe o Mercado de Dry Brid-
ge – aí encontrámos os tradicionais
chifres usados para beber vodka e
cantis com o rosto de Estaline.
A comida é uma das coisas intocá-
veis na Geórgia. A outra é a religião. A
corte georgiana foi a segunda – atrás
da sua vizinha Arménia – a reconhecer
o cristianismo como religião oÆcial,
no século IV. Não é difícil compreen-
der o fervor religioso deste povo; des-
de sempre rodeados por vizinhos
islâmicos de instinto invasor, os geor-
gianos refugiaram-se no cristianismo
ortodoxo como factor identitário. Pas-
sámos a entender melhor a razão de
velhos e crianças, homens e mulhe-
res, se benzerem sempre diante das
igrejas. Contudo, Tbilissi distingue-se
pelo seu carácter ecuménico. As igre-
jas milenares partilham o centro da
cidade com a Grande Sinagoga e com
a Mesquita de Jumah, um dos poucos
templos muçulmanos em que xiitas e
sunitas rezam lado a lado.
As montras da cultura, como a Ópe-
ra, o Museu Nacional Georgiano e o
Museu de Arte, estão maioritariamen-
te em redor da Avenida Rustaveli, um
eixo nevrálgico, que ostenta o c
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