16 | FUGAS | Sábado, 5 de Outubro de 2019
para uma palavra – o corpo, atraves-
sado pelas setas dos cristãos, caiu
aos pés do amante. Consta que, nas
noites mais bonitas de lua cheia,
ainda se podem ver os namorados
no alto do penhasco, abraçados e
sussurrando palavras de amor.
Cenário de aventuras
As esplanadas estão cheias e o ruído
das vozes, misturado com os dos
copos que se erguem em brindes,
abafa qualquer murmúrio do Gua-
dalporcún. Ao Æm de algum tempo,
encontro um espaço para me sentar,
mesmo ao lado do rio e naquela que
é uma das ruas que mais evoca a
visão que tinha de Setenil de las
Bodegas. A Calle Cuevas del Sol é,
sem dúvida, a mais turística da vila,
com os seus numerosos bares e res-
taurantes, onde a vida fervilha até às
primeiras horas da madrugada,
numa atmosfera pitoresca, tão fami-
liar, tão apelativa, com as suas cons-
truções sob aqueles pedregulhos
nus, por onde a luz entra, aquecen-
Setenil de las Bodegas
do as fachadas.
Do outro lado do rio, encontro a
irmã da Calle Cuevas del Sol, a Cue-
vas de la Sombra, com um impres-
sionante tecto de pedra de calcário
formando um túnel, com as suas
residências e casas de turismo de
local, mais os seus bares e restauran-
tes. A partir daí, com mais momen-
tos de silêncio e de solidão, parto à
descoberta de Setenil de las Bode-
gas, começando por voltar à outra
margem do Guadalporcún para, não
sem algum esforço, vencer a escada-
ria (quase uma centena de escadas)
moldada na pedra que conduz à
ermida de Nuestra Señora del Car-
men, num dos extremos do bairro
de Cerrillo, com um miradouro com
panorâmicas soberbas sobre a vila.
A história conta-nos que foi preci-
samente neste local que se estabele-
ceram os primeiros exércitos de
cristãos para tentar a conquista da
alcáçova, adiada durante mais de 70
anos. Septem Nihil – há quem jure
que a toponímia da vila teve a sua
origem na Idade Média e que resulta
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